01 - Quando Tudo Começou...

296 26 42
                                    

Calais, Maine, 9 de março de 2014

Escutei batidas à porta.
A casa estava escura, não tem ninguém além de mim.
Saio do quarto, desço os degraus e vou em direção à entrada da casa. Vejo pelo vidro da porta dois homens esperando na varanda. Quando abro, percebo que são policiais, por causa do uniforme e distintivo nas mãos. Um policial mais alto, com cabelos loiro cortado baixo, pele bronzeada e olhos de um castanho médio. O outro policial é mais baixo, cabelo preto bem escuro igualmente a cor dos seus olhos.

- Senhorita Kylie Fitzpatrick? - Pergunta o policial loiro.

Achei estranho ele saber exatamente meu nome, mas como essa cidade é pequena e tem poucos habitantes.

- Sim. Sou eu e em que posso ajudar? - Pergunto.

- Sou Detetive Lincoln. - Diz o policial de cabelo preto e olhos mais esuros ainda. - E este é meu parceiro Detetive Jackson. Estamos aqui por causa de seus pais e seu irmão.

- Mas eles não estão em casa, sairam para um evento em Portland. - Falo automaticamente tentando despachar eles da entrada da casa, antes que meus pais voltem e eles achem que estou encrencada.

O Detetive Lincoln me lançou um olhar de lado... Não espere. Ele me lançou um olhar... Triste?

- Exatamente. Viemos comunicar que o carro em que sua família estava sofreu um acidente. - Disse ele.

- O quê? Eles estão bem? Em qual hospital estão? Vamos lá agora!- Falo completamente atordoada.

O Detetive Lincoln me lançou o mesmo olhar novamente e ficou parado como se não soubesse o que fazer. Percebendo isso o Detetive Jackson se pronunciou com olhar melancólico.

- Senhorita Fitzpatrick não sei como dizer... Mas, infelizmente... Seus pais e seu irmão não resistiram e faleceram no local.

Neste exato momento meu mundo desmoronou. E eu não soube o que fazer. Eu não sabia o que falar. Senti uma tristeza enorme que estava consumindo minhas forças. Eu não deveria está aqui... Não deveria está viva... Deveria está com eles. Eles me abandonaram. Eu estou sozinha. Sozinha.

- O quê? Por que vocês não fizeram nada para salvá-los? Por que não tentaram? Por que não lutaram por eles? Eles me deixaram? Eles se foram?- Pergunto exautada, não contendo as lágrimas, perdendo as forças e me encostando na parede.

Os dois detetives compartilharam um olhar de sofrimento e de entendimento.

- Você é maior de idade Kylie? - Perguntou Detetive Jackson.

- Eu? Não. Tenho 17 anos ainda. - Digo sem o encarar, continuo olhando o nada, perdida nos pensamentos.

- Você tem algum parente próximo para informar o ocorrido? - Ele pergunta.

Lembrei do meu tio, irmão do meu pai. Ao qual já nem lembrava o rosto direito de tanto que não o via, muito menos lembraria o telefone.

- Tem a minha tia Natalie, ela mora à alguns quarteirões daqui. - Digo.

Passei o número do seu celular para eles e sentei no sofá, coloquei a mão sobre meu rosto e fiquei absorvendo todo o acontecimento desta noite que iria mudar completamente a minha vida. Aproximadamente dez minutos depois tia Nat aparece na entrada com aspecto preocupado, me deu uma olhada e se voltou para os policiais que estavam em pé encostado na parede.

- O que houve com a Kylie? O que ela fez? - Pergunta tia Nat preocupada.

Os policiais novamente trocando olhares antes de informar o ocorrido. Eles já devem está acostumados a informar isso. Percebi. O Detetive Lincoln informou tudo para minha tia... Informou que meus pais e meu irmãozinho tinham me deixado, me abandonado sem nem mesmo o direito de adeus.

Tia Nat correu ao meu encontro, me abraçou tão forte e senti suas lágrimas caindo sobre mim. Nesse momento a ficha realmente caiu e me entreguei completamente as lágrimas, chorei tanto até soluçar, não faço ideia de quanto tempo se passou até minha tia se afastar, limpar o rosto e falar com os detetives.

- Quais são os procedimentos que preciso fazer agora? - Pergunta ela.

Eles começaram a lhe explicar que precisava reconhecer os corpos. Corpos. Depois disso não escutei mais nada. Me perdi nos meus pensamentos e nas lembranças com meu pai me ensinando a andar de bicicleta dizendo que estava do meu lado me segurando para não cair e quando eu olhava para o lado ele já não estava mais perto e então eu caia e ele vinha correndo ao meu encontro me pedindo desculpas e falando que sempre estaria ao meu lado e que tudo estaria bem. Bem? Nada está bem agora papai. Exatamente nada. Nada.

Então a lembrança mudou para mamãe vindo ao meu encontro quando estava chegando da escola, me abraçando, me beijando e com aquele sorriso encantador ao qual papai disse ter se apaixonado à primeira vista, falando que tinha feito minha comida preferida.

E do nada veio a lembrança do meu irmão... Ah Ben, não acredito que você se foi. Eu que deveria ter ido no seu lugar, você era tão novo... Ainda tinha uma vida inteira pela frente, apenas sete anos, você nem imagina a felicidade que tive quando descobri que mamãe estava grávida de novo, que eu teria uma companhia para vida toda. Vida toda? Não sabia se ria ou se chorava. Que ironia não? Para quem vou inventar histórias malucas de aventura para dormir? Com quem vou conversar quando o papai e mamãe não estiver em casa? Impossível existir esta última pergunta, afinal, nenhum deles estão aqui e eu nunca mais os verei.

- Mas, eu não sou tia de sangue da Kylie. Eu conheci a Nicole na época da faculdade. Eramos melhores amigas. - Tia Natalie parou de falar e sorriu lembrando. - Considero Nicole minha irmã, o Bob meu cunhado e as crianças meus sobrinhos. Ela não tinha irmãos, era filha única, mas o Bob... Tinha um irmão que morava em Massachusetts... Vou procurar contato e saber se ainda mora lá e informar o que houve. Depois vou resolver os procedimentos.

Com isso os detetives lamentaram o ocorrido, entregaram um cartão para tia Nat falando que caso precisasse de algo poderiamos ligar para eles. Me lançaram um último olhar de tristeza e foram embora.
E então a minha vida nunca mais voltará a ser a mesma!!

A Trilha Onde histórias criam vida. Descubra agora