Nada é Impeditivo para ser Feliz

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De frente para a janela da sala, a Alice ouvia o barulho das ondas do mar baterem nos enormes rochedos. A quinta onde morava ficava perto da praia, para onde ia de vez em quando brincar com os pais e com os primos. Era uma menina como tantas outras que nos seus tempos livres adorava correr, saltar, brincar com os amigos, ler e tantas outras coisas que as crianças gostam de fazer.

Enquanto ouvia, tranquilamente, o bater das ondas, sentiu um leve toque nas pernas. Era a sua cadela, a Nina, que a avisara de que estava na hora de ir para o centro de atletismo. Levantou-se da cadeira, pegou na trela da e saiu porta fora, em direcção ao centro de atletismo.

Ao chegar, tinha à sua espera o seu treinador.

- Boa tarde Alice! – cumprimentou o treinador – Pronta para treinar?

- Sempre! Vou só trocar de roupa que começamos já...

Após a Alice trocar de roupa nos balneários, voltou para junto do seu treinador. Assim que a Alice entrou na pista, a Nina ficou sentada do lado de fora a ver a Alice correr com o seu treinador.

Ao correr, a Alice, sentia-se livre, desimpedida, nada a chateava, esquecia por completo os problemas que tinha, e eram só ela e a pista. O treino durou cerca de uma hora, com alguns intervalos pelo meio, e a Alice sentia-se muito bem. Depois do treino feito, a Alice pegou na Nina e voltaram as duas para casa. Quando chegaram o cheirinho que vinha da cozinha entrou-lhe pelo nariz dentro. Era a mãe que estava a cozinhar.

Soltou a Nina da trela e foi até à cozinha.

- Olá querida, como correu o treino? – perguntou a mãe dando-lhe um beijo.

- Muito bem, atingi um novo recorde, já estou a ficar muito profissional...

- Ainda bem, estou a gostar de ver essa tua disposição...olha, estou a fazer o teu bolo preferido, bolo de chocolate.

- Oh, obrigada mãe, mas vai ter de ficar para mais logo, tenho natação daqui a nada...

- Mas quando é que paras um bocadinho? Tens a tarde livre de aulas, supostamente é para descansar não é para encher de actividades...

- Eu sinto-me bem assim, parada não faço nada e começo a pensar no que não devo, além disso exercício físico faz bem à saúde...e estou com os meus amigos!

Passado algum tempo, depois de ter preparado o malote com as coisas para a natação, a Alice voltou a pegar na Nina e lá saíram as duas em direcção às piscinas. Ao chegar, o porteiro encaminhou-a até aos balneários.

A Alice deixou a Nina na recepção, no lugar do costume, a um canto da sala, onde já tinha uma cama onde se deitar. Depois, nos balneários, vestiu-se e preparou-se para entrar na água. Antes, passou rapidamente pelo chuveiro, e mergulhou na piscina, sempre sob o olhar atento da professora. Nadou durante largos minutos e brincou muito com os amigos. Sentia-se como um peixe na água. Como seguiu todas as indicações da professora, no final da aula, foi recompensada com um livro, e ficou muito contente.

Quando chegou a casa, sentou-se no sofá e, com os dedos, tacteou a capa do livro. Ainda não percebia muito de Braille, mas com a ajuda da professora de leitura, em breve poderia ler o livro todo...estava ansiosa.

No dia seguinte, depois das aulas, a Alice chegou a casa a passo acelerado, tinha de voar para o centro de equitação. Não podia perder a aula em que ia montar a cavalo pela primeira vez. Largou a mochila em cima da cama, pegou a sandes que a mãe lhe tinha feito, agarrou na trela da Nina, e desapareceu porta fora.

Um bocadinho cansada, a Nina, assim que chegaram ao centro de equitação, sentou-se imediatamente no chão. A Alice, com a ajuda de um amigo, vestiu o colete, calçou as botas, pôs o capacete, e chegou bem a tempo de montar num cavalo pela primeira vez. Uma experiência única. O dorso do cavalo era tão macio, mas tão macio, que a Alice se agarrou a ele. Parecia a sua cama, tão fofinha. A Alice adorou a experiência, nunca pensara que fosse tão bom andar a cavalo, valera bem a pena esperar tanto tempo.

Após a aula de equitação, a Alice pegou na Nina, que já estava melhor, e foi calmamente para casa. À sua espera estava a professora de Braille, era ela que a ensinava a ler todos aqueles pontinhos.

- Olá Alice, pronta para mais uma aula? – perguntou a professora.

- Claro que sim! Se não se importar, gostaria que me ajudasse com uma coisa.

- Claro, o que é?

A Alice foi ao seu quarto e pegou no livro que a professora de natação lhe tinha dado, ao chegar à sala entregou-o à professora.

- Queria que me ajudasse a lê-lo, se não se importar... – pediu a Alice.

- Claro que ajudo, acho que vais gostar muito de o ler...

- Porquê? – perguntou curiosa a Alice.

- É uma história muito especial, mais tarde saberás.

Os dias foram passando e a Alice, com a ajuda da professora, conseguiu, finalmente, começar a ler sozinha. Todos os dias, depois da escola, ou das aulas de leitura, ou do atletismo, ou da natação, ou da equitação, a Alice dedicava um pouquinho do seu tempo ao livro.

Era uma história bastante especial, a de uma menina que apesar de cega, fazia tudo o quanto queria. Que nunca usara o facto de ser cega como desculpa, uma menina de coragem, que com a ajuda da sua fiel cadelinha, sempre fora dona e senhora do seu nariz. A Alice.

FIM

ALICEOnde histórias criam vida. Descubra agora