Saio da Dean Bau com o coração apertado, eu passei dois anos da minha vida me dedicando a esse trabalho, trabalhar em uma das melhores empresas de arquitetura era um sonho realizado, e agora eu perdi, mesmo com uma carta de recomendação, não vai ser a mesma coisa, aqui eu ganhei uma família além de colegas de trabalho, deixar tudo para trás e bem difícil.
Sigo para a faculdade, mesmo sem cabeça para a aula, vai ser melhor que responder ao interrogatório da minha irmã, mesmo sabendo que ela quer o melhor para mim quero poder resolver meus problemas sozinha.
Como já imaginava nada do que o professor fala eu presto atenção, fico torcendo para que as horas passem mais rápido, quando finalmente acaba me despeço dos meus amigos indo direto para casa. Chego e está tudo escuro, graças a Deus, minha irmã está no bar, vou direto para meu quarto, pego meu pijama de flanela deixo em cima da cama, e vou tomar um banho. Minhas lágrimas se misturam à água que molha meu rosto, me sento no chão e fico tentando diminuir toda a dor através do choro, como sinto falta da minha mãe, queria seus conselhos, sua ajuda, poder abraçá-la e ouvi-la dizer que tudo ficará bem.
Não sei quanto tempo fico debaixo do chuveiro, mas quando vejo meus dedos enrugados, finalizo o banho e vou me trocar.
Deito minha cabeça no travesseiro e é como se um peso estivesse em cima dela a pressionando tanto que até parece que vai explodir, pego um remédio na escrivaninha tomo e logo o sono leva embora todo o dia de hoje.
Acordo antes do despertador tocar, me levanto faço minha higiene pessoal e vou para cozinha, a casa está em silêncio, isso significa que tenho algumas horas antes da minha irmã acordar e me encher de perguntas, poderia dizer que estou de férias, mas não sei mentir muito menos para ela.
Como não sou uma chef cuca como a Júlia na cozinha, asso pão de queijo que tinha no congelador, pego suco de caixinha e café na cafeteira elétrica, e mesmo assim meu café ainda sai ruim, mas a culpa não é minha eu nem gosto de café, já e milagre eu conseguir fazer tudo o que eu fiz sem destruir a cozinha. Claro que meu braço não pensa o mesmo, afinal me queimei três vezes, eu sou muito boa nisso, em me cortar e me queimar claro, não em preparar café da manhã.
– Clarinha o que faz em casa essa hora? – me assusto ao ouvir a voz de July bem na hora que estava cortando os frios, e acabo me cortando com a faca.
– Que susto July! – falo indo até a pia para lavar as mãos
– Você está sangrando? Quantas vezes eu já disse para você tomar mais cuidado – ela fala parando do meu lado enrolando meu dedo em um pano.
–Que exagero July foi só um corte, não perdi o dedo não, e não precisa me tratar como uma criança – falo ríspida e minha irmã para um curativo no ar me olhando com uma careta.
– Desculpa não foi minha intenção te irritar – ela fala colocando o curativo no meu dedo, e se afastando para terminar o que eu estava fazendo.
– Desculpa July, não quis ser grossa com você.
– Tudo bem, mas porque você está assim? – pergunta sem parar de cortar os frios.
– Nada de importante... É... Então... Eu hum... Pedi demissão da Dean Bau – falo e logo escuto um grito de dor da minha irmã, a olho assustada e então percebo sangue em seu dedo.
– Você o que? Por que você fez isso? – ela me pergunta enquanto a levo para lavar o dedo na pia.
– Aconteceram alguns problemas na empresa, fraude para ser mais específica, eu ia ser a principal suspeita então pedi demissão.
– E você fazendo isso vai dar a certeza para todos. Clarinha você não deveria ter se demitido, e porque eles acham que foi você?
Depois que fiz um curativo o dedo da minha irmã, nos sentamos para tomar café e assim conto tudo a ela, a reunião, as fraudes, os projetos roubados e o fato de que se eu não fizesse isso o Fernando ia se prejudicar.
– E foi isso, fora que a Amanda estava fazendo de tudo para me prejudicar, logo ela ia conseguir e não queria sair de lá de cabeça baixa, eu não fiz nada.
– Aquela cretina, deve estar querendo levar outra surra, mas e o Fernando porque não te defendeu?
