Capítulo I - Ébrio

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Embriagar-me, completar-me do vazio existencial no complexo cotidiano, ledo engano... a vontade se completa na vida compartilhada. Nada, nada há de existir senão o amor por si mesmo; acomodado, alojado, emprestado a outra pessoa. O amor se estende ao outro, como reflexo de mim mesma. Embriaga-me, concede-me todo o efeito alucinógeno de uma paixão desmedida, incontida e antes adormecida por entre séculos, quem sabe até de outros planos incompletos.

Anna Loren me trouxe a vida com o nome designado por viver na terra. O mar, não foi o suficiente para afogar o quão excêntrico e incontável de tamanho, era a vontade de viver, viver de amor sem medo e sem receios. Embriagar-me do teu amor, me bastava para viver, como um remédio para a alma. A alma... tão inquieta és para contentar-se com as vontades humanas tão limitadas e imprevisíveis.

O amor inquietante me despertou desde a primeira vez que o vi em volta da fogueira, o meu coração dilacerado se reconfortou e assim foi curado pelo teu amor.

Envolvida pela dança alegre, marcada pelas notas suaves e encantadoras do violino marrom – amadeirado que praticamente ditou o ritmo do nosso amor, nos aproximou. O medo diante do desconhecido, o não vivido se tornou vividamente real, irreal talvez, para os mais insensíveis. A pureza do teu sorriso escondia uma preocupação que só eu era capaz de interpretá-lo naquele momento. O nosso amor começou de uma maneira incompreensível por alguns, mas para mim era tão real, muito real.

A vaidade que reinava aquela época os costumes que privavam os prazeres e limitavam os comportamentos femininos subjugados, me incomodavam o bastante para usufruir da vontade até então contida em meus planos mentais, que anteriormente não me sentia segura o suficiente para externá-los e abandonar tudo, e viver de amor.

Teu amor era tudo o que eu precisava para me manter viva, pois me aceitava da maneira que realmente sou.

A realidade a qual eu estava inserida, não se tratava da realidade que planejava para mim mesma, e consequentemente para o meu futuro par, que até então não imaginava que iria me encontrar totalmente perdida e amedrontada até, por um homem que eu não conhecia a sua história com detalhes.

Como o sabor do vinho que me esquentava naquele beira-mar que juntamente com o calor da fogueira; queimavam, expurgavam todos os conflitos existenciais que habitavam em mim, que enchiam minhas rotinas de descontentamento e preocupação.

Cada conversa; cada sorriso, cada prejulgamento sobre o fato de me divertir, entregar-me, sobre as distrações que me devolvem vida a minha alma, distrações que costumeiramente não era permitida a uma jovem, naquela época de embarcações.

Era uma despedida, pois não sabia se iria reencontrá-lo na próxima festa ao redor da fogueira, que acontecia a cada seis meses. O coração palpitava intranquilo diante de tantas incertezas advindas de tantos medos, o medo do desconhecido é o pior de todos eles.

Por um lado, a tua companhia me proporcionava uma liberdade irreal, um sentimento vindouro, forte o suficiente para acreditar em cada palavra proferida, a paz que me enchia de novas alegrias. O efeito do bom vinho Português artesanal envelhecido, proporcionava-me a mesma alegria ao teu lado. Felizmente pela primeira vez numa vida inteira, aos 20 anos incompletos, não estava tão errada quanto antes e ao que me parece, finalmente tinha encontrado o amor puro, verdadeiro e pleno, como nos versos de Camões, que os guardava e escondia num baú que acabara de ganhar do meu pai, o dono de todos aqueles infinitos barcos, para ler depois que todos adormecessem.

Por outro lado, as limitações sociais que se estendiam para o seio familiar me motivavam a querer dar outro rumo àquela limitada vida, libertar-me era preciso. Assim que meu Pai soube do nosso amor, indignou-se ao ponto de me proibir de ver aquele homem que me proporcionava à vida liberta que precisava.

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⏰ Last updated: Aug 13, 2016 ⏰

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