O ataque

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Dia 6 de março, ano 256 d.g

A escuridão densa da noite, iluminada pela enorme lua, cobria as árvores mortas e sem folhas dando um aspecto sombrio em suas sombras decadentes sobre a grama seca e sem vida.

Parado observando cada movimento feito por qualquer elemento, as folhas que hora esvoaçavam-se sob a brisa fria hora desapareciam entre as outras no chão. Os minúsculos galhos que um dia talvez já tenham sido de rosas, quebravam em meus pés ao mínimo movimento.

Então o que eu esperava surgiu das sombras como um lobo faminto. Tinha escamas de cor safira escuro, identica a própria noite. Caninos do tamanho de um polegar, rangendo em minha direção.

Parecia esperar alguma ação minha para contra-atacar. Realizando seu desejo avancei com a espada em punho. Num movimento rápido ela desviou o meu golpe, que acertou em cheio o terreno úmido. Ataquei, deslizando a espada do chão até ela. Um acerto de raspão em sua pata direita, a deixou manca.

Por um átimo, sua expressão de combate mudou de furiosa para arrependida. Recuperando-se, correu em minha direção. Desviei. Com um suave bater de asas, jogou as folhas em meu rosto. Não consegui enxergar nada e quando recuperei minha visão ela já pulava em minha direção.

Sem tempo para reagir, apenas coloquei a espada entre mim e ela, impedindo que devorasse meu rosto. Sem dificuldade nenhuma arrancou a espada da minha mão, olhei para o lado onde ela caiu, sem fazer nenhum barulho ou quicar no solo, pude ver uma rachadura onde ela mordeu, sinal que não adiantaria nada pega-la de volta para atacar.

Voltando meu olhar para o dragão, ele avançou o focinho, era meu fim. Senti aquela língua áspera percorrendo meu rosto, o bafo tinha cheiro de terra quente molhada pela chuva.

- Saia de cima de mim Thana! - a empurrei. Meu rosto estava tão melado como se um cachorro gigante tivesse me lambido. -Já disse centenas de vezes que odeio isso, dragão estúpido!

Thana, para esclarecer as coisas, é a minha companheira, pelo menos de nascença, pois a odeio mais do que qualquer coisa. Vivo com 4 membros além das montanhas de Ygrunor, perto do cemitério dos dragões. Acampando em um caverna as escuras estou junto de John Danel ( Meu pai ), Violet Danel ( minha irmã ) e Grond ( um senhor que conhecemos durante a trajetória de vida). Perdemos muitas pessoas para os outros homens e seus dragões ao decorrer de alguns anos, por isso viemos parar no lugar mais sombrio e sem vida do Reino dos Dragões.

O ódio e repulsa que sinto por Thana, deve-se ao simples fato que, por causa dela, devo viver nas sombras escondido de qualquer humano ou dragão que não seja da nossa própria raça ( Sombras). Este terror segue todos junto de mim, no entanto não entendo por que eles pensam diferente, digo, se por acaso nascêssemos vermelhos, azuis ou até mesmo um dos mais desprezíveis como os verdes, não teríamos o que tanto temer.

Um som de alguém desconhecido veio da mata. Thana pulou em meu peito, me jogando no chão e passando pela sombra, entrando em um mundo paralelo.

Mais uma pequena informação. O mundo dentro das sombras (Onde os dragões negros ou guerreiros do mesmo, porém muito mais fortes, podem adentrar através de qualquer sombra), é o inverso da realidade, as cores são negativas e apesar de podermos ver tudo normalmente, as pessoas do outro lado no nos enxergam. É muito difícil para movimentarmos nele, a atmosfera é muito pesada e a respiração densa, além de não conseguirmos pisar para fora de alguma sombra (amamos a noite e locais fechados por esta razão, o movimento é mais livre, porém ainda difícil. )

- Me avise antes de fazer algo do tipo, sua idiota. - Disse ofegante. Ela estava no chão, em posição de ataque olhando para a direção de onde veio o som, eu não fazia nada além de tentar respirar.

- Nathan? Thana? - Chamou um a voz feminina. Do meio das árvores surgiu uma garota de olhos escuros, sítios grossos e um cabelo até os ombros escuros e oleoso como a sombra da noite.

Já sem preocupação, saltamos de volta à realidade. Thana correu até ela e esfregou seu corpo nas suas pernas como um gato manhoso. Se abaixou e acariciou o focinho de Thana, que retribuiu com um ronronar.

