Capítulo 9 ♡

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1° de dezembro de 2001

Disse pra ele que depois de amanhã é meu aniversário e ele exclamou:
- Ótimo, então temos que festejar de maneira apropriada.
Sorri e disse:
- Roby, ontem nós já festejamos o suficiente. Não está satisfeito?
- Bem, não... eu disse que o dia do seu aniversário vai ser especial. Você
conhece o Pino, não conhece?
- Sim, claro - respondi.
- Gosta dele?
Com medo de responder alguma coisa que pudesse afastá-lo de mim, enrolei um
pouco, mas depois resolvi dizer a verdade:
- Sim, muito.
- Muito bem. Passo pra te pegar depois de amanhã, então.
- Certo... - desliguei o telefone curiosa com aquela sua estranha excitação.

3 de dezembro de 2001
4h30 da manhã

Meu 16°- aniversário. Quero parar agora, não seguir adiante. Aos 16 anos, sou
dona das minhas ações, mas também vítima do acaso e da casualidade.
Ao sair de casa, notei que no carro amarelo Roberto não estava sozinho. Vi o
cigarro escuro, incerto na penumbra, e logo entendi tudo.
- Você poderia ficar pelo menos no dia do seu aniversário - tinha dito minha mãe
antes de eu sair, mas não dei ouvidos, fechando devagar a porta de entrada e saindo sem
responder.
O anjo presunçoso me olhou sorridente e entrei no carro fingindo que não tinha
percebido que Pino estava no banco de trás.
- E aí? - perguntou Roberto. - Não vai dizer nada? - indicando com a cabeça o
banco de trás.
Eu me virei e vi Pino todo refestelado no banco, os olhos vermelhos e as pupilas
dilatadas. Sorri e perguntei:
- Você fumou maconha?
Ele fez que sim com a cabeça e Roberto falou:
- E bebeu também uma garrafa inteira de aguardente.
- Beleza! - falei. - Já deve estar bem calibrado.
As luzes da cidade refletiam-se nas janelas do carro, as lojas ainda estavam
abertas, os proprietários esperando ansiosos pelo Natal. Nas calçadas, casais e famílias
caminhavam sem saber que dentro do carro estava eu junto com dois homens que iam
me levar sei lá aonde.
Atravessamos a via Etna. Dava para ver o Duomo iluminado e cercado pelas
imponentes palmeiras das tamareiras. Embaixo dessa rua passa um rio num leito de
pedras vulcânicas. É silencioso, imperceptível. Como meus pensamentos, mudos e
dissimulados, sabiamente escondidos sob a couraça. Escorrem. Dilaceram.
De manhã, aqui perto, tem o mercado de peixe, sente-se o cheiro do mar vindo
das mãos dos pescadores que, com as unhas escurecidas pelas entranhas dos peixes,
tiram água de um balde e borrifam os corpos frios e cintilantes dos animais ainda vivos
e pulsantes. Nós estávamos indo justamente naquela direção, mas de noite a atmosfera
muda completamente. Ao sair do carro, notei que o cheiro de mar tinha se transformado
em cheiro de maconha e haxixe, jovens com piercings substituíam os velhos pescadores
bronzeados, mas a vida continuava a ser vida, sempre e de qualquer forma.
Quando desci do carro, passou do meu lado uma velha com cheiro ruim, vestida
de vermelho, com um gato nos braços, vermelho ele também, magro e cego de um olho.
*Ela entoava uma cantiga:
Passando pela via Etna
Que fausto de luzes
que multidão que tem.
Vi tantos meninos que de jeans
se exibem diante dos bares.
Como é bela Catania de noite,
sob os raios brilhantes da lua
a montanha que é rubra de fogo,
aos apaixonados seu ardor empresta. * Caminhava como um fantasma, lentamente, com os olhos esbugalhados, e fiquei
olhando para ela enquanto eles desciam do carro. O casaco da mulher roçou em mim e
senti um arrepio estranho; cruzamos os olhos por um breve instante, mas foi tão intenso
e tudo ali era tão eloqüente que tive medo, medo de verdade, louco. Seu olhar obliquo e
vivo, nem um pouco estúpido, dizia:
- Lá dentro você vai encontrar a morte. E já não poderá pegar de volta seu
coração, menina, você vai morrer, e alguém vai jogar terra na sua tumba. Nem uma flor,
nem uma sequer.
Fiquei toda arrepiada, aquela bruxa tinha me enfeitiçado. Mas não dei ouvidos,
sorri para os dois que vinham na minha direção, lindos e perigosos.
Pino mal se agüentava nas próprias pernas, ficou em silêncio o tempo todo.
Roberto e eu também não falamos como das outras vezes.
Roberto tirou um maço grande de chaves do bolso da calça e enfiou uma delas
na fechadura. O portão rangeu, ele teve que fazer força para abrir, mas finalmente se
