O Mistério Do Rio

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ESTE CONTO É DEDICADO A SAUDADE, MINHA COMPANHEIRA INDESEJÁVEL, PORÉM INSISTENTEMENTE ETERNA.

Histórias contadas ao pé da cama, ou em noites quentes de verão junto a fogueira, durante séculos assustam crianças. Quando adultos estas mesmas crianças esquecem, sublimam as histórias que de tão horríveis e fantásticas são relegadas a categoria de mitos.

Quando criança cresci ouvindo estas mesmas histórias, meu pai as adoravam, creio que sentia um certo prazer ao ver minha expressão de medo.

Eu gostaria de afirmar que esta história teve início com uma história linda e triste de superação com um pai ausente, mãe doente mental, irmãos menores, mas o fato é que, minha vida foi muito comum para uma família de classe média no Brasil. A não ser pelo fato de ter tido um pai extraordinário, um verdadeiro indiana Jones para mim.

Como antropólogo fazia parte do trabalho do meu pai conhecer mitos, culturas chamanicas, religiões antigas e seres esquecidos no tempo... Minha irmã e eu contávamos os dias para a nova história.

Nossa casa era revestida por figuras egípcias, romanas, indígenas...

Eu adorava, eu era o único da escola que tinha um pai com um trabalho legal de verdade. O fantástico fez parte de toda a minha infância, sempre havia um livro novo pela casa, meu pai foi um havido leitor, certamente, foi a pessoa mais apaixonada pelos livros que tive o prazer de conviver.

Lembro-me de certa vez, meu pai ter contado uma história sobre uma lenda urbana particularmente curiosa sobre um monstro que habitava o Rio Parnaíba, um ser grotesco com a pele escura, cabeça grande, pescoço fino e tamanho descomunal. Um humanoide, com sede por sangue humano.

Meu pai o chamava de cabeça de cuia, em alusão ao formato de cuia da cabeça. Esta era uma velha lenda de caboclos ribeirinhos.

Eu sempre pedia para ele me contar esta história horripilante.

A lenda do cabeça de cuia para mim sempre foi a melhor de todas, mas o tempo passou e eu me tornei um adulto, entrando na casca do ceticismo. Deixando de acreditar em lendas e fábulas. Mas nunca deixei de gostar destas lendas, como meu pai, tornei-me um havido leitor, porém sem o mesmo gosto por aventuras insólitas em terras distantes. Eu preferir uma carreira bem mais comum, fiz faculdade de biologia e logo partir para a pesquisa na área.

Como pesquisador da companhia do Vale do Rio São Francisco eu passei a ter uma enorme paixão pelos rios do nordeste. Logo que pude comprei uma casa às margens do rio Parnaiba. Uma casa com uma bela varanda, um quintal com pés de manga e uma boa área para as minhas filhas brincarem com o nosso cachorro Bob. Sempre que podia passava um bom tempo neste refúgio com minha jovem família.

Como bom mineiro sou um apreciador de uma boa cachacinha, e durante as férias fiz amizade com um pescador local, que me fazia lembrar do meu falecido pai.

Vez ou outra o senhor Antônio e eu, íamos a um barzinho no centro da cidadezinha apreciar uma boa pinga nos dias de ócio merecido.

-rapaz tu comprou mesmo aquela casa dos Silvas na beira do rio? Perguntou seu Antônio entre goles de pinga.

Tomei um gole também e respondi:

-claro, estava muito barata e é um pouco afastada. Do jeito que eu gosto, longe do barulho das cidades grandes.

-Não te falaram da lenda daquela casa não? Há muitos anos um dos Silvas vivia lá com sua esposa e suas filhas. Em um dia no cair da noite, Silva e a mulher deram a falta da filha mais velha que gostava de pesca, logo ali por detrás da casa.

-o casal escutou um grito vindo do rio, foi aí que Silva pegou sua espingarda e correu para o rio, quando chegou lá viu uma criatura arrastando a  sua filha para dentro do rio. Ele ainda tentou atirar, mas não conseguiu teve medo de acerta sua filha.

Comecei a rir imediatamente de Antônio. Ele tinha a fama de ser um grande mentiroso na cidade com as suas anedotas...

-Antônio só você mesmo para me fazer rir assim. Risos ecoaram pelo barzinho.

