Cinco dias, onze horas e dezoito minutos é o tempo exato que estou separado dela. Só de lembrar meu peito dói e minha visão fica turva pelas lágrimas que tento reprimir. Por que mais uma vez tive que acabar assim? Sem a mulher que amo e com o coração sangrando?
Mais uma vez por culpa minha, mas o que posso fazer se o medo de vê-la machucada foi maior que meu amor? Droga, inferno de vida, que só me traz sofrimento.
Uma batida na porta me tira dos meus pensamentos. Passo as mãos pelo meu rosto e as pontas dos meus dedos saem molhados, as seco rapidamente e grito para quem espera lá fora que entre.
– Fernando, podemos conversar? – Clara pergunta apenas com a cabeça para dentro da sala.
– Claro que sim. Entra e fecha a porta – ela faz o que lhe pedi e se senta na minha frente.
– A reunião com o cliente é na próxima segunda, temos apenas hoje e amanhã para repassar todo o projeto. Podemos fazer isso agora?
– Vamos lá, o que está faltando? – Mal termino minha pergunta e Clarinha deposita uma pasta em cima da minha mesa. Abro e vejo que são os rascunhos do projeto.
– Preciso que você veja se está tudo certo para poder ir reconhecer em cartório amanhã bem cedo.
Encaro minha estagiária que até alguns dias atrás era minha cunhada. Ela lembra muito minha morena. Que saudades daquele sorriso, daqueles olhos. Clarinha me olha com confusão em sua expressão, paro de encará-la e volto minha atenção para os papéis a minha mesa.
Quase duas horas depois, quando finalmente tiro os olhos dos papéis, estamos morrendo de fome, mas estou satisfeito. Finalmente um dos meus problemas foi resolvido.
– Pronto Clarinha. Amanhã você vai reconhecer em cartório bem cedo, finalmente meu projeto está no seu devido lugar.
– Pode deixar, amanhã logo no primeiro horário cuido disso. Agora é esperar a reunião e tentar entender o que aconteceu.
– Ainda tem isso. Eu não posso acreditar que os acionistas estão cogitando roubo daqui de dentro.
– Quem pode culpá-los? Toda essa história está muito mal resolvida – Clarinha rebate.
– Isso é verdade. Mas uma traição assim? Não consigo acreditar, estamos falando de pessoas que trabalham na Dean Bau há anos.
Clarinha assente concordando comigo. Ficamos em silêncio perdidos em nossos pensamentos, quando escuto a cadeira sendo arrastada para trás e ela levanta e começa a juntar os papéis, eu a ajudo e quando ela está saindo para almoçar uma curiosidade e muita saudade falam mais alto em meu peito. Nunca falamos do fim do meu relacionamento com July.
– Clara? – a chamo quando ela está quase saindo.
– Sim – ela responde virando-se para me encarar. Engulo em seco com medo do que vou ouvir. Estou sofrendo como um miserável esses dias e não sei se vai ser pior ouvir que July também sofre ou que já me esqueceu e está seguindo sua vida como se eu nem existisse. Porra, para que fui inventar de querer saber isso, meu subconsciente me responde aos gritos “Porque você a ama seu idiota”.
– Como ela está? – pergunto sem rodeios e Clara suspira alto.
– Igual você Fernando, poderia até dizer que pior, mas minha irmã é forte demais para se entregar ao sofrimento.
Sinto como se uma faca acabasse de perfurar meu peito e atravessar meu coração. Passo as pontas dos dedos por cima da minha camisa para ver se tem marcas de sangue, porque a dor que sinto agora só pode ter sido causada por um ferimento profundo.
– Eu sinto muito… – falo as palavras arrastadas, com a cabeça baixa.
– Eu também Fernando. Minha irmã já sofreu muito não e merecia isso.
– É muito difícil para mim, eu também estou morto por dentro sem ela comigo, mas eu não posso... Você não entenderia – falo me sentindo um fraco pela minha atitude. Um homem com medo do amor.
– Eu não preciso entender, nem você precisa me explicar nada Fernando. É ela quem você ama e ela também te ama muito, talvez por ela você devesse tentar mais.
As palavras de Clarinha ficam no ar, não consigo responder nada. Quando ela percebe pede licença e se retira. A primeira coisa que vejo à minha frente, destruo jogando no chão. Meu computador. Restando apenas alguns fios pendurados em cima da mesa.