fechou atrás de nós com grande barulho.
Eu não falava, não tinha nada para perguntar, sabia muito bem o que é que
estávamos nos preparando para fazer. Subimos pelas escadas gastas pelos anos, as
paredes do prédio pareciam tão frágeis que fiquei com medo que alguma coisa
deslizasse e nos matasse; as rachaduras, muitas, e as luzes brancas davam um aspecto
diáfano às paredes azuis. Paramos na frente de uma porta através da qual se ouvia
música.
- Mas tem alguém?
- Não, a gente esqueceu o rádio ligado antes de sair - respondeu Roberto.
Pino foi direto para o banheiro deixando a porta aberta; eu podia vê-lo, segurava
o membro molenga e enrugado. Roberto foi até o outro quarto para abaixar o volume e
eu fiquei no corredor observando curiosa todos os quartos que dava pra ver de lá.
O anjo presunçoso voltou sorrindo, me beijou na boca e, indicando um quarto,
falou:
- Espera lá na câmara dos desejos, a gente chega daqui a pouco.
- Ah, ah - ri. Câmara dos desejos... nome estranho para um quarto onde se trepa!
Entrei no quarto, bem pequeno. Na parede tinha centenas de fotos de modelos
nuas, recortes de revistas pornô, cartazes de gravuras eróticas japonesas e posições do
Kamasutra. Indefectível, no teto, a bandeira vermelha com o rosto do Che. "Mas onde é que vim parar", pensei, "numa espécie de museu do sexo... de quem
será essa casa.
Roberto chegou com um pano preto na mão. Virou-me de costas e vendou-me
com o lenço, me girou de volta para ele e exclamou rindo:
- Você parece a deusa Fortuna.
Ouvi o interruptor da luz dar o seu dique e depois não consegui ver mais nada.
Percebi passos e sussurros, depois duas mãos abaixaram meu jeans, tiraram o
suéter fechado e o sutiã. Fiquei de fio-dental, meias altas e botas de salto agulha. Podia
me ver vendada e nua, imaginava no meu rosto apenas os lábios que dentro em pouco
iriam saborear alguma coisa deles.
De repente as mãos aumentaram, e agora eram quatro. Era fácil distinguir
porque duas estavam em cima, apalpando meus seios, e duas embaixo, roçando meu
sexo através da calcinha e acariciando minha bunda. Não conseguia sentir o cheiro de
álcool de Pino, talvez ele tivesse escovado os dentes no banheiro. Enquanto eu me
imaginava cada vez mais dominada por aquelas mãos e começava a me excitar, senti,
atrás, o contato de um objeto gelado, um copo. As mãos continuavam a me tocar, mas o
copo esmagava a pele com mais força. Assustada, perguntei:
- Quem é, porra?
Uma risadinha no fundo e depois uma voz conhecida:
- O seu barman, tesouro. Não se preocupe, eu só estou trazendo um drinque pra
você.
Aproximou o copo da minha boca e engoli devagar um pouco de licor de uísque.
Lambi os lábios e uma outra boca me beijou com paixão, enquanto as mãos
continuavam a me acariciar e o barman me dava bebida. Um quarto homem estava me
beijando.
- Que bunda gostosa que você tem... - dizia uma voz desconhecida. - Macia,
branquinha, dura. Posso dar uma mordida?
Sorri com o pedido engraçado e respondi:
- Faz e pronto, não pergunta. Só quero saber uma coisa: quantos vocês são?
- Fique tranqüila, amor - disse uma voz nas minhas costas. E senti uma língua
lambendo as vértebras da minha espinha. Agora a imagem que eu tinha de mim era mais
sedutora: vendada, seminua, cinco homens que me lambem, me acariciam, me mordem
e excitam todo o meu corpo. Eu estava no centro das atenções e eles faziam comigo
tudo o que era permitido na câmara dos desejos. Não se ouvia uma voz, só suspiros e
carícias. E quando um dedo enfiou-se bem devagar no meu Segredo senti um repentino
calor e compreendi que a razão estava me abandonando. Eu me rendia ao toque das
mãos deles e sentia bem viva a curiosidade de saber quem eram, como eram. E se o
prazer fosse fruto das ações de um homem feio e babão? Naquele momento, eu não me
importava. Agora me envergonho, diário, mas sei que se lamentar depois de ter feito as
coisas não serve pra nada.
- Bom - disse finalmente Roberto -,falta o último componente.
- O quê? - perguntei.
- Não se preocupe. Pode tirar a venda, agora a gente vai jogar outro jogo.
Hesitei um segundo antes de tirar a venda, mas depois puxei-a lentamente pela
cabeça e vi que eu e Roberto estávamos sozinhos no quarto.
- Cadê os outros? - perguntei surpresa.
