Definitivamente... Amor! (Completo)

Capítulo X

Embora acostumada às mais diversas e absurdas reações de jovens nubentes às vésperas do casa­mento, Marcella ficou escandalizada com o comportamento de Rick e Cynthia.

Katherine e Harrison sentiram-se constrangidos e envergonha­dos perante os tios, Wally e Fritz, que, ali presentes, condignamente representavam os pais da Sra. Wingate, ambos já falecidos.

Estáticos, os serviçais não sabiam o que pensar e se entreolhavam atônitos.

Rick pensou em se desculpar, mas logo sentiu que não seria ca­bível, até mesmo porque não saberia o que dizer.

Cynthia teve dificuldade em acreditar que tudo aquilo estava realmente acontecendo.

— Está tudo bem! — Katherine tentou desanuviar a atmosfera que era tensa.

Harrison, no entanto, teria preferido que ela não houvesse se manifestado, pois sua mulher era sempre inábil quando tentava minorar as conseqüências de situações embaraçosas. Mas tinha, ob­viamente, muitas outras qualidades como, por exemplo, jamais ad­mitir que seu marido ou um de seus filhos estivessem errados, por mais evidente falha que um deles pudesse haver cometido.

— Vamos trabalhar pessoal. As horas estão passando e temos ainda muito que fazer — ela convocou a criadagem quando o som da Marcha Nupcial ressoou pela casa toda, não porque Rick a hou­vesse selecionado, mas porque alguém havia casualmente colocado o CD na caixinha errada.

No retrospecto dos dias que se sucederam à morte de Alfred, Cynthia foi em busca do momento exato em que teria se apaixonado por Rick. Lembrou-se de quando ele chegara a Wingate Manor, atrasado para os funerais do avô. O Dr. Ayland, o advogado, convocou a família a se reunir na biblioteca, pois, em poucos minutos, daria início à leitura do testamento. A chuva caía pesada e, antes de entrar no recinto, Rick apressou-se em fechar as duas folhas da janela francesa que dava para o jardim da mansão. O vento as havia empurrado para invadir a galeria. Discreto, sentou-se em uma cadeira e ali permaneceu pensativo, o olhar distante por vezes era dirigido à Katherine.

Cynthia o acreditara desatento até mesmo desafeiçoado dos que lá estavam e desinteressado dos bens ali sendo distribuídos. Um homem só, ausente do convívio familiar, que nem mesmo se preo­cupara em chegar a tempo para a derradeira despedida daquele que tanto o havia amado.

Irritada com a própria intolerância, Cynthia considerou suas re­flexões, conteve a crítica, baixou a guarda, amainou a razão, har­monizou-se com seus sentimentos e liberou o querer: Rick era médico e, portanto, não podia dispor de suas horas como as demais pessoas. Seu primeiro compromisso era com a vida e a saúde do semelhante e, em várias oportunidades, já demonstrara que essa era a sua fé. Até mesmo, muitas vezes, em detrimento dos próprios interesses.

Na residência de Katherine e Harrison, a equipe encarregada da festa do dia seguinte, sem tempo para divagações, apressava-se para cumprir sua tarefa.

Rick aproximou-se de Cynthia e murmurou em seu ouvido:

— Case-se comigo.

— Meu filho — Katherine chamou —, pode me ajudar a levantar esta caixa? — pediu.

— Vou já mamãe. — E, virando-se para Cynthia, repetiu: — Por favor, case-se comigo.

— Rick! — A voz de Harrison soou autoritária. — Você ouviu o que sua mãe disse?

— Ouvi, sim — ele respondeu. E, ainda uma vez, repetiu a pro­posta: — Case-se comigo, Cynthia.

Ela não conteve as lágrimas, era o que mais queria. Mas as cir­cunstâncias tornavam seu sonho impossível a medida que o tempo se adiantava rumo ao dia, agora muito próximo, em que ela, infortunadamente, se tornaria a Sra. Graham Wingate.