Hoje é o grande dia da reunião, os funcionários estão todos inquietos, sussurrando entre os corredores. Isso me irrita, mas entendo estão todos tensos com a possibilidade de que meu projeto tenha sido roubado. Isso complica muito as coisas para todos, implica investigação e até processos. Que Deus me ajude se realmente foi isso, o responsável vai pagar e muito caro.
Entro em minha sala e Clarinha me informa que meu pai ligou confirmando presença na reunião. É hoje vai ser um daqueles dias, alguns minutos antes da reunião começar meu pai entra em minha sala.
– Pai que bom vê-lo aqui – falo me levantando para lhe dar um abraço.
– Fala isso agora, mas nos visitar que é bom nada – meu pai fala indo se sentar no sofá. Faço o mesmo me sentando ao seu lado.
– Desculpa pai é que as coisas andam complicadas.
– Com a Júlia?
Meu pai me encara com seus olhos azuis profundos, cheios de sabedoria. Apenas balanço a cabeça para cima e para baixo, quando um nó fica preso em minha garganta me impossibilitando de falar qualquer coisa sem chorar.
– Sabe filho, chorar não é vergonhoso. Você não deixa de ser homem porque chora, muito pelo contrário isso só mostra que o garotinho que eu criei está ai dentro guardado em algum lugar.
– Eu... Sinto tanta a falta dela… Ah pai eu a amo tanto.
Sinto meu corpo sendo puxado encontrando o abraço caloroso do meu pai, lágrimas que reprimi durante uma semana lavam meu rosto e minha alma.
– Por que você ainda não foi atrás dela? – meu pai pergunta enquanto me afasto secando os cantos dos olhos.
– Não posso, eu simplesmente não consigo perder mais ninguém – ele franze a testa com minha resposta.
– E por que você acha que vai perder a moça? Ela te ama, eu vi o jeito que ela te olhava lá em casa.
– Ela é DJ pai e sofreu um acidente há pouco tempo. Ela poderia ter morrido…
– Mas não morreu Nando e pelo que sua mãe me disse ela teve apenas um braço machucado – fala me cortando.
– Ela estava saindo da boate quando aconteceu. Quando Clara me ligou para avisar eu revivi o meu maior pesadelo de quase seis anos atrás.
– Você tem que parar de se prender ao passado, ele não existe mais.
– Eu não consigo. Vai ser melhor assim pai, somos completamente diferentes nunca ia dar certo.
– Claro que não ia dar. Você nem se quer tentou e foi melhor para quem, pra você? E pra ela? Você já pensou nisso, ela tinha o direito de ao menos saber o porquê de você ser tão covarde.
Encaro o homem a minha frente completamente em choque. Os pais não deveriam apoiar o filho? Por que ele não está agindo dessa forma? Ah, que merda eu estou pensando, eu sou um covarde mesmo, não fui capaz nem de me abrir com minha morena, por medo, e agora a perdi para sempre. Fiz exatamente o que o babaca do Eric fez pedi que escolhesse. Que espécie de homem eu sou?
– Acabou pai, nunca mais vou tê-la.
Antes que meu pai tenha a chance de me dar outro sermão, Clara aparece para nos informar que a reunião já vai começar e que os nossos clientes nos esperam.
Sigo em silêncio com meu pai para a sala de reuniões, onde todos os acionistas e o cliente estão sentados. Cumprimento a todos com um bom dia e sento-me na cadeira da presidência com meu pai ao meu lado e damos andamento com a reunião.
A reunião segue muito tensa. Os acionistas estão nervosos com a situação do projeto, mesmo provando que é meu, eles estão com medo de outros trabalhos terem sido levados aos concorrentes.
– Eu não sabia e nem tinha como imaginar que o projeto que Richard me entregou era da Dean Bau – Rodrigo indaga quando as acusações sobre roubo começam.
– Não estamos acusando ninguém Rodrigo, apenas tentando entender o que houve – meu pai fala deixando a sala em silêncio.
Minutos se arrastam e a situação continua a mesma. Os acionistas esperam uma atitude do presidente e como sou eu fico frustrado. Estou sem cabeça para essa porra toda.
– Poucas pessoas tinham acesso ao projeto, deveríamos começar por elas – Amanda fala em tom de acusações olhando para Clara que fica vermelha, mas não abaixa a cabeça.
