Novo Começo (1/romance/fantasia)- Degustação

Capitulo 3 - Anjos existem...

Kaliel...

Ela me ajuda a caminhar até sua casa, uma cabana pequena que me surpreendeu ao entrar, por sua organização, subo as escadas com dificuldade e me ajuda a sentar na cama.

– Vou buscar algumas coisas, para fazer um curativo em seus cortes. – ela diz saindo às pressas do quarto.

Retiro minha camisa com cuidado, meu corpo está todo dolorido, Muriell teve sorte dessa vez, olho o machucado e realmente não é nada bonito de se ver, as armas de anjos ou demônios são mais poderosas que as humanas, por isso demorará bem mais para cicatrizar.

A moça de cabelos longos e rosto delicado volta, a olho e ela parece me encarar, em transe, procuro em seus olhos o que ela está pensando, mas sou surpreendido com seus movimentos rápidos vindos ao meu encontro.

Ela senta do meu lado com uma bandeja nas mãos, olha para mim e me deito na cama, deixando ela cuidar das minhas feridas. Apesar de aparentar muito jovem, parece ser alguém que sabe muito bem o que quer da vida, vi determinação em seus olhos e me encantei por sua alma, pura e boa. Nós conseguimos ver mais do que os humanos, consigo sentir bondade nas pessoas e ela consegui passar confiança para mim no primeiro instante que a vi.

Olho seus movimentos precisos e delicados, as vezes doe o seu toque, mas ela precisa retirar toda a sujeira dos ferimentos. Sinto que está com medo de mim, mas seus olhos dizem que isso será temporário.

– Está com fome? – Ela me pega de surpresa, nem havia percebido que acabou de fazer os curativos.

– Um pouco. – digo sem jeito, ela me encara de tal maneira que sinto arrepios.

– Vou buscar algo para você comer. – diz se levantando e a vejo partir mais uma vez.

Pouco tempo depois ela surge com outra bandeja que deposita ao lado da cama, no bidê, me ajuda a sentar, agradeço e pego a bandeja, me trouxe sanduíches, maçã e uma xícara com um líquido amarelado, aproximo da boca meio desconfiado, mas ao sentir o gosto e o cheiro, é chá de camomila.

Ela se afasta e senta na poltrona no canto do quarto, mordo o sanduíche e vejo que estou realmente faminto. Sinto olhares me observando, paro de mastigar e lembro de um detalhe importante.

– Kaliel.

– O que? – ela pergunta um pouco confusa.

– Kaliel, meu nome é Kaliel, como você se chama?

– Isadora.

– Muito obrigado, senhorita Isadora.

– Eu que devo agradecer, afinal a flecha iria me atingir.

– Não fiz mais que o meu dever – digo por que é verdade, a briga era entre mim e Muriell, Isadora não tinha nada a ver com isso e Muriell não iria se importar em matar alguém para me atingir.

– Porque aquele homem queria te matar? E porque ele disse aquelas coisas? – Olho para Isadora e paro de comer, sei que ela quer respostas.

– Ele estava querendo algo, não sei direito o que, não consegui descobrir, mas consegui impedi–lo ou pelo menos atrasar seus planos. – é o que acho, mas não tenho certeza se é verdade – Não sei exatamente o que ele está tramando, mas coisa boa que não é. Muriell é muito vingativo, só porque não aceitei ficar do seu lado e tentei destruir seus planos, ele quer me ver morto – a história toda, de todos esses anos perseguindo ele, é isso.

– E como a flecha não me atingiu? ele disse que ela é capaz de ultrapassar duas pessoas – respiro fundo, a garota é esperta.

– Exato, ultrapassar duas pessoas, mas ele se esqueceu que eu não sou exatamente uma pessoa – cedo ou tarde iria ter que contar a ela.

– Como? Você é um humano igual a mim – de aparência sim.