– Ele tentou, mas eu não poderia deixar que perdesse o emprego…
– Ele é o presidente deveria ter feito algo, tipo não ter concordado com sua demissão agora aquela vadia da ex dele vai ter certeza que foi você – fala me cortando, ela se levanta e vai em direção ao quarto.
– Aonde você vai? – a sigo, e a vejo trocando de roupas.
– Vou dizer umas verdades para aquele miserável e se tiver sorte vou encontrar aquela vaca loira e lhe dar a surra que ela merece – ela fala as palavras carregadas de raiva.
– Você não vai fazer isso, foi uma decisão minha, você não pode interferir assim na minha vida – ela para alguns segundos me olhando magoada pelas minhas palavras, mas logo ela passa por mim indo em direção à porta, antes de sair ela se vira e me olha.
– Você é tudo para mim, e eu não vou deixar ninguém te fazer sofrer – ela termina de falar e sai me deixando parada no meio do quarto sem saber o que fazer.
As horas se passam tento ligar para July, mas então percebo que ela deixou o celular em casa, começo a ficar desesperada com medo do que ela possa fazer. E se ela machucar Amanda ou o Fernando? Ela pode ser presa, pensar nisso me dá um choque de realidade, sigo para o quarto e pego a primeira roupa que vejo, quando estou me trocando escuto a porta do quarto da frente bater, ela chegou, corro para falar com ela, e quando entro no quarto a cena que vejo me parte o coração.
Ela está deitada de lado na cama, agarrada a um travesseiro como se fosse sua salvação, seu corpo inteiro treme e, sei que está chorando.
–July o que aconteceu, o que você fez? – falo me aproximando da cama.
– Nada…
– Droga July, você tem que controlar esse seu lado... O que você disse? – pergunto para saber se escutei direito
–Eu não fiz nada... Eu – um soluço escapa de seus lábios, eu rapidamente me sento do seu lado preocupada.
– O que aconteceu, porque você está assim?
– Ele estava beijando outra, eu entrei na sala e ele estava com outra… – sua voz sai trêmula e lágrimas molhando se rosto.
– A Amanda? – pergunto e ela nega com a cabeça
– Eu o amo tanto Clarinha, nunca senti isso por ninguém, porque as coisas são assim, será que é castigo pela morte dos nossos pais? – suas palavras trazem lágrimas aos meus olhos, me deito ao seu lado a abraçando.
– July você mais que ninguém merece ser feliz, ele te ama minha irmã, não sei o que aconteceu mais ele te ama.
– Eu também pensei isso, mas ele me deixou ir embora Clarinha, mais uma vez ele me deixou partir.
Abraço minha irmã com força, tentando fazer com que sua dor vá embora, nunca a vi chorar assim depois da morte dos nossos pais, talvez por que eu nunca a vi amar tanto um homem.
Faço uma oração silenciosa à nossa mãe pedindo que nos ajude a esquecer esses homens, que só nos causam dor.Juntas adormecemos e como se ouvisse meus pedidos sonho com minha mãe, um sonho que me fez pensar que tenho que lutar para ter o amor do Matt, e a certeza que minha irmã será feliz. Como e quando não sei, mas ela vai porque merece.
July
Quase dois meses que minha vida se resume em trabalhar e chorar, meus amigos fazem de tudo para me animar e às vezes eles até conseguem,mas é só chegar em casa que toda a dor volta e adormeço depois de secar a cota de lágrimas do dia.
Ver o Fernando beijando outra foi pior do que eu poderia imaginar, eu não soube o que fazer ou como reagir, só queria sair daquele lugar e no fundo do meu coração saí com a esperança que ele viesse atrás de mim, mas ele não fez.
Os dias se passaram e minha irmã não consegue arrumar outro trabalho, mesmo com a carta que Fernando deu a ela, e sempre que a encontro em casa ela está triste, isso acaba comigo.
Estou no bar arrumando o estoque, quando me sinto tonta. Parece que todo o bar está girando encosto-me a uma das prateleiras pra fazer passar, mas só piora, me sento no banquinho que tem no estoque e respiro fundo, até a vertigem passar.
Escuto a porta do bar ser aberta e alguém chamando meu nome, me levanto e sigo para a o balcão do bar.
– Mary que surpresa! – falo olhando para a mulher parada na minha frente, que me encara com um sorriso de felicidade.
– Oi July, senti saudades – ela fala se aproximando para me abraçar, e retribuo com carinho.
