HOSPITAL CENTRAL DE TORONTOEle estava quase terminando mais uma longa cirurgia. Sentia as pernas tremerem pelo tempo que já havia passado de pé. Não costumava sentar durante as cirurgias, mesmo que seu corpo alcançasse um nível extremo de cansaço.
– Podemos nos preparar para fechar. – A voz dele era firme e grossa.
German gostava do seu trabalho e principalmente da calma que sentia ao entrar em uma sala de cirurgia. Tinha prazer em poder salvar vidas e da adrenalina que aquilo causava. Talvez fosse uma das únicas coisas que ainda o deixava emocionado, ou até mesmo a única. Seus dias eram sempre a mesma coisa, com os mesmos afazeres. As únicas mudanças ocorriam quando ele tinha plantões extensos no hospital de 48 horas ou até mais. O domingo era o único dia em que ficava com a filha. Na maioria das vezes só saíam para jantar juntos e conversar um pouco. Durante a semana, costumava sair no final da tarde e se encontrar com alguma mulher para ter o bom e velho sexo casual. Sem romantismo ou qualquer coisa que fosse ligada ao futuro ou possibilidade de relacionamento.
– Dr. Castillo, acabou. Declare a hora da morte.
O corpo gelou e as mãos pararam o mais rápido possível de suturar. Ele tinha se distraído demais durante a cirurgia, perdido em pensamentos. O paciente sofreu uma parada cardíaca e tinham chamado o cardiologista, mas iria demorar muito. Sua mente dava voltas para ele conseguir entender como não tinha nem escutado quando o monitor indicou que o coração tinha parado.
– Não! Nós vamos conseguir salvar esse paciente. – Ele tentava parecer calmo, mas era complicado diante da situação.
– Desfibrilar. – Escutou a voz de alguém ao seu lado.
German soltou tudo o que segurava na mesa de instrumentos e tentou ajudar a equipe.
– Carregue em 200. – Falou enquanto observava o monitor do paciente, nervoso.
200, 250, 300 e 400. Nada funcionou. Ele tinha morrido e German se culpava por isso.
– Hora do óbito: 00:45. – Ele declarou baixo, mas audível para as pessoas da sala.
Antes de começar a cirurgia, tinha certeza de que nada poderia dar errado. Todos sabiam. Ele era o melhor do hospital e do país, mas naquele momento não via dessa forma. Sentia-se completamente inferior a qualquer outro cirurgião.
Ele caminhou até a sua sala e descansou o corpo na cadeira, tentando esquecer de tudo que já tinha acontecido naquele dia extremamente estressante. Havia brigado com Violetta pela manhã e o dia no hospital não tinha sido um dos melhores. A morte do paciente após a cirurgia exemplificava isso claramente.
Uma mulher elegante e alta entrou na sala, com um jaleco branco e o nome bordado do lado esquerdo: Dra. Silvia Navarro.
– German, a culpa não foi sua. Eu sei que cometeu um erro, mas não tem nada a ver com você ou nada que possa significar que não seja um bom cirurgião. – A voz dela era fina e amigável.
– Você já ficou sabendo? – Ele começou a bater a ponta da caneta na mesa.
– O hospital inteiro está falando. Mas isso são coisas que acontecem. Nós dois sabemos.
Silvia era uma grande amiga de German. Fizeram faculdade e residência juntos, sempre na mesma sintonia de trabalho e estudo. Mas com rumos diferentes, já que ele quis neuro e ela ginecologia.
– Eu não entendo como isso aconteceu, sabe? – Ele se inclinou para frente e apoiou os cotovelos na mesa. – Nunca cometi um erro desses, não por falta de atenção. Tenho medo de estar perdendo a única coisa que tenho fora minha filha.
ÁREA DA PSICOLOGIA
– Você sabe que enquanto não cuidar disso, não vai conseguir voltar com as atividades normais.
Angeles aconselhava o último paciente do dia, o qual tinha crises frequentes com a personalidade, dificultando a resolução de problemas pessoais. Não sabia se era animado ou desanimado, amigo ou inimigo e muito menos se era confiável.
– Obrigado, Dra. Carrara. – O homem, já chegando na casa dos quarenta anos, levantou-se e esticou a mão para Angeles.
– É sempre um prazer. – Sorriu simpática, como de costume. – E você sabe que sempre que precisar conversar comigo, independente da hora, pode ligar para minha secretária.
– Não sabe como eu melhorei depois das sessões. Agora eu consigo resolver as coisas sem me perguntar quem sou ou o que estou fazendo. – O homem riu.
Angeles esperou que o paciente se retirasse e sentou no sofá, cruzando as pernas e enchendo uma taça com vinho. Aquela tinha sido a última consulta e estava extremamente exausta. Os sapatos apertavam seus dedos e a saia colada fazia as coxas e a cintura bem feita pedirem socorro.
Era sempre a mesma rotina. Sempre as mesmas pessoas e os mesmos problemas. Os homens que corriam atrás dela também não mudavam muito, já que ela dispensava a grande maioria. Na semana anterior, tinha ido para cama com um arquiteto famosíssimo de Nova York que estava passeando pela cidade. Havia aproveitado muito e até pensou em repetir a dose, mas pouco tempo depois ele lhe enviou uma mensagem afirmando que estava saindo de Toronto, o que deixou Angeles sem ânimo para envolvimento sexual por quase uma semana.
A única certeza que tinha naquele momento era que necessitava de uma mudança de rotina, com algo que a surpreendesse, ou melhor, alguém.
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It Must Have Been Love
Любовные романыGerman Castillo, neurocirurgião obcecado pelo trabalho e pela segurança de sua filha Violetta. Homem frio, calculador e duro com qualquer um que entre em seu caminho. Anos trabalhando no Hospital Central de Toronto, sempre procurou esconder as dores...