À minha volta, o que antes era o paraíso se tornou o inferno. Observo uma última vez, agora muito distante, a árvore que me serviu de abrigo desde o meu nascimento, antes de voltar a correr. Relembro os gritos de meu irmão, seus pelos cobertos das chamas que logo se espalharam por toda a árvore, os olhos de desespero de minha mãe, que logo também estava envolta em fogo. Meu pai havia saído para nos trazer alimento, como sempre fazia. Creio que quando voltar não restará uma única folha viva de nossa árvore. Não me resta opção. Com minhas patas minúsculas, corro pela vida.
Olho para o lado e percebo a presença de uma onça-pintada. Em uma ocasião comum ela teria me pegado e eu serviria de jantar, mas hoje não era uma ocasião comum. Estávamos enfrentando o mesmo perigo, fugindo do mesmo predador. Esse era o predador mais quente que eu já vi. A onça logo some de vista e se livra do fogo. Eu gostaria de ter a mesma sorte que ela, de ter aquelas pernas longas e ágeis.
Paro no riacho para beber um pouco de água. Estou exausto, mas não posso parar. Qualquer segundo é válido nesse momento de fuga, então volto a correr. Quando finalmente percebo que estou agindo mais rápido que o fogo, paro para descansar um pouco. Deito-me e percebo o quanto estou com fome. Reparo que, não tão longe dali, há um pequeno campo coberto de nozes e sementes.
Ao chegar lá, vejo que o ar cheira mal e está preto, mas sinto que não há problema nisso. Me alimento das nozes e decido descansar um pouco ali, pois aquele ar estava me deixando muito cansado. Apenas quando encosto a cabeça no chão me dou conta do que está acontecendo. Dou uma olhada em volta e vejo um verdadeiro caos. Pequenos e grandes animais tossindo, caindo no chão, se entregando obrigatoriamente à morte. Ao redor do campo, não há nada além de fogo. Tento achar alguma saída, mas já é tarde. As chamas ardentes cercaram todo o local. Um galho de árvore em chamas cai ao meu lado e deixa meus pelos chamuscados. Vou de volta ao centro do campo, já que não me resta opções. O ar parece cada vez mais pesado. Penso no que pode ter acontecido com meu pai. Já está tão preto que não consigo distinguir nada ao meu redor. Como sinto falta da minha família! Minhas pernas enfraquecem. Espero que a floresta permaneça viva. Dou meu último suspiro de esquilo e adeus à vida.
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Inferno florestal
Short StoryEste conto relata a luta entre o fogo e a natureza no ponto de vista de um pequeno esquilo que ama a vida e luta por sua sobrevivência.