– Está tentando insinuar alguma coisa senhorita Amanda? Por que se estiver espero que no mínimo você tenha provas para tal acusação – falo olhando diretamente em seus olhos que estão transparecendo raiva.
– Estou apenas tentando entender o que aconteceu Fernando e você como o presidente deveria estar tentando fazer o mesmo, não protegendo quem talvez seja a culpada – ela volta a encarar Clarinha que me olha com os olhos marejados.
– Quando eu quiser a opinião de uma funcionária Amanda eu peço. Você está aqui apenas como arquiteta do projeto, nada além disso – sua expressão é de resignação e fúria.
– Bem como já descobrimos o que houve. Vamos começar uma investigação interna para poder responder todas as perguntas feitas nessa reunião. Como não temos mais nada a falar a reunião acabou. Em um mês vamos nos reunir novamente, dessa vez com todas as respostas – meu pai comunica e todos os presentes concordam a respeito se levantando e saindo da sala.
Vejo cada acionista sair da sala, Clara permanece ao meu lado de cabeça baixa. Quando penso que todos já saíram escuto a voz de Amanda carregada de raiva.
– Que palhaçada foi essa Fernando? Por que me humilhou na frente de todos? – levanto minha cabeça para encarar uma mulher que hoje é totalmente estranha para mim.
– Eu que te pergunto Amanda? O que porra você estava tentando fazer, jogar os acionistas contra o presidente? – falo com a voz baixa.
– Claro que não, eu só quero respostas. Eu dou um duro danando por essa empresa, se houve fraude quero saber como todos.
– Você ganha muito bem para fazer o que faz. Você querer ajudar tudo bem, agora achar que pode chegar aqui e ficar fazendo acusações isso não vou permitir – ela desvia seus olhos dos meus e volta a olhar minha estagiária.
– Você deveria começar a rever em quem confiar – ela fala olhando de Clara para mim.
– Chega Amanda a reunião acabou. Guarde seus comentários para você, agora se você não se importa volte para sua sala, temos muito trabalho para finalizar – meu pai que até agora estava calado fala deixando Amanda constrangida.
– Claro, com licença – Amanda fala pegando sua ata é pisando duro até a porta.
Olho para Clarinha que mexe suas mãos em seu colo em sinal de nervosismo. Fico muito puto por vê-la assim. Clarinha é doce, uma menina calma e sensível, incapaz de responder a Amanda como ela merecia. Se fosse July já teria dado uns tapas. Lembrar disso me faz rir alto, meu pai e Clara me encaram de olhos arregalados. Meus olhos começam a lacrimejar e respiro fundo para controlar minha crise de risos, lembrando da surra que minha morena deu em Amanda, e ela bate bem.
– Desculpe, eu me lembrei de uma coisa agora – meu pai balança a cabeça e Clarinha sorri timidamente.
Volto para minha sala depois de acalmar Clarinha dizendo para não dar atenção às insinuações de Amanda. Ela concorda tristemente, mas fica mais calma quando vê não penso da mesma maneira que minha ex-noiva.
Os dias que se seguem são torturantes. As investigações não param, estou com a maldita dor de cabeça me perseguindo novamente devido às noites mal dormidas. Sonho com July e é sempre a mesma coisa. O sonho começa perfeito com ela nos meus braços, é tudo tão real que posso até sentir seu cheiro, a maciez da sua pele, seus cabelos sedosos, mas de repente tudo acontece, tudo fica escuro, seu corpo está em meus braços gelado, seu sangue mancha minha camisa, tentar acordá-la é totalmente inútil. Ela está sem vida.
Acordo sempre com o coração acelerado, todo suado, algumas vezes chego ir até sua casa para ter certeza que ela está bem. Paro meu carro a uma certa distância e quando a vejo entrar em casa em segurança volto para meu apartamento, para o trabalho porque dormir fica impossível.
Quinze dias após a reunião que deu início as investigações, apontaram outros projetos que foram roubados, mas o que mais me surpreendeu foi o fato desses desenhos nunca terem saído do papel, foram feitos para ser segunda opção caso os primeiros fossem rejeitados pelos clientes.
Os acionistas me enchem de perguntas e exigem respostas que eu não tenho. Fico nervoso, grito com todos que entram na minha sala para me falar dessa droga toda.
– Fernando precisamos conversar – estou quase arrancando meus cabelos quando Amanda entra em minha sala sem ser avisada.
– Esqueceu a educação em casa?
