11. KATHERINE

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A casa está silenciosa, as luzes apagadas. Fico feliz por não precisar encarar mais ninguém agora. Benjamin ainda segura minha mão. Ele fez isso durante todo o caminho. O Underwood me conduz até o elevador e surpreendo-me quando ele entra comigo e aperta o botão.

Se as circunstâncias fossem outras, não perderia a oportunidade de provocá-lo. Ele só solta a minha mão quando chegamos ao quarto. Caminho até o closet e pego roupas confortáveis.

— Quer comer alguma coisa? Posso preparar para você.

Limito-me a negar, balançando a cabeça, e entro no banheiro. Ao avaliar meu reflexo no grande espelho e contemplar o estado deplorável em que me encontro, as lágrimas tornam a rolar em meu rosto.

A maquiagem está borrada, meus cabelos desgrenhados e o vestido... Ah! Parece que o encanto da Cinderela terminou de forma trágica antes da meia noite. Respiro fundo, tentando controlar os soluços à medida que retiro a maquiagem. Nunca imaginei que me encarar no espelho pudesse ser tão cruel.

Além de Kellan e suas ações nojentas, precisei encarar o passado nos olhos e fingir que ele não me afetava. Quando me encaro no espelho, vejo um pouco dele e isso machuca; machuca mais do que Kellan.

Enquanto a água quente escorre por meu corpo, quase queimando minha pele, tento lavar toda a minha vergonha. Inspiro e expiro devagar. Estou tremendo, à medida que a vontade de desabar novamente e romper a represa ganha proporções maiores. Enxugo meu corpo e visto o pijama. A camiseta deixa visíveis os hematomas em meus braços.

Não há um resquício da mulher cheia de autoestima que saiu mais cedo, há apenas uma garotinha assustada, cheia de perguntas e um rombo enorme no coração.

Ao abrir a porta, observo Benjamin arrumando a cama para eu dormir. A fração de um sorriso brota em minha face, principalmente quando observo a bandeja com frutas e mais algumas comidas ao pé da cama.

— Peguei algumas coisas, caso você sinta fome. Arrumei sua cama também, coloquei mais um cobertor se você sentir frio.

O machucado em seu rosto não está tão evidente. Seu olhar recai sobre meus braços. Seu corpo tenciona, suas mãos cerram em punhos, então ele respira fundo.

— Obrigada por tudo, ok?

— Eu vou fazer algumas ligações e já volto — Assente.

— O que aconteceu vai sair na imprensa?

— Vou fazer o possível para que isso não aconteça, ao menos quero preservar você — Responde-me, já com o celular no ouvido.

— E se ele vier atrás de mim de novo? Até mesmo depois que isso acabar — Sento-me no colchão, cogitando a possibilidade.

— No que depender de mim, Kellan vai ficar muitos anos na cadeia pelo que fez. Mas se ele for atrás de você de novo, daqui a três meses ou um ano, ele não vai ser preso, eu vou.

Assim que Benjamin fecha a porta, vou até minha parte do closet e pego uma caixinha pequena. Volto para a cama e me cubro com o cobertor. Devagar, abro a caixa e vislumbro as poucas fotos que tenho ao lado de meu pai. Ele continua o mesmo, exceto por algumas rugas e marcas de expressão, mas ele ainda tem o mesmo sorriso. Será que seu abraço continua acolhedor como antes?

Ao mesmo tempo em que desejo descobrir onde ele vive e questioná-lo sobre tudo o que aconteceu também desejo distância porque não consigo imaginar outro fim para essa história além de me machucar com as respostas.

Observo a última foto que tiramos juntos. Foi no dia do meu aniversário de seis anos. O sorriso no rosto dele não era o de um pai que estava prestes a abandonar a filha. Quando me dou conta, as lágrimas estão jorrando de tal forma que me fazem sufocar. Tento controlar os soluços, mas é em vão.

Primeiro Amor • Livro 1 | Série Por AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora