Meio de semana estou sempre cansada. Acordo cedo, trem, metrô, pessoas chatas que me dão bom dia pelo caminho, enfim, a vida me cansa.
Seis e quarenta da manhã e meu telefone toca, número desconhecido...desligo.
Toca novamente, desligo. Na terceira vez meu coração acelera.
Atendo e digo...Senhor?
Ouço uma risada e uma pergunta:
- Onde vc está?
Com um tom de voz contido respondo, no metrô.
Nesse momento já sei que errei, mas finjo que não e aguardo SUA resposta, segundos de silêncio transcorrem.
- Ou vc é uma idiota, ou está me provocando pra apanhar, a voz do outro lado da linha responde.
Silêncio.
Sem sinal, vontade de tacar o celular na parede mas não posso.
Vinte minutos depois recebo a mensagem de texto, nosso lugar as 19 horas.
Faço contas durante todo o dia...faltam 10 horas, faltam 7 horas, faltam 2 horas...chegou a hora.
E lá estou eu, ahhh...não me apresentei pra vocês...me permitam então.
Me chamo Agatha Magalhães, mais conhecida como Gatha. Tenho 40 anos e amo contar que sou Caprica ( capricorniana ) com ascendente em escorpião, há quem diga que sou o demônio em forma de ser humano, a culpa já aviso não é minha, não controlo o zodíaco, mas realmente não sou lá uma dessas pessoas que o outro ama sem porquês.
Sou chata, sou crítica, sou na maioria das vezes mal humorada e nas poucas vezes que sou engraçada sou irônica.
Mas, tenho uma grande qualidade, sou verdadeira...sim eu sou.
Aqui você só terá verdades, mesmo que na maioria das vezes não goste do que lera, estará lendo a minha história, e seja ela boa ou ruim, ela será real.
Mas chega de falar sobre mim, chegou a hora que eu deveria estar no local certo esperando por ELE, e bem, eu estou. Mas ELE não.
Uma hora e meia depois, o telefone ao lado da cama toca, eu atendo e ouço uma voz mecânica da recepcionista:
_ Senhora, seu jantar será servido em 10 minutos.
Meu jantar?
Como assim??? Vim aqui pra ser a sobremesa, mas, me lembro da falha que cometi pela manhã e penso, tudo bem, vou comer né....
Dez minutos depois ouço a batida na porta, abro e lá está no chão a bandeja.
Já pego com a respiração entrecortada, as mãos suando, boca seca.
Levo pra mesa do quarto, e quando levanto a redoma de alumínio que envolve o prato tomo um susto.
Antes que eu possa tapar o prato e expressar a minha raiva o telefone toca novamente, claro, o número eh restrito, nem alô eu digo, apenas escuto.
Aquela risada....grossa, cheia de vida, com um pingo de raiva contida, ELE...esse eh ELE...
_ Vamos comer?
Eu olho pro prato e respondo, estou sem fome...
E a ordem vem em seguida, COMA, e COMA tudo.
Olho pro prato, ele olha pra mim, e penso, onde estão os temperos?
Azeite, sal e vinagre.
Preciso deles, afinal bem na minha frente tem um prato do mais lindo e verde capim.
Começo a comer, não por obediência, jamais, essa não sou eu. Faço caras e bocas comendo esse capim, finjo estar brava nos primeiros segundos, depois olho pro espelho e faço cara de aborrecida, saio da mesa, vou na minha bolsa e retoco o batom.
Aí faço pose de sexy...Mas nada ajuda, o gosto ainda eh amargo, a garganta começa a travar, a ânsia vem e volta, e sem que eu perceba as lágrimas de raiva começam a rolar pelo rosto.
Raiva de mim mesma, porque estou aqui, sozinha e frustrada comendo essa porcaria?
Brigo comigo mesma, me xingo em pensamentos e olho pro prato, a última porção...espeto o que falta no garfo, engulo em seco, e quando levo o garfo a boca sinto SUA mão me acariciando a nuca.
Nesse momento o tempo para no relógio, nem os segundos ousam passar.
ELE está aqui.
Sinto agora seu cheiro, seu corpo se cola ao meu por trás, minha pele se arrepia, meu coração dispara como bicho insano no campo aberto.
Os dedos massageam minha nuca, alcançam meus ombros, meu corpo arqueia, um gemido longo e alto escapa dos meus labios e levanto meu rosto.
Olho pra ELE, lindo, aquela camisa impecavelmente branca contrasta com o pescoço negro. Meus olhos ousam subir e me deparei com o sorriso lindo que ele guarda só pra mim.
Sua voz invade meus ouvidos dizendo:
Oi Minha puta.
Antes que eu perceba meus joelhos se dobram, me agarro aos seus pés e beijo seus sapatos em sinal de respeito.
Sinto ELE respirando com tranquilidade, com calma, suas mãos agora sobem e deslizam pelos meus cabelos, me sinto puxada e sendo guiada em direção aos seus labios.
Estamos frente a frente, os olhos dele se cravam nos meus, aquele sorriso irônico que me deixa molhada está lá presente, e antes que a ordem chegue eu já sei o que fazer, abro minha boca e espero...aguardo, mais do um beijo, o que irá acontecer em segundos demonstra claramente o que somos:
ELE o DONO, eu o objeto.Cumplicidade....
Não é o que queremos é muito menos o que precisamos...
Caso você tenha vindo aqui querer, eu lhe digo, está no lugar errado.
Se veio porque acha que precisa, piorou...BDSM é o que desejamos, e na grande maioria das vezes, o que desejamos, é muito diferente do que estamos dispostos a viver.
Mas tudo bem, ainda é cedo pra essa conversa....
Estou ali, aos pés DELE, de joelhos, boca aberta e sinto algo quente molhar minha língua, é ELE, o cuspe DELE, a saliva DELE, o lixo DELE, mas pra mim, é ELE.
Meu, em mim, me preenchendo, me realizando, gritando pra mim, sou tão SEU que sei que desejas TUDO de mim. És tão minha que contigo faço TUDO.
E voltando, é por isso que digo cumplicidade, troca, prazer mútuo.
ELE me dá o que desejas e eu recebo o que quero.
Sinto meus cabelos sendo puxados, e de repente meu rosto arde...o barulho só vem depois do calor?
_ E desde quando uma puta como você não está disponível quando eu preciso?
Ouço uma porta se abrindo, um perfume suave invade o quarto, ELE me solta, eu ousada que sou levanto p olhar, e ali parada na minha frente está ela, aquela que odeio, que desprezo.
Nua...molhada.