– Sem gracinhas Fernando, que o assunto é sério – ela fala fechando a porta e se senta na minha frente. Bufo de frustração.
– O que você quer? – pergunto estressado.
– Você tem que demitir a Maria Clara! – cruzo minhas mãos em cima da mesa e aproximo meu corpo.
– O que você disse?
– Você ouviu muito bem, Fernando você não vê? Está na cara que foi essa garota sonsa que vendeu os projetos.
– Amanda já te disse para não acusar sem provas, confio em Clara. Ela nunca faria isso – Amanda coloca uma pasta, que eu nem vi que ela tinha nas mãos, em cimada minha mesa.
– O que é isso? – pergunto olhando para a pasta.
– Isso prova Fernando que todos os projetos da empresa que foram vendidos, estavam com Clara. Então meu querido, a sonsa que você tanto defende é uma falsa que enganou a todos.
– Você está de perseguição com ela e tudo por orgulho ferido. Clara não fez isso, não vou nem perder meu tempo com esses papéis – falo lhe devolvendo a pasta.
– Deixa de ser ridículo Fernando, você realmente acha que sou mulher de ficar com orgulho ferido. Você me conhece e sabe muito bem que não sou desse tipo. Aquela sonsa me irrita isso é verdade, mas estamos falando da SUA empresa, então aja com a cabeça de cima e pensa.
– Chega Amanda. Fale direito comigo, sou o dono dessa empresa, você é só uma funcionária e se não quiser ir para o olho da rua controle essa sua língua – falo sem perceber que estou gritando.
– Sabe de uma coisa, foda-se. Fica aí sendo um idiota cego enquanto aquela sonsa te engana direitinho – me levanto de supetão quase derrubando minha cadeira, Amanda se sobressalta de susto.
– Saia da minha sala agora e acho bom você só voltar aqui com um pedido de desculpas e se não for o suficiente traga sua demissão que eu assino. Agora fora – grito apontando para porta.
Ela me olha com lágrimas molhando seu rosto.
– Você mudou muito depois que começou a andar com essas duas. Nem parece o homem de antes – ela fala enxugando as lágrimas enquanto se levanta.
– Poderia dizer o mesmo de você, mas você sempre foi assim uma mulher fútil, que só pensa em você.
Ela me encara com ódio, empina o queixo e sai da sala batendo com força a porta, segundos depois Clara aparece perguntando se está tudo bem. Apenas confirmo com a cabeça e ela sai me deixando sozinho com a maldita pasta que Amanda deixou aqui.
Horas se passam. E depois de me render a curiosidade acabo lendo os papéis que Amanda trouxe e ela está certa os projetos realmente são os que estavam nos arquivos de Clara, e agora? Eu sei que não foi ela, mas as investigações vão apontar para minha estagiária e ela pode ser presa. Crio coragem e a chamo para uma conversa, me sento no sofá e peço que ela faça o mesmo.
Ela me olha, com mil pontos de interrogação no olhar. Conto a ela sobre as insinuações de Amanda e vejo seu olhar triste novamente. Ela já esperava isso, porque mesmo triste não parece surpresa, pego a pasta e entrego a ela.
Seus olhos se arregalam e uma lágrima escapa de seus olhos. Ela limpa rapidamente, mas eu vi, pouso uma das minhas mãos em cima da suas, e a sinto tremer.
– Fernando não fui eu... Eu... Eu nunca faria isso – ela fala engolindo em seco tentando controlar o nó que está em sua garganta.
– Ei Clarinha, eu acredito em você – falo a puxando para meus braços. E ela segura meu paletó com força.
– Amanda... Ela vai tentar me acusar – ela se desvencilha dos meus braços.
– Clarinha eu mando aqui e eu acredito em você isso que importa.
– O que vai acontecer agora? – seu olhar está perdido.
– Você vai ser investigada, provavelmente vai ser a principal suspeita, mas eu estou do seu lado e juntos iremos provar sua inocência.
– Mas aí todos vão te acusar de ser meu cúmplice, mesmo sendo o presidente vão querer tirar você da empresa.
A encaro e sei que ela está certa, mas estou disposto a enfrentar qualquer acusação para provar a inocência dela. Porque eu sei que ela não teve nada a ver com isso, mesmo que isso custe meu cargo na Dean Bau.
– Isso não importa o que realmente importa é provar sua inocência e achar o culpado.
