*CAPÍTULO UM*

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Normalmente eu não estaria assustada, muito menos com medo pelo que poderia acontecer comigo. Minha vida é assim há muitos anos, e tudo isso é um mero detalhe para mim. Mas, as coisas estavam diferentes agora. Eu estava total e completamente sozinha nisso. Andar por um cemitério escuro, a noite não é um programa tão assustador quanto deveria ser. Não para mim. Verifiquei minha arma no cinto, e apertei mais forte minha adaga. Parei por um momento entre duas lápides, eu não estava sendo seguida. Ainda não. E isso já era um bom começo.

O vento gélido balançava meus cabelos e minhas mãos já estavam frias demais. Meu coração estava acelerado e minha audição mais aguçada. Qualquer detalhe seria importante agora. E era exatamente isso que eu amava em ser uma caçadora. Essa adrenalina que me preenchia inteiramente durante uma caçada.

Continuei meu caminho até ouvir alguns passos a minha direita. Prestei mais atenção, preparada para sacar minha arma e atirar assim que a criatura surgisse, mas nada aconteceu. O barulho cessou. Seria possível que aqueles cretinos já estivessem aqui? Estava sendo realmente uma merda trabalhar sozinha. Balancei a cabeça. Isso não era hora para distrações.

Em pouco tempo eu já conseguia distinguir na escuridão do cemitério, a cripta que me interessava. Era exatamente da maneira que eu esperava. Toda de pedra, com cerca de dois metros de altura. Uma espécie de porta de vidro encoberto por poeira deixava claro que o corpo ali sepultado, já não tinha alguém para zelar por seu jazigo. Suspirei. Agora vinha a parte menos interessante: procurar ali dentro, algo que pudesse ter valor para um demônio.

Afastei-me um pouco da cripta e me preparei para arromba-la. Com um único chute, eu consegui estilhaçar todo o vidro, causando um barulho maior do que eu esperava. Iluminei com minha lanterna a parte interior da cripta. Era o esperado. Algumas imagens, textos, velas, estavam em cima de uma espécie de altar, feito da mesma pedra da cripta. Quando me preparei para entrar ali dentro, o barulho recomeçou. Permaneci parada em frente a cripta, mas sem ousar iluminar o canto de onde vinha o barulho. Se a criatura queria me pegar desprevenida, ela iria conseguir.

Um arrepio percorreu minha coluna, como um aviso de que algo estava se aproximando fora de minhas vistas. Decidi que minha adaga seria a melhor opção de defesa, então me mantive preparada, sem me mover.

Agora eu podia ouvir os passos atrás de mim, mas continuei esperando. Cada vez mais próxima de mim, e a criatura não fazia questão nenhuma de ser silenciosa. Até que o ataque que eu esperei não aconteceu. Somente uma voz, que eu nunca tinha ouvido antes:

-O que você pensa que está fazendo? - um homem disse.

Me virei lentamente ainda com a adaga preparada. Encontrei um par de olhos verdes me olhando furiosamente. A criatura que estava me espionando era realmente bonita. Não que ele precisasse saber disso, é claro. Apenas por esse breve encontro eu pude deduzir que ele tinha uma personalidade forte. E ele estava me desafiando ou era impressão minha? Eu detestava pessoas assim. Que achavam saber mais que eu, quando não passavam de completos idiotas.

Não respondi. Permaneci fitando aqueles olhos, até que ele provou não ter paciência alguma:

-Garota eu não estou brincando!

Eu sorri. Garota? Ele era inacreditável.

-Não está? E quem é que estava me seguindo por aqui até poucos minutos atrás? Isso me parece uma brincadeira. - eu disse.

Sua expressão se tornou ameaçadora, mas eu não demonstraria isso.

-Comece a explicar isso agora.

-Você é o que? O zelador do cemitério? Quer fazer o imenso favor de ir embora e me deixar terminar meu trabalho? - eu disse me virando de volta para cripta.

ConnectionsWhere stories live. Discover now