– Também senti, você sumiu.
– É a faculdade e tantos trabalhos que estava sem tempo para nada.
– Nem para as amigas? – falo fazendo cara de triste.
– Para de drama, para compensar o tempo perdido vim te chamar para almoçar, e antes que você diga não, já fiz até as reservas – a encaro e vejo uma versão feminina do Fernando, sempre mandona, saio dos meus devaneios quando ela estala um dedo na minha frente.
–Desculpa estava distraída.
– Percebi. Você está bem July? Estou te achando muito pálida.
– Estou sim, minha pressão que está caindo muito, me causando enjoos e acabo ficando sem comer – ela me olha de testa franzida.
– Há quanto tempo você está assim? – estranho sua pergunta, mas mesmo assim respondo.
– Faz uma semana, talvez menos.
– Você já foi o médico? – Mary pergunta preocupada.
– Não se preocupe não é nada demais, faz muito calor esses dias, e como não estou comendo direito acabo passando mal.
– Mesmo assim procure um médico, e agora vamos estou morrendo de fome – sorrio com seu comentário.
Depois de fechar o bar seguimos para o restaurante, o lugar é perto, quinze minutos depois de sair estamos entrando e dando nosso nome ao hostess do restaurante.
Quando ele pede para segui-lo olho por toda a extensão do lugar e estaco com quem eu vejo, Mary bate nas minhas costas, e meu sangue ferve de vontade de arrebentar a cara da mulher sentada conversando alegremente com um homem.
– Meu Deus July, porque… Aquela ali é a Amanda? – Mary pergunta parando do meu lado, apontando para a mesa a frente.
– Ela mesmo, aquela vadia que só atrapalhou a vida da minha irmã – falo dando um passo para frente, mas Mary segura meu braço me fazendo parar.
– July espera, olha quem está com ela – olho para o homem que está sentado à sua frente acariciando o seu braço.
– Quem é ele? – ela me olha como se eu tivesse duas cabeças.
– Aquele é o arquiteto que apresentou o projeto do meu irmão, e ele está nesse momento almoçando com a Amada ex-noiva e funcionária do Fernando, isso significa algo para você?
Quando uma luz se ascende na minha cabeça, tudo começa a fazer sentido, a Amanda armou para minha irmã. Esse foi o jeito dela se vingar, ninguém ia desconfiar dela, e Clara ia ser a principal suspeita, ela poderia ser presa.
– Vou matar essa cachorra! –tento me soltar do aperto de Mary.
– Se acalma…
– Como me acalmar? Você não vê essa desgraçada armou pra minha irmã! Vou arrancar cada fio de cabelo falso dela – falo cortando o que ela dizia.
– July fala baixo, assim ela vai nos ver – ela me puxa para fora o restaurante.
– E daí que ela vai nos ver? Eu quero mesmo isso, quero ver a cara dela quando perceber que já sabemos de tudo.
– Ah claro, e será nossa palavra contra a deles, não podemos provar nada, muito menos se você entrar lá e fizer barraco – fecho a cara com o seu comentário.
– Então vamos fingir que nada disso aconteceu? É a minha irmã que está sendo acusada.
– Eu não disse isso, vamos provar a inocência da Clara, e quem vai nos ajudar vai ser o Richard.
Fico confusa, e ela percebendo minha expressão, se adianta em me explica o plano que ela bolou.
– E você teve essa ideia toda agora? Que criatividade hein?
– Cunhadinha, não é a toa que serei advogada – ela fala cheia de orgulho.
– Tirando o cunhadinha, tenho dó dos bandidos.
– Para sorte deles, vou trabalhar na empresa da família, mas isso não importa agora, o que quero saber é se você topa desmascarar a Amanda? – ela me pergunta com expectativa.
– É claro que sim – sorrimos e batemos a palma das nossas mãos no alto.
– Me espera aqui já volto – ela entra no restaurante me deixando curiosa do lado de fora.
Mary teve uma ideia um tanto criativa demais, parecida com armações de novela, mas acredito que irá da certo. Terei que seduzir o tal cara, levá-lo para a minha casa, e dar algumas dose de whisky, depois que ele estiver bem a vontade fazê-lo falar, confessar que com a ajuda da Amanda roubou o projeto. É um pouco arriscado talvez ele desconfie, por isso vou precisa da ajuda dos meus amigos e Clara.