- Estão te esperando no outro quarto.
- Que se chama...? - perguntei divertida.
- Hum... sala da fumaça. Vamos apertar um baseado.
Eu queria, com todas as minhas forças, ir embora e deixá-los lá. Aquela pausa
me esfriou e a realidade se apresentou em toda a sua crueza. Mas eu não podia, agora
tinha começado e tinha que ir até o fim a qualquer custo. E fazia isso por eles.
Deu para entrever as silhuetas no quarto escuro, iluminado só por três velas
apoiadas no chão. Do pouco que podia notar, a forma dos rapazes presentes não era feia
e isso me consolou.
No quarto, havia uma mesa redonda com cadeiras ao redor. O anjo presunçoso
se sentou.
- Você também fuma maconha? - perguntou Pino.
- Não, obrigada, eu nunca fumo.
- Essa não... a partir dessa noite você também fuma - disse o barman, que notei
que tinha um belo físico torneado e alto, a pele escura e os cabelos crespos compridos
até os ombros.
- Não, desculpe decepcionar você, mas quando eu digo não, é não. Eu nunca
fumei, não vou fumar agora e não sei se algum dia fumarei. Acho inútil e, por isso
mesmo, deixo pra vocês.
- Pelo menos, não vai nos privar de uma bela vista - disse Roberto batendo a
mão na madeira da mesa. Senta aqui. Eu me sentei na mesa com as pernas abertas, os saltos das botas enfiados na
madeira e o sexo aberto à visão de todos. Roberto aproximou a cadeira e a vela acesa do
meu púbis para iluminá-lo. Apertava o baseado voltando os olhos primeiro para a erva
cheirosa e depois para o meu Segredo. Seus olhos brilhavam.
- Comece a se tocar - ordenou ele. Enfiei bem devagarinho um dedo na minha
fenda e ele desviou a atenção do fumo para se dedicar à visão do meu sexo.
Por trás chegou alguém que me beijou os ombros, me tomou entre os braços e
me encaixou em seu corpo, tentando entrar com sua haste dentro de mim. Eu estava
inerte. O olhar baixo e apagado. Vazio. Não quis olhar.
- Ei, não, não... a gente combinou antes... essa noite ela não vai ser penetrada por
ninguém - disse Pino.
O barman foi até o outro quarto e pegou de volta a venda negra que antes cobria
meus olhos. Vendaram-me de novo e uma mão me obrigou a me ajoelhar.
- Agora, Melissa, a gente vai passar o baseado ouvi a voz de Roberto -, e cada
vez que um de nós estiver com ele na mão vai estalar os dedos e tocar a sua cabeça,
assim você vai entender que ele chegou. Vai se aproximar do escolhido e vai chupar até
ele gozar. Cinco vezes, Melissa, cinco. De agora em diante, a gente não vai mais falar.
Bom trabalho.
E no meu palato cinco gostos diferentes se encontraram, cinco sabores de cinco
homens. Cada sabor com sua história, em cada poção a minha vergonha. Durante
aqueles momentos, tive a sensação e a ilusão de que o prazer não era só carnal, que era
beleza, alegria, liberdade. E estando nua no meio deles senti que pertencia a um outro
mundo, desconhecido. Mas quando saí por aquela porta, senti o coração despedaçado e
uma vergonha indescritível.
Depois me abandonei em cima da cama e senti meu corpo se entorpecendo. Na
escrivaninha do quarto estreito eu via o display do meu celular lampejando e sabia que
estavam me ligando de casa, já eram duas e meia da manhã. Nesse meio tempo alguém
entrou, estendeu-se em cima de mim e me comeu; um outro o seguiu e apontou o pênis
para a minha boca. E quando um terminava, o outro descarregava em cima de mim o
seu líquido esbranquiçado. E os outros também. Suspiros, lamentos e grunhidos. E
lágrimas silenciosas.
Voltei para casa cheia de esperma, com a maquiagem borrada, e minha mãe me
esperava dormindo no sofá.
- Estou aqui - falei. - Cheguei.
Ela estava muito sonolenta para me repreender pelo horário, portanto acenou
com a cabeça e foi para o seu quarto.
Entrei no banheiro, me olhei no espelho e não vi mais a imagem daquela que se examinava encantada alguns anos antes. Vi olhos tristes, que o lápis preto escorrendo
pelo rosto tornava ainda mais miseráveis. Vi uma boca que tinha sido violentada
diversas vezes naquela noite e que tinha perdido o seu frescor. Me sentia invadida,
emporcalhada por corpos estranhos.
Depois dei as cem escovadas nos cabelos, como faziam as princesas, segundo
dizia sempre a minha mãe, com a vagina que, ainda agora, quando escrevo no meio da
noite, cheira a sexo.

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