O Portal

52 12 4
                                    



   Naquele dia, Morgana se encontrava inquieta. Ela sabia o porquê da sua inquietação. Ninguém consegue fugir de suas origens. E ela sabia também que há anos suas origens a chamavam.

Morgana chegara aos seus quinze anos. E sendo uma linda adolescente de cabelos ruivos e rostinho pontilhado de sardas, seria inevitável que chamasse a atenção de todos os colegas de sala de aula e até mesmo do colégio.

Porém Morgana apresentava um comportamento estranho. Sempre isolada, nas aulas de História aparentava ter ensinamentos que ninguém tinha. Até mesmo o professor ficava boquiaberto.

Ela parecia ter vivido partes da antiguidade em tempo real.

Assim, ela foi se tornando alvo da inveja e das piadas das colegas. E os amigos se distanciaram.

Sozinha, ela começou a tentar entender o porquê de tais fatos.

E entrou num universo muito desconhecido... E paradoxalmente familiar a ela. O universo dos sonhos... Mas os sonhos de Morgana eram absurdamente dolorosos.

Ela morava na periferia E sua família parecia querer se esconder, em uma casa simples, na última rua do bairro. Por isso, saia do colégio às dezessete horas e sacolejava em um ônibus durante duas horas, para poder chegar. No percurso, um pensamento constante a martelar suas mente... Um objeto que poderia desvendar todo o mistério. Mas qual?

Chegando a sua casa, ela não quis jantar. A fome estava se tornando menor a cada dia. Em contrapartida, as preocupações, incomuns para aquela idade, se tornavam a cada dia maiores.

Enquanto as meninas de sua idade pensavam com qual roupa poderiam seduzir os colegas de sala, Morgana pensava quem ela era. Por que a cada dia, parecia ter menos identidade.

Deitada, podia ver a luz da lua pelas frestas do telhado. A vontade de sair e dormir ao ar livre era imensa, mas a violência era muito grande. Constantes assaltos e estupros aconteciam por todos os lugares.

Olhando para os pontos de luz que vinham do alto, Morgana dormiu.


Encontrou-se numa floresta. Uma multidão enfurecida corria atrás dela, com tochas acesas. Naquela escuridão imensa, apenas as luzes dos seus perseguidores iluminavam o seu caminho.

Mas também era essa luz que poderia fazer com que ela fosse encontrada. Ela sabia, mesmo sem que ninguém houvesse dito, que eles queriam mata-la.

Então, de repente ela tropeçou. Sentiu uma dor enorme partir uma de suas pernas, já fracas pela corrida.

As luzes se aproximaram e um círculo luminoso se formou em redor dela. As tochas iluminavam homens rudes, de cabelos desgrenhados e bocas sorridentes pela vitória sobre a caça exibiam dentes podres.

Com cordas nas mãos, aproximaram-se dela. E pela primeira vez em sua vida, Morgana sentiu a presença da morte.

Ela não sabia por qual motivo, mas tornou-se claro que eles queriam mata-la. Tão claro quanto a luz que apareceu diante dos olhos de Morgana... Diferente, suave e poderosa frente à luz vermelha do fogo das tochas. Ela agarrou essa luz e acordou.

O suor escorria por seu rosto e molhava os lençóis. Não podia abrir a janela. Mas não conseguiria dormir novamente.

Essa era a resposta para todos os seus questionamentos. A luz que ela agarrara em seu pesadelo, sabia ser a de um espelho.

Naquela noite, ela não conseguiria dormir. Iria começar a montar o quebra cabeça. Afinal, nunca ninguém havia dito nada. Ela seguira sempre o instinto. E lera sobre os espelhos.

O PortalOnde histórias criam vida. Descubra agora