– Prontinho, podemos ir – Mary fala toda feliz.
– O que você foi fazer lá? – pergunto curiosa
– Tirar algumas fotos – ela me mostra o seu celular e vejo as fotos. Amanda o e o Richard estão bem íntimos, sorrio e seguimos para o carro.
Mary me deixa em casa, e estou ansiosa para contar para minha irmã, tudo o que descobrimos, isso vai trazer alegria à ela, finalmente vamos provar sua inocência e todos daquela empresa vão ter que implorar seu perdão.
Chego e minha irmã está sentada no tapete com um livro nas mãos.
– Clarinha tenho novidades, você não vai acreditar o que eu descobri hoje – ela me olha com curiosidade
– Fala logo July, para de suspense – fala quando demoro a contar.
Conto tudo a minha irmã, a surpresa de ver a Amanda com o seu cúmplice, a certeza de que ela armou para ela. Em nenhum momento vejo surpresa na expressão da minha irmã, isso só mostra que Clarinha já desconfiava de Amanda, mas logo seus olhos começam a se arregalar quando conto a ideia que Mary teve e que precisamos da ajuda dela para conseguir as provas da sua inocência.
– Você não está falando sério não é? – me surpreendo com a pergunta de Clara, principalmente porque ela não parece nada empolgada com o plano.
– Claro que estou, Clarinha é sua chance de provar a sua inocência, não podemos permitir que aquela vaca te tire o emprego e saia impune – ela se levanta deixando o livro cair no tapete.
– July ela não tirou meu emprego, eu saí porque eu quis.
– Mas foi por culpa dela, agora ela que vai perder o emprego – ela me olha de olhos arregalados.
– Se fizermos isso qual será a diferença entre nós e ela? Somos melhores que isso, vamos provar minha inocência do jeito certo, sem armações, sem enganar nem usar ninguém.
– Clarinha, mas esse é o único jeito.
– Não é não, eu não sou assim, não vamos fazer isso. Você não vai, é a minha vida, minhas escolhas e espero que você respeite isso – me surpreende com a determinação da minha irmã, mas ela é assim, certinha, honesta e de um grade coração.
– Eu não posso permitir que ela saia ilesa – tento argumentar, porque quero a ajuda dela, mas se não conseguir vou seguir com o plano mesmo assim.
– Você não tem que permitir nada, essa é uma obrigação da justiça, e eles vão provar minha inocência sem precisar humilhar ninguém como você quer fazer.
– Você é minha irmã, tenho que cuidar de você – falo quando lágrimas que nem sei porque escapam dos meus olhos.
– July não chora, mas eu não gosto disso. Para mim, humilhar ou ofender as pessoas não leva a lugar algum, não somos como ela, vamos deixar a justiça cuidar disso está bem? Agora vem aqui me dá um abraço, porque você anda muito sensível ultimamente.
Abraço minha irmã, mas isso não muda nada, vou provar a inocência dela e ainda mostrar para todos que aquela mulher não presta, principalmente para o Fernando.
Não toco mais nesse assunto com Clara, passo a tarde toda vomitando, minha irmã insiste para que eu vá ao médico, mas como sei que é apenas um mal estar, durmo até a hora de me arrumar e ir trabalhar.
Recebo uma mensagem de Mary avisando que passará no bar, para combinarmos tudo, mesmo com muitos protestos da minha irmã me arrumo e vou pra o trabalho.
Chego ao bar e Matt já está preparando seus drinques e Carol organizando o estoque. Quando Mary chega chamo meus amigos para uma conversa, conto a eles tudo o que está acontecendo e o plano. Nem preciso perguntar nada e Matt já se adianta em dizer que temos que ajudar Clara, depois ainda vem com esse papo de que ela é como uma irmã para ele. Sei.
Combinamos tudo para amanhã, Mary fala que sabe onde Richard almoça todos os dias, e essa vai ser nossa chance, como a reunião para apresentar as provas das fraudes será em dois dias, tudo tem que dar certo.
A noite no bar está tranquila, tirando as vezes que vou para o banheiro para vomitar, começo a me sentir fraca, e mais cansada do que se tivesse trabalhando dois dias virados em uma boate. Peço aos meus amigos que cuidem do bar, para que eu volte para casa, preciso dormir, eles se preocupam, mas garanto a eles que não é nada demais.