– Não, não sou humano.... não deveria te contar – estou acabando de quebrar uma regra grave – Mas sinto que posso confiar em você, prometa que vai guardar secreto, não pode contar a ninguém e ninguém deve saber que estou aqui, pois se Muriell desconfiar que estou vivo, ele vira atrás de mim e poderá me matar ou fazer coisa pior – Nem quero pensar o que ele pode fazer.

– Prometo, não contarei a ninguém, pode confirmar em mim, vejo que também posso confiar em você, apesar de que não sou de confiar muito nas pessoas, mas algo me diz que você é bom e de confiança – arregalo os olhos, tenho o mesmo pensamento sobre ela.

– Pois bem.... eu sou um – respiro fundo – um anjo, na verdade um anjo guerreiro, luto para defender as coisas boas/ o bem, contra aqueles que desejam destruí-las.

– Mas se você é um anjo, cadê suas asas? – Por que todo humano acha que todo anjo precisa ter asas.

– Sabe senhorita Isadora, nem todos os anjos têm asas, os anjos guerreiros como eu, não possuem asas. Já os anjos de oração, esses possuem, depende da missão de cada anjo.

Isadora fica em silêncio, acho que está avaliando a situação, espero que acredite em mim. Poderia ficar invisível, assim ela teria certeza, mas estou fraco demais para isso. O jeito é convencê-la com palavras.

– Não se preocupe, sei que não é normal os humanos nos verem e já imaginava sua reação, na maioria das vezes nós ficamos invisíveis aos seus olhos, mas como eu estou muito fraco não consigo realizar esse feito. Por isso não posso ir ao hospital, quanto menos me virem, melhor, a maioria dos humanos não são de confiança.

– E porque você os defende então? se como você mesmo disse não são de confiança – essa ela me pegou desprevenido, achei que queria uma prova do que eu acabei de dizer.

– Eu disse a maioria senhorita Isadora, como em qualquer espécie a sempre os bons e os maus e eu defendo as coisas boas/ o bem. Apesar dos humanos serem uma das piores espécies que conheço, eles também são uma das mais sentimentais, o que me encanta em vocês é o amor, nem todos de sua espécie possuem isso visivelmente, mas até os piores tem sentimentos por determinada causa, mesmo que eles digam que não, mas vejo nos olhos deles que estão mentindo.

– Poderia fazer a gentileza de me chamar somente de Isadora, ficaria grata – ela diz séria, me fazendo sorrir de seu pedido – Porque espécies que conhece?

– Por que já vi muito mais seres do que você possa imaginar.

–Tá – pensa um instante – Se existe anjos, deve existir também demônios, vampiros, fantasmas, lobisomens, bruxas? – Metade é história para crianças dormirem, inventada por humanos, mas até que ela tem razão.

– Não poderei responder, por mais que pareça que a resposta seja sim, posso dizer que nem tudo que o ser humano diz existir, existe, e a muito mais do que ele diz conhecer. Mas volto a repetir, sempre existem os bons e os mal, por exemplo, Muriell era um anjo assim como eu, mas infelizmente se tornou malvado.

Isadora..

Não sei realmente o que responder depois disso, essa história dele ser anjo é difícil de acreditar, mas faz sentido. Ele acaba de comer e parece cansado, melhor parar de fazer tantas perguntas.

Levanto–me e pego a bandeja, Kaliel observa–me, parece esperar a próxima pergunta, mas não vou fazer agora, ele precisa descansar, assim como eu. Olho para ele, realmente tem a cara de um anjo, foi o que pensei quando entrei no quarto e também fiquei sem ar ao ver aqueles braços cheios de veias e músculos levemente definidos. Sinto meu rosto corar, ele me olha de forma curiosa, querendo saber o que estou pensando, espero que ele não leia pensamentos.

– Seria bom você descansar um pouco, estarei lá em baixo, se precisar de algo é só chamar – digo rápido, antes que veja o quanto estou nervosa com sua presença, Kaliel sorri, fazendo eu me apaixonar por aquele sorriso. Saio rápido do quarto, por segurança técnica.