– Ah Fernando muito obrigada. Além da minha irmã ninguém nunca me defendeu assim – ela fala em meio às lágrimas.
– Além dela, agora, você também tem a mim – ela sorri timidamente, mas por pouco tempo. Logo sua expressão fica séria e pensativa.
– Obrigada, eu não tenho palavras para agradecer tudo o que você fez por mim, mas eu não posso deixar que você se prejudique por minha culpa – fico alguns minutos tentando entender aonde ela que chegar.
– Você não está me prejudicando em nada, muito pelo contrário você sempre me ajuda…
– Vou pedir minha demissão – ela fala me cortando.
– O que? Não Clarinha, você não tem que fazer isso. Vamos resolver juntos tudo isso – falo tentando convencê-la, mas sua expressão não muda.
– Eu já tomei minha decisão, eu vou pedir demissão. Vou aguardar as investigações e provar que sou inocente, mas fora da empresa.
– Você não tem que provar nada para mim, eu sei do seu caráter – ela segura minhas mãos e sorri.
– É a minha decisão.
– Clarinha, por favor…
– Vou passar no RH, mais uma vez obrigada, eu nunca vou esquecer o que você fez por mim.
– Você não precisa ir – falo na tentativa de fazê-la mudar de ideia.
Em meio aos meus protestos Clarinha está irredutível, não aceita nem um acordo que eu a ofereço. Ela me abraça forte e sai da sala para arrumar suas coisas, isso parte meu coração. Ela não deveria ter que passar por isso, sei da sua inocência, mas ela tem caráter e eu no lugar dela teria feito o mesmo.
Estou me sentindo um bastardo, primeiro meu namoro, agora minha amiga. Sim porque é isso que considero Clarinha. Encosto minha cabeça no sofá, pensando em tudo que está acontecendo. A vida é engraçada uma hora tudo está perfeito e de uma hora para outra tudo desmorona, vou provar a inocência de Clarinha e trazê-la de volta. Agora eu sei que não vou conseguir por que ela está magoada, mas vou achar o cretino que está sabotando minha empresa.
No final da tarde Clarinha me traz sua demissão. Ela tenta segurar as lágrimas ao me entregar o documento, mas depois de um abraço apertado e muitos agradecimentos de ambas as partes, ela chora e sorri ao mesmo tempo. Prometo a ela que vou descobrir o culpado e volto a insistir que ela fique, mas a teimosia é de família e ela continua a dizer não. Depois que Clara vai embora, arrumo minhas coisas e vou para casa.
Mais uma noite mal dormida e chego à empresa com cara de poucos amigos. Meus funcionários percebem, pois fazem de tudo para desviar do meu caminho. Passo pela mesa de Clarinha e não a vejo, o meu humor agora só piora. Droga! Ainda tenho que arrumar uma secretária. Entro em minha sala, ligo para a recepção pedindo que uma das meninas ocupe a vaga. Abro meus emails e vejo dois da advogada Dayane, avisando que passará no horário do almoço para falar de negócios. No e-mail ainda diz que a reserva no restaurante já foi feita, mulher maluca. Ela é completamente louca por achar que irei a qualquer lugar com ela.
Uma secretária vem substituir Clarinha por algum tempo, até ela voltar, e ela vai tenho certeza.
Minutos antes da reunião Dayane chega, sempre muito sensual, me levanto para cumprimentá-la com um aperto de mão, mas ela dispensa e deposita um beijo em meu pescoço. Não disse? Completamente doida.
– Saudades de você senhor Bittencourt – ela fala indo em direção ao sofá e se senta cruzando as pernas, mostrando mais do que deveria ao fazer isso.
– Como vai Dayane? – pergunto enquanto me sento ao seu lado.
– Ah não, voltamos a formalidade. Já disse querido que pra você é apenas Day – ela fala passando seus dedos longos pelo decote discreto de sua blusa, ao menos uma coisa discreta essa mulher tem.
– A que devo a sua visita? – pergunto ignorando seu comentário.
– Fiquei esperando seu telefonema para uma dose de whisky, mas você não ligou. – ela se aproxima lentamente de mim, eu me afasto discretamente até sentir minhas costas baterem no encosto do sofá.
– Você disse no e-mail que era sobre negócios – a questiono e um sorriso brinca em seus lábios.
