28 de setembro de 2001
9h10A escola começou faz pouco e já se respira o clima de greves, passeatas e
assembléias, sempre com os mesmos argumentos. Posso imaginar os rostos vermelhos
do pessoal que gosta de se reunir sem fazer nada em confronto com o pessoal que
prefere partir para a ação. Vai começar daqui a algumas horas a primeira assembléia
desse ano e o tema vai ser a globalização. Nesse momento estou numa hora de aula
extra, atrás de mim estão umas colegas que falam do visitante que vai dirigir a
assembléia hoje de manhã. Dizem que é uma figura interessante, com uma carinha de
anjo e uma inteligência aguda, e riem quando uma delas diz que a inteligência aguda lhe
interessa muito pouco, interessa bem mais o rosto de anjo. Essas que estão falando são
as mesmas que alguns meses atrás falaram mal de mim por aí, porque eu tinha dado
para um cara que nem era meu namorado: eu tinha confiado numa delas. Contei tudo
sobre o Daniele e eu, e ela me abraçou com um "sinto muito" claramente falso.
- Por quê, você não daria para um cara assim? pergunta a mesma de antes para
uma outra.
- Não, eu o violentaria até contra a vontade dele - responde a outra rindo.
- E você, Melissa? - pergunta-me ela. - O que você faria?
Eu me virei e disse que não o conheço e que não tenho vontade de fazer nada.
Posso ouvi-las rindo, e as risadas delas se confundem com o som metálico e estridente
do sinal que indica o fim da aula.
16h35
No palco montado para a assembléia, não prestei atenção nas roletas de metrô
caídas nem nos McDonald's incendiados, embora tenha sido escolhida para fazer a ata
do encontro. Na longa mesa, eu fiquei no centro, a meu lado os visitantes das diversas
facções. O carinha do rosto angelical estava sentado ao meu lado, na boca uma caneta
que ele mordiscava de forma indecente. E, enquanto o direitóide convicto brigava com o
esquerdóide obstinado, meus olhos observavam a esferográfica azul encaixada entre os
dentes dele.
- Põe o meu nome na lista das inscrições - disse ele a certa altura, com o rosto
voltado para as próprias anotações.
- E qual é o seu nome?
- Roberto - disse, dessa vez olhando para mim, surpreso que eu não soubesse seu
nome.
Levantou-se para falar e seu discurso era forte e envolvente. Fiquei observando
enquanto ele se movia com desenvoltura com o microfone e a caneta na mão: a platéia
atentíssima sorria com suas tiradas irônicas que conseguiam atingir o ponto certo. Ele
estuda Direito, pensei, é normal que tenha certas habilidades de oratória; notava que de
vez em quando ele se virava para me olhar e eu, um pouco maliciosamente, mas de
maneira natural, abri a camisa descobrindo o colo até onde os seios brancos se
encontravam. Talvez ele tenha percebido o meu gesto e, de fato, começou a se virar com
maior freqüência e, com um jeito meio tímido, meio curioso, me lançava uns olhares,
pelo menos foi o que me pareceu. Quando acabou o discurso, ele se sentou e recolocou
a caneta na boca, não dando a mínima para os aplausos que lhe dirigiam. Em seguida,
virou-se para mim, que nesse meio tempo tinha recomeçado a anotar, e disse:
- Não me lembro do seu nome.
Fiquei com vontade de brincar:
- Eu ainda não te disse respondi.
Ele mexeu a cabeça para cima de leve e disse:
- Ah, é!
Vi que ele recomeçava a fazer suas anotações, enquanto eu meio que sorria,
contente ao ver que ele estava esperando que eu dissesse meu nome.
- E você não quer me dizer? - perguntou examinando atentamente o meu rosto.
Eu sorri inocentemente:
- Melissa - falei.
Hum... o seu nome vem das abelhas. Você gosta de mel?
- Doce demais respondi -, prefiro os sabores mais fortes.
Ele sacudiu a cabeça, sorriu e continuamos a escrever cada um por sua própria
conta. Depois de um tempo, ele se levantou para fumar e eu pude vê-lo rindo e
gesticulando animadamente com um outro cara, ele também muito bonito, e me olhando
de vez em quando, sorrindo com o cigarro mordido na boca. De longe, ele parecia mais
magro e alto e seus cabelos pareciam macios e perfumados, cachinhos cor de bronze
que caíam suavemente no rosto. Ele estava apoiado no poste de luz transferindo todo o
peso para o quadril, e parecia que o estava puxando com a mão enfiada no bolso, uma
camisa xadrez verde balançava para fora da calça desarrumada e os óculos redondos
completavam o ar de intelectual. O amigo dele, que eu já tinha visto várias vezes fora da
escola distribuindo panfletos, está sempre com uma cigarrilha na boca, acesa ou não.