Chego em casa, e Clarinha está dormindo, ainda bem, se não ela ia se preocupar à toa, preparo um lanche. E mal termino de comer e já sinto as náuseas voltando.
Mesmo depois de um banho sinto como se tivesse sido atropelada, meu corpo está exausto, meus olhos estão pesados. Abro a caixinha em cima da minha penteadeira para pegar um remédio, e vejo minhas cartelas de anticoncepcional. Depois que terminei com Fernando parei de tomar, meus olhos param em uma cartela inacabada, a pego nas mãos, e sinto meu coração parando na boca, me sento na ponta da cama para não cair.
–Não pode ser – falo sozinha, procuro meu celular e o encontro em cima do meu travesseiro, pego rapidamente e com as mãos trêmulas vou até o calendário. Eu sofri o acidente uma semana depois de comprar minha última cartela de pílula, e olhando para ela eu só tomei três, ai meu Deus, depois disso não tive cólicas.
– July respira não é nada disso, você está imaginando coisas – falo com lágrimas molhando meu rosto.
Olho do celular para a cartela e a certeza só aumenta, grávida, eu estou grávida.
Esse é o meu último pensamento antes de tudo ficar escuro.
Acordo e ainda está a noite, abro os olhos, e pisco várias vezes. Droga, estava tão cansada que dormi na ponta da cama, me arrasto até encostar minha cabeça no travesseiro e volto a dormir, dessa vez sem sonhos estranhos de gravidez.
Acordo com o barulho do toque do meu celular, olho para o lado e ele não está na cabeceira da cama, o procuro e o sinto vibrar nos meus pés. Tento pegá-lo, mas não consigo em vez disso derrubo no chão algo que estava do lado dele, frustrada, me ajoelho na cama e pego o celular, atendendo sem nem ver de quem é o número.
Escuto a voz de Mary do outro lado da linha.
– July, cadê você?
– Em casa, porque o que aconteceu? – pergunto tentando reprimir um bocejo.
– Você estava dormindo?
– Claro, é o que as pessoas fazem quando se é de madrugada ainda – falo querendo voltar a dormi logo.
– Mas é quase meio dia! Estou aqui no restaurante, daqui a pouco o Richard chega e você ainda está dormindo? – Mary fala rindo.
– Meio dia, é sério? Droga! Perdi a hora, chego aí daqui a pouquinho – desligo o telefone é corro para o banheiro.
Tomo um banho rápido, escolho um vestido colado ao corpo, na cor azul, e um scarpin preto. Prendo meu cabelo em um rabo de cavalo, faço uma maquiagem leve, pego minha bolsa e saio de casa. Não encontro Clarinha, provavelmente saiu para procurar emprego.
Chego ao restaurante e vejo Mary impaciente do lado de fora, andando de um lado para o outro, apenas a comprimento e entro no restaurante, assim que me sento, e o garçom me traz o cardápio vejo Richard em uma mesa de frente para mim. Ele me olha e sorri, faço o mesmo para ele, finjo olhar o menu, e alguns minutos se passam, torço mentalmente para que ele se aproxime de mim, assim será tudo mais fácil.
– Boa tarde – bingo.
– Boa tarde – respondo olhando para o homem parado a minha frente, Richard é um homem muito atraente, e tem uma voz grave e sexy.
– Posso? – pergunta apontando para a cadeira vazia a minha frente.
– Fique à vontade – mesmo com muita vontade de enfiar a mão na cara dele por tudo que fez a minha irmã, forço um sorriso no meu rosto, o mais sexy possível.
– Almoço aqui todos os dias, e nunca a vi nesse restaurante – ele começa a puxar assunto e eu entro no seu jogo.
Passo uma hora tentando fazer o Richard se interessar por mim e acredito que consegui, o convenci a tomar um drinque em minha casa hoje à noite. Ele insistiu para ser em seu apartamento, mas depois de fazer algum charme ele aceitou meu convite.
Richard vai embora do restaurante com um sorriso no rosto, sorriso esse que logo vai sumir, espero meia hora para sair do restaurante e encontrar Mary.
– E aí como foi? – ela pergunta assim que entramos em seu carro.
– Tudo certo, hoje à noite ele irá até a minha casa, agora vamos torcer para que ele confesse.
– Ele vai, tenho certeza disso.
