Capítulo 32

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ANNA

- Você vem comigo! - Mauro (meu pai) abre a porta com agressividade e uma atitude invejável. Logo me pega brutalmente pelo braço e sai me puxando.

- Eu sei andar! - Grito me livrando dele. Ele apenas sorri e senta.

- Vou esperar sentado.

Do que ele está falando? Não é possível. Minha visão começa a embaçar e minha cabeça começa a pesar. O quê ele pôs na minha comida? Sem esperar, por mais que eu tenha tentado ficar em pé, caio e não vejo mais nada.

☆☆☆☆☆

Abro um dos olhos, mas não consigo raciocinar. Não estou sentindo nada. Até para abrir os olhos tenho dificuldades.

- Ela abriu um olho! - Alguém grita e minha cabeça começa a doer imediatamente.

Aos poucos vou ganhando um pouco mais de força para atos simples, como identificar onde estou. Um hospital.

- Como vim parar aqui? - Pergunto para uma moça que está usando um jaleco branco. Acredito ser a enfermeira.

- Você acordou. Tem pessoas que vão vibrar com essa notícia. - Ela fala animadamente. - Preciso notificá-los.

- Do quê está falando? Por que não consigo sentir meu corpo? - Começo a me desesperar.

- Calma, calma! - Ela fala gesticulando com as mãos. - Você está bem. É apenas efeito dos sedativos. Vou chamar seus familiares.

- Meus familiares? Quer dizer que... - Ela me interrompe.

- Sim. De acordo com as histórias que fiquei sabendo, você está salva.

Meu olhos se enchem de lágrimas. Mal posso esperar para ver as pessoas que amo.

Uns cinco minutos depois, minha mãe entra no quarto e sem que eu espere, ela vem em minha direção e me abraça forte e começa a chorar.

- Eu pensei que nunca mais fosse te ver. Me desculpe. Por tudo. Eu juro que vou mudar. Eu juro. - Eu não queria chorar na frente dela. Mas parece que não estou me coordenando muito bem.

- Senhorita, ela ainda está meio fraca. Evite apertá-la muito. - A enfermeira fala. Mas minha mãe não dá a mínima.

- Tudo bem, mãe. É tão bom ver você depois de tudo o que aconteceu. Eu realmente já estava ficando sem esperanças. Achei que eu nunca fosse sair daquele lugar.

- Shh. - Ela sibila. - Está tudo acabado. Não vamos mais falar sobre isso. - Apenas concordo, mas quando estiver mais apta a receber informações, ela vai ter que me contar direitinho o que aconteceu. Onde Mauro está agora? E o Lucas? Ai meu Deus! E se o Lucas foi preso? Ele não pode ser preso. Não pode.

- Mãe. O que aconteceu com...

- Jorge passou bastante tempo aqui. Dia e noite. Só saia para ir pra aula. Pena ele não estar aqui agora. Graças a ele você está bem. Vou ser grata a esse garoto pro resto da vida.

- Mas...

- Descanse um pouco. Amanhã você terá alta. Vamos vir todos juntos buscar você. - Ela beija minha testa e começa a se retirar.

- Mãe! - Chamo- a. - Não vá. Por favor, fique só até eu dormir. - Ela olha para mim e depois para a enfermeira.

- Só até você dormir. Depois você precisa ir. - A enfermeira fala.

- Obrigada! - Minha mãe a abraça.

Ela senta na poltrona ao meu lado e segura minha mão esquerda, que está cheia de curativos e um negócio estranho em um dos meus dedos. Ficamos assim até eu pegar no sono.

Quando acordo, me sinto bem melhor. Não tem mais ninguém no quarto, nem mesmo a enfermeira. Os aparelhos que estavam conectados em mim, não estão mais. Levanto e fico sentada na cama do hospital, balançando minhas pernas no ar. De repente, alguém entra e meu coração dispara. Não é que eu não confie nessa pessoa, mas vê-lo me fez reviver todas as lembranças daquele cativeiro.

- Só me escuta. - Lucas fala. - Eu precisava muito te ver. Ver se você estava bem. - Ele se aproxima mais.

- Lucas, por favor. Vai embora. - Baixo a cabeça e começo a ficar com medo.

- Eu não vou te sequestrar, Anna. Eu não trabalho mais para seu pai. Até porque, não tem mais como. Eu só não queria que você guardasse nenhum rancor de mim. Você, mais do que ninguém sabe que eu não escolhi fazer o que eu faço. Eu nunca te maltratei. Apesar de receber ordens para isso. - Começo a chorar. Acho que depois de tudo que passei virei uma manteiga derretida. Eu nunca tive o costume de chorar com tanta facilidade na frente de alguém.

- Descupe, mas não é fácil te olhar e não lembrar...

- Eu sei, eu sei. - Ele fala pegando em meu braço. - Por isso vim aqui. Talvez sua família lhe conte o que aconteceu, não foi pra isso que eu vim. - Ele me entrega uma rosa branca. - Não é nada de muito valor, mas... é o que significa. Me perdoa?

Desço da cama, pego a rosa e o abraço. Ele me aperta e é tão bom saber que ele não vai mais fazer o que fazia. Quer dizer... eu acho. Bem devagar, ele se afasta, deixando nossos rostos muito próximos. Em seguida, me dá um selinho. Demorado. Mas é só isso. Não desvio porque sei que ele tinha a necessidade de fazer aquilo. E para mim, não passava de amizade o que eu sentia por ele.


- Claro que te perdôo. Se não fosse você, não teria aguentado muito tempo naquele lugar. Além do mais, você está se arriscando vindo visitar uma de suas vítimas, não é mesmo?

- Eles não têm nem sinal de mim. Acham que seu pai trabalhava sozinho. Aliás, essa é uma de minhas especialidades. - Ele sorri.

- Você não vai mais fazer coisas assim, né? Tipo... ser capanga dos outros.

- Não posso dizer que não. Recebo bem e... ninguém me aceita em emprego nenhum porque sou ex - presidiário. Então...

- Se você conseguir um emprego, para de trabalhar com gente do mal?

- Claro. Mas isso é quase impossível.

- Posso te ajudar. - Quando vou dizer a ele o que pensei, a enfermeira entra no quarto.

- Licença, rapazinho. Mas seu tempo acabou. Desculpe atrapalhar a conversa de vocês.

- Sem problemas. Eu já estava de saída.

- Deixa seu número comigo. Eu posso te ajudar com relação ao emprego.

- Tudo bem. - Ele anota o número em um papelzinho e embaixo do número escreve: "José Ricardo". Olho boquiaberta para ele.

- Confesso que estou confusa.

- Esse é de verdade. Prova de que confio muito em você. - Ele me dá um último abraço e sai.

- Rapaz muito bonito. Como se chama? - Eu estava tão pensativa que nem prestei muita atenção no que ela disse. - Okay, não quer falar.

- Não. Não é isso. É que... - Começo a gaguejar. - É uma longa história.

- Se sua família não fosse chegar em cinco minutos, adoraria ouvir.

- Acredite. Você não iria querer.

Após ingerir uma pílula, me levanto e fico esperando minha mãe e Jorge. Será que Celina também virá? Não vejo a hora de chegar em casa.



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