II

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Florianópolis/ Santa Catarina
23 de Abril de 2006

[UFSC]


(-Roberta-)

Olhei para o céu nublado que cobria todo o campus, anunciando mais um dia de chuva, o vento frio me alcançou, e por impulso me aqueci com um forte abraço em meu próprio corpo coberto pelo casaco de moletom.

Observando atentamente os fatos que ocorriam ali próximo de mim,
cheguei a conclusão que este local nunca estive tão silencioso e movimentado quanto hoje. Não é comum ter tanta gente e tanto silencio no mesmo lugar!

Dezenas de pessoa vestidas de preto, andavam em um sincronizado "vai e vem" pelos corredores lentamente, o que deixa o clima mais insípido que sete dias atrás.

Talvez seja pela exata data que consigo trazia o peso da tão falada missa de sétimo dia, nunca vi uma morte ter tanta mídia, e de fato, não me sinto nem um pouco acomodada com isso, chega a ser doloroso.
A morte de fato é algo que me assusta ao mesmo tempo que encanta!

Suponho que não fosse o melhor motivo, porém era o único que se situava no momento em que todos foram liberados mais cedo essa segunda -Se é que isso pode ser considerado como "liberados" já que teremos que ir ao cemitério para a missa e última despedida de quem nem se quer havia se despido- Também sendo a causa de pessoas carregarem flores e velas que estavam sendo entregues pela portaria, onde todos se sentavam no local que coubesse esperando a hora de tudo aquilo acabar de vez.

Os rostos não escondiam o que realmente sentiam ali, pelo menos não para mim, até mesmo porque as pessoas sempre me encantaram é um fascínio vicioso para mim assim como arte!
De uma parte era notório aquela espécie de grito silêncio sendo realmente por dor de uma minoria, e a outra parte estava mais para tédio.

Desconsiderando todas as razões para aquilo, era uma bela cena, o contraste das rosas, com as pessoas, o silencio e o preto, era algo encantador! Poderia de todo falar que até gostava, se não fosse pelo peso em meus ombros, como se os fardos de consciência agora virassem toneladas, me jogando para baixo, âncoras me prendendo no mesmo lugar, e eu já não via ração para tudo aquilo que estava em minha cabeça, eu não sábia!

-Quer? -Dennis ofereceu o recipiente de tic-tac e eu apenas neguei com a cabeça dando um sorriso fraco.

-Eu quero! -Yasmim falou já pegando o objeto das mãos dele. -Vamos entrar?! - Ela enrolou seu braço no meu e com a outra mão livre apontou para o ônibus à minha frente, que diferente dos outros estava quase vazio.

-Sim! -A palavra quase imperceptível saiu de meus lábios com um sorriso forçadamente singelo.

Depois de me sentar apenas fechei os olhos lentamente me dando o luxo que fez o som de todo o barulho externo sumir, e o interno só prevaleceu pela falta de condições em silenciar. O cansaço inexistente até o momento me dominou.
[···]

Eu tenho certeza que já não era o meu quinto copo, mas o álcool ainda estava sem trazer o efeito que tanto desejava em meu corpo, minha garganta nem se quer esquentava com a bebida de cheiro forte a minha frente.
Lembro de quanto ela esbarrou em mim, seu copo colidiu com o meu e logo os dois estavam no chão. Fernanda estava mais puta que nunca! Ela se desculpou e eu apenas dei as costas, um fato era: nem se eu estivesse a cair de bêbada ficaria ali com ela!

"Ei, guria não me dê as costas!"

Eu fechei os olhos em uma profunda vontade de voltar e sentar a mão em seu rosto, entretanto mentalmente contei de um a dez e me mantive firme. Senti seu toque em meu ombro e ela ficou em minha frente.

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⏰ Última atualização: Nov 25, 2018 ⏰

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