-homi, estou dizendo a Verdade. O cabeça de cuia existe! Ele quer quebrar a maldição que se abateu sobre ele. Uma praga jogada por sua mãe para que ele se tornasse um monstro. A única forma de volta a ser gente e capturar sete Marias.

-sete Marias? Meninas virgens?

-sim senhor! Se eu fosse o senhor teria muito cuidado com as suas filhas andando sozinhas pela beira do rio.

Mais risos!

Não pude deixar de lembrar do meu pai tentando me assustar com essa mesma história do Antônio.

-mas me diz Antônio, o que aconteceu com o Silva.

-ficou louco de tanto tentar achar o bicho para tentar matar e vingar a morte da sua filha.

Ele já devia ser louco antes! Pensei.

Alguns dias se passaram e já havia esquecido da conversa com Antônio naquele dia, quando decidir sair para passear com minhas filhas e o nosso cachorro Bob pela margem do rio como sempre fazíamos nos fins de tarde. Minha esposa ficou em casa preparando o nosso jantar.

Enquanto caminhavamos as meninas se afastaram um pouco de mim, então sentei em um tronco, fiquei olhando para a beleza do rio e jogando pedrinhas nele. Foi quando de repente uma figura com olhos gigantescos emergiu lentamente das águas fixando na direção das minhas filhas.

Eu entrei em pânico e corri em direção delas chamando por seus nomes.

As meninas olharam para mim sem entender nada do meu comportamento, quando voltei minha atenção para o rio, não havia mais nada, a figura horripilante havia desaparecido completamente.

Como cientista tinha a tendência de ser totalmente cético quanto ao sobrenatural, mas tenho certeza só que eu vi naquele dia. Infelizmente minha esposa achou tudo muito engraçado, riu bastante, depois me mandou ir banhar para poder jantar. Durante o jantar virei motivo de piada até para as minhas filhas.

As férias acabaram e voltamos para nossa rotina na cidade grande, e nunca mais voltamos ao assunto, com o passar do tempo até mesmo eu comecei a duvidar se realmente não tive uma alucinação causada pela sugestão da história que tinha ouvido dias antes do Antônio.

Foi em uma manhã de um feriado, quando voltamos para nossa casa a beira rio, confesso que estava com saudades do meu refúgio, mas um pouco apreensivo do que eu e supostamente havia visto. Desta vez havia trazido comigo a minha pistola Taurus 380, por precaução ou medo mesmo!

Lembro-me de vê as crianças correrem feliz sem preocupação alguma naqueles dias calmos, porém Radja a minha filha mais velha, sumiu enquanto fazíamos as malas para voltamos para a capital. Foi quando escutei a mãe a chamando pela casa sem obter resposta. De início pensei que ela estava pregando uma peça em nós como sempre fazia, mas escutamos um grito de socorro vindo da direção do rio. O pânico tomou conta de mim, porém consegui pegar a minha arma e correr. Chegando antes de todos. Eu presenciei a mesma figura humanoide que tinha visto antes arrastar minha pequena Radja para o fundo. E eu fiquei ali impotente com a arma na mão gritando por seu nome.

Tentei fazer mira para atirar, mas não tinha como eu não acerta a minha Radja também. Foi quando minha esposa finalmente chegou e me viu de joelhos com as mãos na cabeça. Eu estava arrasado! Ela me questionou sobre o que tinha acontecido, porém por mais que tentasse explicar de uma forma minimamente lógica o que havia acontecido no rio. Fiquei em uma situação em que ninguém acreditaria no inexplicável que eu tinha para contar.

Como previsto, ninguém acreditou em mim. Além da dor da perda, tive que aguentar a desconfiança das pessoas. As pessoas acreditaram que eu estava ficando louco em virtude do estado de choque que supostamente eu estava passando.

Os dias passaram e infelizmente não encontramos minha filha querida. O tempo se esvaiu e todas as minhas esperanças de reaver a minha pequena também. Perdi ainda o meu casamento, meu emprego e o meu interesse em biologia acadêmica tradicional.

Compreendi que a maioria das lendas, não são mais que  lendas, todavia uma lenda não surge do nada, todas foram baseadas em algo real.

Sem me resta muito, passei a me dedicar de corpo e alma a encontrar respostas para os mistérios que não têm resposta na ciência atual.

O que seria de fato o cabeça de cuia? Um monstro, um Alien? Provavelmente nunca iremos saber.

FIM!

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⏰ Última atualização: Aug 12, 2016 ⏰

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