- Eu não acredito. - Uma tom severo e autoritário tomou sua voz. - Nathan, você a machucou de novo? Ela é sua irmã, não deveria machuca-lá, muito pelo contrário, deveria protege-la.

- Não fale asneiras Violet, ela não é minha irmã, não passa de um animal estúpido. Por causa dela, e de todos os outros que carregamos em nossos nascimentos que mamãe morreu.

- Farei um curativo em você Thana. - Ela me ignorou, não imaginei o contrário. Depois de acariciar a pata dela voltou-se para mim. - Bem, vim aqui chama-los para a janta, papai e vovô vão comer tudo se não chegarmos logo.

Quando chegamos ao nosso acampamento, pude ver de longe a cautelosa fogueira assando alguns lagartos, meu pai sentado em um tronco, os virando de um lado para o outro, para que ficassem bem cozidos por ambos os lados. Grond sentava-se do outro lado da fogueira, ficando de frente ao meu pai, prestava uma enorme atenção nas chamas, como se nela visse belas bailarinas dançando.

- Finalmente! - A voz rouca do meu pai ecoou entre os galhos mortos. Ali não precisávamos ter medo de nos achar, a cidade mais próxima era o "vilarejo dos Alpes", onde abrigam-se a maior parte dos dragões brancos e eles apenas dormem ou festejam. - Mais um segundo demorado e eu iria devorar todos os lagartos sozinho.

- Você não precisa ficar maior papai. -Disse Violet sentando ao lado do vovó junto com Thana, que pousou sua pata traseira ao seu alcance, para que assim pudesse trata-lá. - Seu tamanho um dia quase o matou.

- Fala do dia do unicórnio? - Disse meu pai gargalhando enquanto entregava o último pedaço para mim. Lembrei-me imediatamente do dia em que fugirmos de alguns cacadores de recompensa, no meio da mata esbarramos em um unicórnio de crinas douradas e chifres vermelho, ele nos perseguiu, não pudemos atacar, afinal a morte de um unicórnio trará desgraça ao seu assassino, uma coisa da qual não precisamos mais é desgraça...voltando... no meio da fuga meu pai, um homem musculoso e enorme, prendeu seu corpo entre duas árvores, deixando seu traseiro livre para uma bela chifrada.

- Aposto que você ainda tem a cicatriz - comentei em meio a mordidas no lagarto e risos.

- Claro que não, já estou sentando perfeitamente.

Rimos um bom tempo, exceto vovó Grond, algo estava muito estranho nele, não tirou os olhos da chama um único segundo. Pensei em perguntar o que havia, mas fui interrompido.

- Nathan. - Chamou meu pai. - Não vai alimentar Thana?

- No final lhe jogo os ossos. - Respondi seriamente. - Ela não precisa e nem merece mais do que isso.

-Não seja rude com ela, seu idiota! - Disse Violet observando a pata de Thana, agora enfaixada por um pano. - Não deveria machucá-la durante seu treinamento.

- Foi no calor do momento, também não te devo nenhuma satisfação de como lido com o meu dragão.

Ela abriu a boca para continuar a discussão, todavia meu pai levantou com uma expressão assustada, algo parecia falar com ele, algo que não podíamos ouvir.

- Será hoje... - Pela primeira vez Grond, naquele tom taciturno falou.

- É o Black Toner! - Black Toner, o dragão de meu pai, tão robusto e forte como tal, mas agora se encontrava cambaleando e muito ferido enquanto atravessava a mata. Meu pai correu até ele, feri ficou seus ferimentos e preocupado, perguntou - O que ouve Black Tone? Por que está tão ferido?

Black Toner olhou em seus olhos, abriu a boca, mostrando os enormes dentes afiados e lançando um som baixo e trêmulo. Como se ouvisse a tradução em sua mente, meu pai arregalou os olhos com o que ouviu.

- Eles... - no meio de sua frase as folhas mortas no terreno em óbito voaram, pesados passos acompanhavam uma iluminação no meio do escuro, em pouco tempo pude ver dez, não, trinta, ou mais guerreiros acompanhado de seus dragões, a maior parte vermelhos, mas pude ver azuis, Marrocos e até mesmo roxos. - Eles nos cercaram! Violet! Nathan! Peguem seus parceiros e fujam! Eu e Grond cuidaremos deles!

O Alvorecer dos dragões - Além Das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora