Capitulo 1 [Revisado]

179 12 14
                                    

Lua na multimídia 👆🏻
" Querida, eu espero não ter que te chamar outra vez." - Mamãe fala e sua voz já não tem a mesma paciência de antes. - "Vou contar até 3!"

" Já levantei." - Não espero pra ver o que acontece quando a contagem chega ao fim. Não me lembro de ter ido dormir tão tarde para ter tanto sono, acho que nem o café mais forte me faria acordar.

Meu nome é Lua Valente e no auge dos meus 16 anos, estou voltando a morar com meu pai. Faz alguns anos que meus pais se separaram e em um acordo, nada amigável, a minha guarda se tornou compartilhada. Tenho dois irmãos mais velhos, que tiveram poder de escolher e ambos decidiram morar com meu pai. Não por preferência, mas ambos queriam fazer faculdade fora. Minha mãe sofreu bastante com a decisão de Willian e Bernardo, a saudade era grande e a insegurança gritante. Mas com o tempo ela entendeu que aquilo era melhor para o futuro dos dois.

Estava certa em achar que um café não me faria acordar, então optei por um banho gelado. Havia separado a roupa que usarei hoje, uma calça jeans comum com uma blusa moletom cinza, um tenis branco simples e um casaco para o clima frio de Londres. Resolvi passar apenas um gloss e um mascara de cilios para disfarçar a enorme cara de sono.

"Bom dia mãe" - Falei dando um beijo em seu rosto. - "Que cheiro gostoso, vou sentir saudade do seu café a manhã."

"Bom dia querida, animada?" - Pergunta colocando o café na mesa e me olhando com seus olhos apertadinho e cheios de amor - "Se quiser da receita, se bem, que seu pai deve ter uma empregada."

"Todas as vezes que eu fui, foram diferentes. Mas sempre aminada." - Falei pegando uma torrada, levanto as mãos e balanço, como se tivesse agitando pompons. - "Vou sentir muita falta sua e do vovô. Por falar nele, onde ele tá, não vai toma café com a gente?"

"Seu avô está no escritório." - Falou  tomando um gole do seu café. - "Ele disse que estaria aqui. Vai chamar ele."

"Vou escovar meus dentes e aproveito e falo com ele." - Falei limpando o canto da boca que estava um pouco sujo.

"Saímos em 10 minutos." - Ela fala olhando para o relogio de pulso.

Junto as coisas que vão na minha bolsa de mão. Celular, carteira e fones, odeio carregar peso. Faço o caminho até o escritório do vovô, reparo em cada lugar daquele corredor que já presenciariam minhas maiores quedas e guardo cada detalhe da minha casa. Fica difícil respirar, conforme a porta se aproxima. Nunca fui boa nisso. Me despedir das pessoas que eu amo, já deveria ser costume, mas a sensação é sempre a mesma. Bato três vezes na porta e empurro devagar. Os cabelos grisalhos parecem mais claros devido o sol que entra pela janela, a cadeira vira quando eu entro na sala e eu vejo seus olhos. Os olhos mais azuis do mundo, nenhum oceano tinha esse azul, era seu, sempre foi.

"Entra, bonequinha." - Escuto sua voz suave vindo da mesa no central, ele sorri pra mim. No móvel a sua direta tem uma foto, uma foto bem amarelada pelo tempo, que realça ainda mais o charme dela estar ali, onde ele e vovó estão sorrindo um para o outro. Minha verdadeira meta de relacionamento. Perdemos ela bem cedo, mas eu me lembro de cada detalhe da sua personalidade e aparência. Lembro de quando a perdemos, nunca me esquecerei, talvez já seja parte de mim.
                                *Flashback*
"Vem mamãe, rapido" - Falo adentrando a casa dos meus avós. Subo as escada rapidamente, péssima escolha. Tinha cada canto daquela casa decorado. Entro no quarto sem pedir licença e me deparo com uma cena estranha.

"Oii vô" - Chamei ele sorrindo - "Porque a vovó tá assim? Ela tá cansada? Eu posso cozinhar hoje?" - Falo me aproximando da cama como a criança curiosa que sempre fui.

"Sua vovó, querida, estava muito cansada." - Ele me sorri e segura minhas mãos pequenas. - "Ela cumpriu toda missão dela aqui e agora está junto com as estrelinhas."

"Mas, quando eu vou ver ela denovo?" - Falo choramingando baixinho, a sensação de não ver ela nunca mais é, terrivelmente dolorosa e angustiante.

"Você pode ver ela em cada coisinha que ela gostava, bonequinha." - Ele aponta para o jardim. - "Poderá ver ela no despertar do sol, nas ondas do mar, em cada florzinha que ela cutivou com tanto amor e em cada momento que viveu com ela. As mémorias são eternas, mesmo que as pessoas não sejam."

"Então ela vai me ver usando o vestidinho que ela fez?" - Rodopiei para mostrar melhor o vestido.

"Ela com certeza está vendo, bonequinha." - Ele abre um sorriso mediano e completa. - "Ele te deixou ainda mais bonita."

                           *Flashback off*

Dói pensar nela, não do modo angustiante que doía quando eu cresci e passei a entender. Mas minhas memórias são vividas e ainda sinto sua presença pulsante atráves delas. O sentimento é forte. Parece que sinto sua presença em cada lugar que ando, e ao mesmo tempo que isso me mata, me sinto fortalecida também, não tem nenhum lugar sequer que não me lembre ela, dizem que nós éramos parecidas e nunca me fizeram um elogio tão bonito.

"2 reais pelos seus pensamentos, bonequinha." - Ele fala quando percebe que estou calada.

"Eu só tava gravando esse seu rosto lindo." - Falo beijando a bochecha e abraço ele forte, como se pudesse fundir nossos corpos para que ele estivesse sempre comigo. - "Só vim me despedir, vô."

"Seu pai tem que parar de te tirar de mim." - Ele abraça ainda mais forte. - "Esse coração velho não aguenta de saudade, bonequinha." 

"Esse seu coração aguenta sim, seu José." - Falo rindo do seu drama familiar. -"Vou sentir sua falta todos dias."

"Não sei como eu vou viver sem você, bonequinha." - Fala com uma vozinha baixa que parte meu coração.

"Eu prometo te ligar todos os dias por vídeo chamada." - Ele torce o nariz quando eu faço menção a tecnologia.

"Eu não sou adepto a essas tecnologias, bonequinha." - Ele parece lembrar de alguma coisa. - "Te comprei uma coisa, pega na segunda gaveta, por favor."

"Não precisava, vô." - Falo enquanto rumo para o local indicado por ele, uma caixinha de veludo me surpreende.

"Eu te comprei uma coisinha simples." - Ele abre a caixinha e revela uma correntinha, prata e com o pingente em formato de lua. - "Não sei se sabe, mas eu e sua avó escolhemos seu nome. O ponto de luz no meio da nossa escuridão. Você nasceu em uma época difícil e iluminou nossa vida, exatamente como faz agora."

Não me aguento quando ele termina de falar e acabo chorando. De saudade, de alegria, de felicidade, de amor. Um misto de sentimentos malucos e desordenados.

"Eu não te aguento, vô." - Falo abraçando ele fortemente. - "Eu preciso ir. Te amo muito."

"Eu te amo mais." - Ele aperta minha mão e deixa um beijo casto aqui.

                                                                                                    [

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

                                                                                                    [...]

Pra muitas pessoas pode parecer que dói menos com passar do tempo, já que se despedir se tornou rotina. Mas nunca dói menos, muito pelo contrário, dói mais com o passar do tempo.

"Promete que vai me ligar todos os dias?" - Ela sorri meio tristonha.

"Eu prometo, mamãe." - Falo abraçando-a forte. - "Te amo, muito."

"Eu te amo mais." - Fala quando eu rumo para a sala de embarque. Algum tempo depois eu já estou no avião e antes mesmo de decolar, já estou cochilando.

O brilho de Lua ValenteWhere stories live. Discover now