Capítulo 1

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Era um prédio que ficava no centro de uma cidadezinha. Não era muito movimentado e quem passava na frente dele pela primeira vez não identificava o que vendia, pois a placa, grande no alto, com letras adornadas e antigas, não sugeria muita coisa, só dizia: "A Lojinha". Tinha altas paredes vermelhas de um tom escuro e já envelhecido pelo tempo e nos arredores das grandes janelas de vidro havia um contorno branco e opaco. Entre duas das janelas maiores ficava uma grande porta de madeira incrivelmente polida e entalhada que mostrava o desenho de árvores e flores enormes, que contrastava com a pintura. Pelo seu ar antigo, parecia um velho armazém. Não sugeria a presença de jovens, mas era possível vê-los, entrando de modo silencioso, sem alarde, alguns se vestiam de modo peculiar. As outras pessoas que a frequentavam não despertavam nenhuma suspeita ou interesse, mas às vezes apareciam pessoas de outras cidades, vestidas de terno e gravata, que entravam silenciosamente.

Nada se ouvia do lado de fora.

A presença daquele misterioso lugar não despertava a menor atenção de quem chegava à cidade, e para os vizinhos já lhes eram familiar, porém isso não quer dizer que eles sabiam muita coisa a seu respeito, pois ninguém dos arredores o frequentava. Para quem passava era somente mais um prédio. Poderia chamar um pouco a atenção por causa da bela porta, que já havia sido imitada em outras construções do bairro, mas fora isso, não tinha nada de especial, aparentemente.

Aparentemente

O carteiro Luiz passava por ali todo dia já havia dois anos, mas nunca tinha entregado uma carta sequer ao dono, a não ser as contas de água e luz que colocava em uma caixinha de metal vermelho,  e esse fato esse que o deixava intrigado. Sempre que conversava com os vizinhos, tentava saber de algo a respeito da Lojinha. Os vizinhos viam o dono somente quando ele vinha varrer a frente, era um senhor de cabelos calvos, óculos enormes e sempre usava suspensórios, um tipo pouco comum naquele lugar, mas que não mantinha hábitos que gerassem suspeitas. Um dia à tarde, Luiz olhou pelas grandes janelas de vidro e viu um belo balcão de madeira tão bem entalhado e polido quanto a porta, mas não pode identificar qual era o desenho dos entalhes. Mais ao fundo pode ver o senhor do qual os vizinhos falavam, tinha um aspecto meio italiano e sorria constantemente. Não dava para ver o que manuseava atrás do belo balcão e nem com quem falava. Viu que o velho parecia se divertir, e se perguntou o que poderia ser de fato aquele lugar e o que se tratava aquele enigmático senhor. Ficou ali observando alguns minutos até que de súbito se encolheu, por achar que alguém da rua o estivesse vendo em uma posição tão ridícula, só na ponta dos pés, e saiu todo encolhido e envergonhado. Tinha o hábito de sempre observar as pessoas, mas aquilo poderia ser mal interpretado. E assim se seguiu por muitos meses, com Luiz tentando investigar o que se tratava aquele lugar e aquele velho, porém sem nenhum sucesso.

Em uma fria noite de inverno, Luiz caminhava sozinho pela rua em que ficava a Lojinha e decidiu passar na frente para dar uma olhada. Qual foi sua surpresa ao ver que o lugar estava aberto. Quando ia espiar o que havia lá dentro, viu um casal saindo pela bela porta. Traziam uma criança que segurava um cavalo branco de madeira nas mãos e ostentava um sorriso triunfante no rosto. Luiz observou aquela cena e ficou ainda mais aturdido, tomou coragem e entrou no local, sem saber muito bem o que estava fazendo.

Ao entrar, deu de encontro com o balcão, que parecia mais belo visto de perto. Era um vasto balcão, que tomava boa parte do tamanho do salão, vindo até perto das paredes de cada lado e fazia uma curva, indo até os fundos do recinto, formando um "U". Tinha vários desenhos entalhados na madeira que Luiz ficou observando uns minutos. Haviam pessoas sentadas em banquinhos de madeiras em frente ao balcão, aparentemente bebendo alguma coisa; mais a esquerda viu algumas mesas cobertas com toalhas vermelhas distribuídas pelo local, e atrás delas, prateleiras cheias de troféus, brinquedos, e outras antiguidades. "Foi dai que veio o cavalo de madeira", pensou ele. À direita, viu mais prateleiras, só que baixas, todas organizadas como em uma loja de conveniência, que continham livros dos mais diversos tipos. Em uma grande prateleira encostada na parede mais próxima ao balcão, pôde ver muitas e muitas miniaturas, peças de artesanato e decoração, dentre eles um grande avião de madeira, no qual ele olhou por alguns minutos, admirando. O ambiente tinha um ar quente a aconchegante, era agradável ficar ali enquanto lá fora estava frio, tocava uma música suave que ele nunca tinha ouvido antes. Sentiu-se à vontade e sentou-se ao balcão.

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⏰ Última atualização: Jul 20, 2016 ⏰

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