O dia passa rápido, a ansiedade aumenta quando a hora do Richard chegar se aproxima, Clarinha pergunta se está tudo bem, eu digo que não estou me sentindo bem, se ela pode ir para o bar no meu lugar, ela aceita depois de me fazer prometer que irei ver um médico.
Clarinha sai de casa alguns minutos antes de Mary chegar, ela parece tão nervosa quanto eu, isso tudo tem que da certo, estou mentindo e enganando minha irmã, sei que ela vai ficar muito chateada, mas preciso disso.
Oito horas em ponto minha campainha toca, é ele. Mary posiciona a câmera de um modo que fique de frente para o sofá sem ser notada.
– Pronta? – Ela me pergunta.
– Para provar a inocência da minha irmã, sempre.
Espero Mary se esconder, e vou abrir a porta para Richard, ele me olha de cima a baixo. Estou usando uma calça de couro preta, uma blusa de renda vermelha e um sapato de salto combinando com a cor da blusa.
– Linda como eu imaginei que estaria – sorrio com seu elogio e peço que ele entre.
– Sente-se, gostaria de beber alguma coisa? – pergunto depois de que ele se senta no sofá.
– Whisky duplo, com gelo por favor – sigo para a adega no canto da sala e pego sua bebida, sinto seu olhar nas minhas costas, e uma onda de enjôo vem quando penso isso, respiro fundo, e sigo para o sofá me sentando ao seu lado, entrego sua bebida e fico com um Martini.
– Então July, no que você trabalha?
– Sou DJ, e dona de um bar – respondo no automático, mas logo me arrependo, ele não precisa saber tanto de mim.
– Interessante, você parece bem independente – Richard fala tomando um gole do seu whisky.
– E você é arquiteto certo? – mudo o rumo da conversa para fugir de suas perguntas sobre mim.
– O melhor na verdade – ele fala cheio de orgulho, só se for nos seus sonhos babaca.
– Então você trabalha na empresa... É... Como é mesmo o nome? Dean Bau, lembrei – ele se remexe desconfortável.
– Não, essa empresa é concorrente da minha, ela tenta ser a melhor, mas eu sempre ganho.
– Interessante, é que vi em algumas revistas falando sobre essa empresa, por isso pensei nela.
–Tudo bem minha linda, mas eu não vim aqui falar de negócios, vamos falar de você – ele fala se aproximando e eu me levanto rapidamente.
– Mais whisky? – aponto para seu copo, ele vira o restante do líquido em sua boca e me entrega seu copo, vou até a adega e volto a enchê-lo.
– Deve ser difícil para uma mulher ser DJ não é mesmo? Se fosse homem, talvez fosse mais fácil – além de babaca é machista, respiro fundo para não responder como ele merece, sorrio e volto a me sentar na sua frente, lhe entregando a bebida antes de responder.
– Hoje em dia não, garanto a você que sou melhor que muitos homens por aí.
– Disso eu não tenho dúvidas – ele fala olhando para minhas pernas.
– Ser arquiteto deve ser mais difícil, principalmente com isso de ter concorrência, nem sempre se pode confiar em todos – ele toma mais um gole generoso de sua bebida.
– Essa é parte boa, a competição, ver o outro perder, principalmente se sua derrota implica traição de seu próprio pessoal – ele fala e sei que esse comentário é por causa da Amanda.
– Você já foi traído pelo seu próprio pessoal? – pergunto me fazendo de desentendida.
– Não, claro que não, mas em algumas empresas sempre acontece. A empresa que você citou, a Dean Bau, por exemplo, a ex noiva do presidente o traiu. Deu seus projetos para a concorrência e colocou a culpa na secretária – sinto meu sangue ferver de raiva, minhas mãos começam a tremer, e ver esse miserável rindo só aumenta minha raiva.
– O noivo é o Fernando? – ele me olha de testa franzida.
– Como você sabe?
– Eu li na mesma reportagem que falava da empresa – minto, e ele não percebe nada muito pelo contrário continua se vangloriando.
– Amanda a ex noiva me procurou pra me entregar um dos projetos, mas infelizmente ele descobriu e não deu muito certo – ele fala com um sorriso de deboche, pensando que está me impressionando.
– E porque ela fez isso? – ele sorri, e começa a se aproximar.
– Para tentar ter uma chance comigo.
– E ela conseguiu?
– Que tal parar de falar disso, e você me mostrar seu quarto? – seu pedido me deixa nervosa, me levanto do sofá.
