O Oceano

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  Durante tempo demais tudo o que eu fiz foi ancorar meu pequeno barco no porto e reclamar das ondas fortes e de ventos violentos.
  Eu nunca estava contente. Eram sempre desculpas, não isentavam minha parcela de culpa.
  A vida simplesmente passava. Sem um sentido real. Ou uma razão de ser. E eu sentia um vazio crescer. E crescer.
  Achei que era falta de amor. Então comecei a procurar. Encontrei pessoas mais vazias e perdidas que eu,que não tinham nada a oferecer e ainda levavam algo bom de mim,deixando somente cicatrizes. Pensei que eu era o errado. E que havia um motivo para eu não ser digno de amor.
  Era uma vida solitária,eu só podia escutar as ondas e sentir o vento,de longe,sem conhecer a sensação verdadeira de ser abraçado pelo oceano.
  E todas as vezes que eu olhava para o céu, de noite,e colhia estrelas,eu imaginava onde estaria a minha felicidade.
  Surgiam novas desculpas,o trabalho,o cansaço,a falta de tempo,ou dinheiro,sempre haviam contas a serem pagas. E o vazio,só crescia. Eu não queria essa vida,eu não pertencia a esse lugar. Em meus sonhos tudo era tão colorido,aqui estou preso em preto e branco.
  Um belo dia,eu percebi que o erro era só meu. Eu havia desistido de viver. Que o amor devia nascer,primeiro,dentro de mim,que havia um tempo para todas as coisas e que eu devia sempre tentar ser uma pessoa melhor.
  E que o tempo nunca aceitaria as minhas justificativas. Quando chegasse a minha hora,mesmo sem ter vivido quase nada, ele me levaria embora.
  Enchi meus pulmões de fôlego e coragem e mergulhei o mais fundo que pude,fui o mais longe que o meu corpo suportou. Nem precisei de barco. Eu abracei o oceano. Aceitei meu destino. Fiz minhas apostas. E tomei o controle das minhas atitudes.
  E comecei a viver,enfim. Como uma criança recém-nascida. Estou lutando pelos meus sonhos.
  Não voltei nunca mais.

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