MÚSICA DE FUNDO (OPCIONAL)
Nos últimos dias, tenho percebido o quão vazia minha vida se tornou.Com um movimento sutil, empurrei de leve minha cadeira para longe da mesa de trabalho, aproximando-a da janela. As rodas já desgastadas pelo tempo e uso, fizeram um ruído baixo no chão. Abri uma pequena fresta entre as persianas para que pudesse olhar o lado de fora do prédio. Estávamos nos últimos dias de outono e os pequenos sinais do rigoroso inverno de Minnesota, já se faziam presentes. A época de chuvas havia terminado e a temperatura caído consideravelmente naquela semana. Recostei minha testa sobre o vidro e fiquei observando as pessoas que caminhavam na rua – aquele tinha sido meu passatempo favorito nos últimos meses – cada uma delas com uma expressão diferente no rosto, uma forma de andar ou até mesmo de falar. Quando percebia, já estava criando teorias de como seria a vida de cada uma delas e no final, a conclusão era sempre a mesma: Qualquer que fosse, era melhor do que a que eu estava vivendo naquele momento.
Quase completando meu vigésimo oitavo aniversário, eu levava a vida que muitas pessoas sonhariam – Ou não – Era solteira, sem filhos e com um emprego fixo que me proporcionava um salário razoável, o qual era suficiente para pagar todas as minhas contas e compras supérfluas. Era formada em Administração e possuía um apartamento ao qual consegui quitar recentemente. E por mais triste que possa soar, não tenho família. O único familiar que havia me restado após a morte dos meus pais aos meus quinze anos, era meu avô paterno. Mas ele veio a falecer há alguns anos atrás, devido a um câncer no pulmão. Desde esse acontecimento, acabei me fechando para o mundo e levando a vida no modo automático. Sem amigos, baladas ou relacionamentos. Apenas eu mesma e meu cachorro, um pequeno Scottish Terrier de pelagem negra. Meu fiel escudeiro e a melhor companhia que eu poderia desejar.
Meus dias e minha rotina resumiam-se em passar o dia em frente ao computador, fazendo sempre as mesmas tarefas do escritório de contabilidade em que trabalhava. Depois passava no mercado para comprar alguma coisa – comida congelada, na maioria das vezes – e finalmente, ia para casa para passar o resto da noite no sofá, enrolada em um cobertor assistindo Netflix. Embora que, eu já estivesse com poucas opções do que assistir.
Tudo ao meu redor parecia entediante e sem sentido. Me sentia deslocada, perdida, sem saber o que fazer para mudar aquilo. Não possuía sonhos ou ambições, não tinha nenhum objetivo pelo qual lutar. Nem mesmo interesse em socializar e interagir com as outras pessoas, o que revoltava alguns colegas de trabalho, incluindo, meu chefe.
– Emily? – a voz autoritária de sempre ecoou pela minha sala, tirando minha atenção da janela – Terminou de assinar todos os papéis que lhe entreguei esta manhã?
– Claro. Estão todos aqui. – Peguei a pilha fina de folhas A4, devidamente assinadas e entreguei a ele – Tem absoluta certeza de que sou obrigada a tirar férias?
– Acho que já conversamos sobre isso. – ele revirou os olhos, enquanto conferia se estava tudo ok.
– Eu sei disso, mas realmente acredito que...
– Essa folga fará bem para você. – ele soltou um suspiro baixo – Precisa parar de ficar apenas observando as pessoas de longe. Vá e se misture. Faça novas amizades, conheça novos lugares. Tenha lembranças da qual se orgulhar, Emily.
E com um pequeno sorriso de compaixão, ele se retirou. Ah, como eu detestava ficar de férias! Parecia que minha vida entediante era elevada ao cubo e observar as pessoas da janela de casa não era tão divertido quanto no trabalho, já que minha rua era praticamente deserta a maior parte do dia. Ao chegar em casa, tomei um banho relaxante e coloquei o meu pijama mais confortável. Preparei um macarrão simples e decidi brincar um pouco com meu cachorro. A companhia dele era o que me salvaria nesses dias em que seria obrigada a permanecer em casa. Uma bolinha colorida e chamativa bastava para que ele fizesse a festa dentro do apartamento, e em meio as correrias de um lado a outro, o pequeno Terrier acabou derrubando uma pilha de caixas que estavam empilhadas em um canto do closet. O que resultou em uma bagunça de papéis e objetos espalhados pelo chão.
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Beyond The River
RomanceAo encontrar uma carta deixada por seu avô - seis anos após seu falecimento - Emily encontra uma razão para mudar sua vida e sua rotina drasticamente. Mas ela jamais imaginou que a pequena e interiorana Courtland, pudesse lhe surpreender de tantas m...