PEDRA FUNDAMENTAL
Cidade de pedra.
Cidade em queda,
Tuas ruas não são mais as mesmas,
O tempo te derrubou.
As árvores se foram,
As mangas são importadas,
Tu respiras fumaça,
Tu te banhas em ácido.
A tua cor é cinza.
MUDANÇA
Nos tempos dos meus avós
Essas ruas eram de terra batida
Na rua só tinham casinhas,
Todos conheciam o padeiro,
O ferreiro, o barbeiro e o doutor.
Não tinha briga, não tinha intriga,
Era tudo bem simples.
Hoje a rua virou avenida,
O asfalto engoliu a terra,
Jogar peteca, nunca mais.
O padeiro não vende mais pão,
O ferreiro virou industrial,
O barbeiro abriu um salão pra grã-fino
E o doutor só atende com hora marcada.
Tudo mudou.
Tudo mudará.
RUA DAS ESTRELAS
O balanço,
A brincadeira na piçarra
Como era bom tomar banho na chuva.
A pipa de plástico voa tão alto,
Só dá pra ver o pontinho na imensidão do céu.
A primeira namorada,
Os amigos das conversas infindáveis
O encontro de domingo,
O primeiro emprego.
A mudança,
A vizinhança que fica,
Só as lembranças
E os móveis.
A rua fica,
O homem vai
E assim a vida vira um eterno recomeço.
MERA VIDA
A mera vida nas ruas
De quem perdeu a esperança
A família e a dignidade
A mera vida do outro,
Os meninos de rua
Abandonados por nós
Esquecidos e invisíveis por todos.
Hoje é a chacina da esquina
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As Formas do Invisível
PoetryPoemas produzidos ao longo da década de 2000 e publicados no volume 2 da Revista Tucunduba, publicação da Pró-reitoria de Extensão da Universidade Federal do Pará (Brasil). Link para acesso: http://www.revistaeletronica.ufpa.br/index.php/tucunduba...