– Antes eu gostaria que você experimentasse alguns drinques – dou uma desculpa rápida, pegando meu celular mandado uma mensagem para o Matt.
– Drinques? – ele pergunta confuso
– Eu te disse que além de DJ sou dona de um bar, aprendi alguns truques, gostaria de te mostrar.
– Estou ansioso para conhecer todos os seus truques – ele sorri e finjo não ter notado suas palavras com duplo sentido.
Sigo para a cozinha, torcendo que ele não me siga, mas ele o faz, e se senta no banco, fica me olhando, e tenta puxar assunto, perguntando do meu trabalho, do meu bar.
Quando termino o meu drinque, lhe entrego um Apple martíni, e ele agradece.
– Isso está delicioso, do que é feito?
Antes que eu possa responder sua pergunta, escuto a porta da sala sendo aberta. Graças a Deus, Matt entra e encara Richard que está de olhos arregalados.
– O que está acontecendo aqui?– Matt pergunta se aproximando de Richard.
– Ela me convidou para um drinque – Richard fala se levantando colocando sua bebida na bancada.
– Amor eu posso explicar não é nada disso que você está pensando, eu achei que você só voltaria de viagem amanhã – falo e Richard me olha espantado.
– Você é casada? – me pergunta.
– Sim, esse é o meu marido Mateus.
– Eu quero saber o que esse cara faz aqui – Matt fala fechado os punhos e se aproximando de Richard, ele se afasta levantando as mãos.
– Olha cara eu não sabia que ela era casada, eu juro, estou indo, sinto muito…
Richard corre para a porta, e escuto quando ele a bate e corre para a rua. Olho para Matt e juntos começamos a rir, saio de trás do balcão e me jogo nos braços do meu amigo, agradecendo por tudo, ele retribui o abraço e beija minha testa.
– O que está acontecendo aqui?– me solto dos braços de Matt e encaro minha irmã que me olha com mágoa.
– Clarinha... Oi... O que você faz aqui? – pergunto, sem esconder o nervosismo da minha voz.
– Eu moro aqui – ela responde olhando de mim para Matt
– Conseguimos, deu certo! – Mary sai de dentro do quarto e minha irmã a olha, depois se volta para mim.
– O que deu certo Júlia? – ela pergunta com a voz embargada.
– Clarinha eu precisava provar sua inocência, e consegui. Richard confessou tudo, agora você está livre das acusações – falo me aproximando dela, mas ela se afasta.
– Mesmo eu te pedindo para não fazer isso? – lágrimas escorrem pelo seu rosto, e nesse momento vejo como a magoei.
– Clarinha eu faço tudo por você…
– Chega Júlia, cala a boca, para de falar que você fez isso por mim, porque não é verdade. Você fez isso por você, por ser egoísta e só pensar em si, você queria provar para o Fernando que a Amanda não presta, e usou a desculpa de me ajudar para fazer isso – me assusto em ver minha irmã gritando, ela nunca faz isso.
– Não, não é isso Clarinha, eu só queria te proteger.
– Me proteger? Eu tô cansada, de você querer me proteger, você se acha nesse direito, mas você não tem. Nossos pais estão mortos, mas eu nunca te culpei, então para de usar essa culpa e achar que tudo que você faz pode ser justificado por ela, por que não pode. Eu te pedi para não fazer, mas como só importa o que você quer você não deu a mínima, espero que você esteja feliz, por que para mim você e a Amanda são iguais! – sinto os braços de Matt sobre meus ombros quando começo a chorar.
Clarinha encara Matt e depois a mim, sei que ela está interpretando tudo errado.
– Clarinha, por favor... Me escuta.
– Estou cansada de te escutar, cansada de você se metendo na minha vida, está na hora July de você perceber que eu cresci e que eu posso tomar minhas próprias decisões.
Clara sai batendo a porta com força, tento ir atrás dela, mas sou traída pelo meu corpo, sinto como se a casa estivesse girando, sinto os braços do Matt me segurando para não cair, e tudo fica escuro.
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Atração - Série Irresistível - COMPLETO
Storie d'amoreJulia Rodrigues tem a vida virada de ponta cabeça, quando em um trágico acidente perde seus pais. Com o término do namoro e a responsabilidade de cuidar de sua irmã mais nova, July amadurece e se torna uma mulher forte e determinada. Como DJ e dona...