– Nós vamos falar de negócios, mas agora que tal você parar de fugir de mim – sinto suas mãos alisarem minhas coxas. Como essa doida se aproximou tão rápido?
– Senhorita Dayane, é melhor você se afastar. Vamos falar de negócios foi para isso que você veio aqui – digo tirando suas mãos de minhas coxas, mas ela insiste.
–Shhhh querido, que tal relaxar um pouquinho você está muito sério.
– Chega! Acho melhor você ir embora – falo me levantando nervoso. Ela se levanta e para na minha frente.
– Gosto de homens que se fazem de difícil.
Antes que eu tenha a chance de responder a louca gruda seus lábios no meu. Seguro seus braços para afastá-la.
Mas ela passa seus braços pelo meu pescoço, a puxo com mais força até que finalmente me solta.
– Que porra. Você ficou louca?
– Ah vai me dizer que não gostou? – ela fala fazendo minha raiva aumentar.
Quando abro a boca para expulsa-la da minha sala, um soluço rompe meu desejo. Olho para a porta da minha sala e naquele momento percebo o que é ter um coração arrancado. Até agora tudo que eu sofri não parece nada comparado ao que sinto nesse momento. Vejo minha morena parada, com lágrimas molhando todo o seu rosto, seus olhos estão vidrados em mim.
–July... Meu amor. Olha não é nada disso – falo indo em sua direção, mas ela dá um passo para trás.
– Eu... Eu não quero nenhuma explicação. Não vim aqui para falar sobre nós, peço até desculpas por ter atrapalhado – bem feito babaca, poderia ter dormido sem essa, meu subconsciente que agora resolveu ser do contra grita dentro da minha cabeça.
– Por que está aqui? – pergunto em vez de virar homem e tentar explicar a ela o que realmente aconteceu.
– Agora não importa mais, como disse me desculpem por atrapalhar – July limpa uma lágrima que escapa dos seus olhos e sai da sala fechando a porta.
Fico parado completamente imóvel sem saber o que fazer. Meu coração implora para ir atrás dela, mas não devo, eu tenho que deixá-la, ela escolheu o trabalho e vou respeitar.
Sinto minhas pernas começarem a vacilar. Me sento no sofá com as mãos entre o rosto, eu deveria ter ido atrás dela, por tudo o que vivemos ela merecia uma explicação.
– Desculpa... Eu…
Levanto meu rosto para encarar a mulher que está parada a minha frente, de olhos arregalados, ela tenta falar, mas não quero ouvir sua voz.
– Saia da minha sala, espero que você realmente seja uma ótima advogada porque além de te processar, vou cuidar pessoalmente que você nunca mais assedie ninguém – grito nervoso.
– Por favor ... Eu só achei…
– Saia agora ou chamo os seguranças – a corto e ela se apressa em pegar suas coisas. Antes de sair sussurra um pedido de desculpas que eu ignoro completamente.
Sério o que mais falta acontecer? Por que se estiver faltando que venha logo. Porque sofrer a prestação está me matando.
July deve me odiar, agora nunca mais vai querer nem olhar na minha cara, mas o que eu esperava também eu já tinha estragado tudo muito antes dessa desvairada aparecer aqui e me beijar, mas o olhar da minha morena. Cristo! Preferia ter morrido ao ver aquele olhar, eu a magoei e não fui capaz de ir atrás dela, e falar o que? A verdade, falar do meu passado?
– Covarde Fernando é isso o que você é – falo comigo mesmo, mas meu subconsciente faz o favor de me responder.
Por que em vez de se lamentar não levanta essa bunda dai e vai atrás dela?
– Cala a boca! – grito de frustração.
– Senhor Bittencourt, me chamou? – Encaro minha secretária que me olha como se eu fosse louco, eu devo estar mesmo, estou falando sozinho.
– Não. Mas já que está aqui desmarque todos meus compromissos de hoje, estou indo embora.
– Sim senhor. Com licença – ela me responde de imediato e sai da sala.
Me levanto. Pego minha pasta, desligo meu computador e saio da empresa. Vou para casa preciso de uma dose de whisky, talvez até uma garrafa toda.
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Atração - Série Irresistível - COMPLETO
Roman d'amourJulia Rodrigues tem a vida virada de ponta cabeça, quando em um trágico acidente perde seus pais. Com o término do namoro e a responsabilidade de cuidar de sua irmã mais nova, July amadurece e se torna uma mulher forte e determinada. Como DJ e dona...