No Limite do Desastre

Negócios de Família

De frente para um enorme prédio vazio, em um dos bairros afastados de Chicago, eu ainda tentava acreditar no "negócio de família". Meu pai conversava com o segurança, os dois mantendo as vozes baixas. Olhei para Tyson, que parecia indiferente para o que estava acontecendo. Meu irmão perambulava de um lado para o outro, o corpo magro escondido debaixo do seu moletom favorito, o cabelo caindo sobre a testa cobrindo parcialmente o seu rosto.

Senti o aperto em meu ombro. Eu não precisava me virar para saber que era Tyler tentando me tranquilizar. Ele passou a tarde inteira preocupado comigo. Nós dois permanecemos atentos a conversa de nosso pai, sem conseguir ouvir nenhuma palavra que era dita. Então, aconteceu algo que chamou minha atenção.

— Tyson. – chamou nosso pai.

Meu irmão andou tranquilamente até os dois homens e entregou algo na mão do segurança. Olhei para Tyler, que apenas sorriu e voltou a encará-los. Forcei meus olhos para se ajustar a escuridão noturna. O segurança começava a desenrolar o embrulho entregue por meu irmão.

— Aquilo é dinheiro? – perguntei atônito. Tyler apenas confirmou com a um aceno de cabeça. — Pensei que nosso pai não tivesse grana.

Meu irmão sorriu.

— Você ainda precisa aprender bastante.

Ele me contou sobre todo o esquema. Tudo que acontecia quando ele e os gêmeos saíam de casa. Foi um choque descobrir o que estava escondido por de trás da imagem de boa família que tínhamos. Meu pai era responsável por organizar lutas clandestinas em um sistema que abrangia todo o estado de Illinois. Era um negócio antigo, que lhe rendia bastante dinheiro desde seus dias na faculdade. Os gêmeos começaram a acompanhar meu pai cerca de quatro meses. Eles estavam sendo preparados para participarem das lutas, segundo meu pai.

— É o trabalho que você faz quando sai às noites? – perguntei na mesma noite em que minha mãe saiu de casa.

— Sim. – meu pai soprou a fumaça de seu cigarro, formando uma densa cortina que aos poucos se dissipou.

— Mas isso é errado! – disse um minuto depois de o meu pai ter contato tudo. Ainda estava processando a informação. Creio que não era uma conversa para se ter com seu filho de quase onze anos, mas lá estava meu pai, dizendo que eu os seguiria a toda parte, até que aprendesse o suficiente sobre o circuito. — Eu não quero fazer isso!

Pensei em levantar do sofá e sair correndo, mas Tyler me segurou antes que eu pudesse fazer qualquer movimento, oferecendo um sorriso de conforto para mim.

— De onde sai o dinheiro que mantém a vida boa que você leva, Matthew? – as marcas de expressão no rosto de meu pai ficaram mais evidentes quando ele franziu o cenho e levantou vindo em minha direção. Pensei que ele iria me bater, e me preparei para esconder atrás de Tyler. Entretanto, ele parou a poucos centímetros de nós. — É melhor se acostumar. Agora é apenas nós. Temos que apoiar uns aos outros.

Meu pai envolveu meu pequeno rosto com suas mãos enormes.

— Vai dar tudo certo, caçula. – ele falou, saindo da sala e deixando a mim e os gêmeos sozinhos.

Eu não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo com a nossa família. Eu confiava no meu pai, se ele dizia que daria tudo certo, então devíamos acreditar.

— Esse vai ajudar a pagar o tratamento da minha filha, Jim. – disse o segurança. Ele cumprimentou Tyler e seus olhos pararam em mim. — Não sabia que você tinha mais um filho. Vai treiná-lo para lutar também?

— Não vou viver para sempre, Paul. – meu pai bateu nas minhas costas. — Matt vai me substituir um dia.

Fomos direto para o estacionamento do prédio. Não havia carros, apenas um imenso espaço com diversas pilastras de sustentação. Tyler me explicou que nosso pai mudava a localização das lutas. Havia vários prédios vazios em Chicago, ou com pouco uso, que serviam de local para as lutas. Assim como em outras cidades do estado. Quando não era possível utilizar prédios que estavam vazios, o jeito era pagar os seguranças de lugares comerciais que não funcionavam à noite.