Quando a assembléia acabou, fiquei recolhendo as folhas espalhadas pela mesa,
que precisava juntar às minhas anotações. Roberto se aproximou e apertou a minha
mão, cumprimentando-me com um largo sorriso.
- Até a próxima, companheira!
Comecei a rir e confessei que ser chamada de companheira me agrada, é
divertido.
- Vamos, vamos! O que estão fazendo aí de conversa fiada? Não viram que a
assembléia já acabou? disse o vice-diretor batendo as mãos.
Hoje estou feliz, tive esse belo encontro e espero que não acabe assim. Sabe,
diário, eu insisto muito quando quero conseguir alguma coisa. Agora quero o telefone
dele e tenho certeza de que vou conseguir. Depois do telefone, quero aquilo que você já
sabe, ou seja, ocupar um espaço no meio dos pensamentos dele. Mas antes você sabe
muito bem o que eu tenho que dar...10 de outubro de 2001
17h15Hoje o dia está úmido e triste, o céu cinza, e o sol virou uma mancha pálida e
desfocada. De manhã choveu pouco e suavemente, mas agora falta um nada para que os
raios se soltem de suas correntes. Mas não me importa o tempo, estou felicíssima.
Na saída da escola, os urubus de sempre, que querem vender algum livro ou
convencer com algum panfleto, indiferentes até à chuva. Coberto pelo impermeável
verde e com a cigarrilha na boca, o amigo de Roberto distribuía folhetos vermelhos com
um sorriso estampado no rosto. Quando se aproximou para me entregar um, fiquei
olhando paralisada, não sabia o que fazer, como me comportar. Sussurrei um tímido
obrigada e continuei a andar bem devagarinho, pensando que uma ocasião como essa
não iria me acontecer de novo tão cedo. Escrevi meu telefone na folha e, dando meia-
volta, entreguei para ele.
- O que é isso? Está devolvendo em vez de jogar fora como fazem os outros?
perguntou sorridente.
- Não, quero que entregue pro Roberto - disse.
Espantado, ele exclamou:
- Mas o Roberto recebe centenas desses folhetos. Mordi os lábios e disse:
- Tem uma coisa escrita nele que o Roberto vai gostar de ver...
- Ah, entendi... - disse ele ainda mais surpreso. - Pode ficar tranqüila, quando
encontrar com ele, eu entrego.
- Muito obrigada! - falei com vontade de dar um beijo estalado em suas
bochechas.
Estava indo embora, quando ouvi meu nome. Virei e lá estava ele, que voltava
correndo.
- De qualquer forma, eu me chamo Pino, prazer. Você é a Melissa, não é? -
perguntou ele ofegante.
- É, Melissa... pelo visto, você não demorou muito para ler atrás da folha.
- Bem, o que se pode fazer... - disse ele sorrindo - a curiosidade é própria dos
inteligentes. Você é curiosa?
Fechei os olhos e falei:
- Muitíssimo.
- Está vendo? Então é inteligente também.
Alimentado o meu ego e cheia de felicidade, me despedi e fui em direção à
pracinha, ponto de encontro bem na frente da escola, meio deserta por conta do tempo ruim. Fiz um pouco de hora para pegar o scooter, o trânsito na hora do rush é horrível
até para quem tem um. Alguns minutos depois, tocou o celular.
- Alô?
- É... oi, é o Roberto.
- Oooi, tudo bem?
- Foi uma surpresa, sabe?
- Eu gosto de ousar. Você poderia não ligar, eu corria o risco de acabar com a
porta na cara.
- Você fez muito bem. Eu ia mesmo te pedir um dia desses. Só que, sabe como
é... minha namorada estuda no mesmo colégio que você...
- Ah, você tem namorada...
- Tenho, mas... não tem importância.
- Eu também não me importo.
- E aí, por que me procurou?
- E você, por que me procurou?
- Bom, eu perguntei primeiro.
- Porque quero te conhecer melhor e passar um tempo com você...
Silêncio.
- Agora é a sua vez.
- Idem. Mas a condição você já sabe, eu já tenho namorada.
- Eu acredito muito pouco nos compromissos, eles deixam de existir quando
deixamos de acreditar neles.
- Tudo bem pra você a gente se encontrar amanhã de manhã?
- Não, amanhã não. Tenho aula. Sexta-feira, que tem greve. Onde?
- Na frente do restaurante universitário às dez e meia.
Vou estar lá. Então, tchau, até sexta. Até sexta, um beijo.□□□□□□□□□□□□□□□□□□□□□□□□□□□□□
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100 Escovadas Antes de Ir Para a Cama
Roman pour AdolescentsPara Melissa, adolescente de 15 anos da pequena cidade italiana de Catânia, na Sicília, tudo começa com a sua primeira vez. É nesse momento que ela entende, ou tem a ilusão de entender, que os homens não estão interessados na essência de uma mulher...