Capítulo 8 ♡

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14 de outubro de 2001
17h30
Cheguei, como sempre, adiantadíssima, o tempo continuava igual ao de quatro
dias atrás, uma monotonia incrível.
Do restaurante vinha um cheiro de alho e, no lugar em que estava, eu podia ouvir
o barulho das cozinheiras com as panelas e fofocas de alguma colega. Alguns estudantes
passavam e olhavam pra mim piscando o olho, mas eu fingia que não via. Estava mais
atenta à conversa das cozinheiras que a meus pensamentos; estava tranqüila, nem um
pouco nervosa, me deixando levar pelo mundo exterior e não ligando muito para mim
mesma.
Ele chegou em seu carro amarelo, exageradamente encapotado, com uma
echarpe enorme que cobria metade do rosto e deixava de fora só os óculos.
- É para não ser reconhecido, sabe como é... minha namorada. Vamos pegar
umas ruas secundárias, demora, mas pelo menos não tem perigo - disse ele assim que eu
entrei.
Eu sentia a chuva bater mais forte nos vidros do carro, parecia que queria
arrebentá-los. O lugar para onde fomos era a casa de campo dele, nas encostas do Etna,
fora da cidade. Os ramos secos e escuros das árvores lascavam o céu nebuloso como
pequenas rachaduras, as andorinhas voavam com dificuldade através da chuva pesada,
ansiosas para chegar a um lugar mais quente. Até eu gostaria de levantar vôo para
chegar a um lugar mais quente.
Nenhuma ansiedade em mim: foi como sair de casa para começar um novo
trabalho, nada emocionante, aliás. Um trabalho obrigatório e cansativo.
- Abre o porta-luva, tem uns CDs.
Peguei alguns e escolhi Carlos Santana.
Falamos da escola, da universidade dele e depois de nós mesmos.
- Não quero que você me julgue mal - falei.
Você está brincando? Seria como pensar mal de mim mesmo... quer dizer, a
gente está, os dois, fazendo a mesma coisa, da mesma maneira. Na verdade, é até mais
vergonhoso para mim, que tenho namorada. Sabe, ela...
- Não dá pra você - interrompi com um sorriso.
- Exatamente - disse ele com o mesmo sorriso.
Ele entrou por uma estradinha malfeita e em seguida parou diante de um porrão
verde. Desceu do carro e abriu o portão; quando voltou, notei o rosto de Che Guevara
estampado em sua camiseta, completamente ensopado.
- Caralho! - exclamou ele. - Ainda estamos no outono e o tempo já está essa
droga! - Virou-se depois e perguntou: - Você não está nem um pouco emocionada?
Apertei os lábios franzindo o queixo, sacudi a cabeça e um tempinho depois
disse:
- Não, de jeito nenhum.
Para chegar à porta, cobri a cabeça com a bolsa e, correndo debaixo daquela
chuva, rimos muito, como dois idiotas.
A casa estava completamente escura; quando entrei, senti um frio gélido. Eu ia
tateando no breu, mas ele evidentemente estava mais habituado, conhecia todos os
cantinhos e andava com uma certa desenvoltura. Fiquei parada em um ponto onde
parecia que havia luz e vi um sofá onde coloquei minha bolsa.
Roberto chegou por trás, virou-me e me beijou com toda a sua língua. Me deu
um pouco de nojo aquele beijo, realmente, era completamente diferente do beijo de
Daniele. Ele passou toda a sua saliva para mim, deixando escorrer um pouco nos lábios.
Afastei-o gentilmente sem deixar que percebesse nada e me sequei com a palma da
mão. Ele pegou aquela mesma mão e conduziu-me para o quarto, sempre na mesma
escuridão e no mesmo frio.
- Não dá para acender a luz? - perguntei enquanto ele me beijava o pescoço.
- Não, eu prefiro assim.
Ele me deitou em cima da cama enorme, ajoelhou-se e tirou meus sapatos. Eu
não estava nem excitada, nem impassível. Tinha a impressão de estar fazendo tudo
aquilo só porque ele gostava.
Despiu-me como se eu fosse um manequim numa vitrine, como um vendedor
rápido e indiferente que despe o boneco, porém sem vestir de novo.
Quando viu as minhas meias altas, perguntou espantado:
- Ah, você usa essas meias que se seguram sozinhas?
- Sim, sempre - respondi.
- Mas você é uma cadelinha! - exclamou bem alto.
Fiquei envergonhada com aquele comentário fora de lugar, mas fiquei ainda
mais chocada com a mudança do comportamento dele, de um menino gentil e educado
para um homem rude e vulgar. Tinha os olhos acesos e famélicos, as mãos que
remexiam embaixo da camiseta, embaixo da cueca.
- Quer que eu fique com elas? - perguntei para fazer a vontade dele.
- Claro, deixa, fica mais cachorra.
Fiquei vermelha de novo, mas depois senti o meu fogo esquentar pouco a pouco
e a realidade ir se afastando gradualmente. A Paixão estava tomando as rédeas.
Saí da cama e percebi o chão incrivelmente frio debaixo dos meus pés. Esperava
que ele me possuísse e fizesse de mim o que bem entendesse.
- Me chupa, piranha! - sussurrou ele.
Não liguei para minha própria vergonha, expulsei-a imediatamente e fiz o que
ele tinha pedido. Senti o membro que ficava duro e grande e ele me pegou pelas axilas e
me puxou de volta para a cama.
Como uma boneca inerte, me colocou em cima dele e dirigiu a sua longa haste
para o meu sexo, ainda pouco aberto e muito pouco molhado.
- Quero que você sinta dor. Vai, grita, quero ouvir que eu estou te machucando.
De fato, machucava mesmo, sentia as paredes queimando e a dilatação
aconteceu contra a minha vontade.
Eu gritava e o quarto escuro girava a meu redor. A timidez tinha ido embora e no
lugar dela tinha só o desejo de que ele fosse meu.
"Se eu gritar", pensei, "ele vai ficar satisfeito, afinal foi o que pediu. Vou fazer
tudo o que ele me mandar fazer."
Eu gritava e sentia dor, nenhum fio de prazer me atravessava. Ele, ao contrário,
explodiu, sua voz se transformou e suas palavras se tornaram obscenas e vulgares.
Ele as jogava contra mim e elas me penetravam com uma violência que superava
até a sua penetração.
Em seguida, tudo voltou ao que era antes. Ele pegou os óculos de volta da
mesinha, jogou fora a camisinha segurando com um lenço de papel, se vestiu com toda
a calma, fez um carinho na minha cabeça e no carro falamos de Bin Laden e Bush como
se nada daquilo tivesse acontecido...
25 de outubro de 2001
Roberto me liga com freqüência, diz que ouvir minha voz o enche de alegria e
dá vontade de fazer amor. Essa última coisa ele diz baixinho, não quer que ouçam e
também tem um pouco de vergonha de admitir. Eu respondo que acontece a mesma
coisa comigo, que muitas vezes me toco pensando nele. Não é verdade, diário. Eu digo
isso só para o orgulho dele que, metido, sempre fala:
- Sei que sou um bom amante. As mulheres gostam muito-.
Ele é um anjo presunçoso, é irresistível. Sua imagem me perseguiu o dia inteiro,
mas penso nele mais como um cara gentil do que como amante apaixonado. Quando ele
se transforma, me faz rir, mas acho que sabe se manter em equilíbrio e ser várias
pessoas diferentes em momentos diversos. Ao contrário de mim, que sou sempre a
mesma, sempre igual. Minha paixão está em toda parte, assim como a minha malícia.
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