Quem Vê Cara, Não Vê Coração

capítulo 7

Pouco depois que mostrei com toda a minha amargura que não queria conversar, o médico adentrou o quarto:

-Como está se sentindo mocinha?-

-eu estou bem,posso ir pra casa?não estou morta.-

disse me levantando daquela cama dura,mas assim que coloquei os pés no chão minha vista escureceu e meu pai me segurou,do contrário teria batido a cabeça na quina da cama.

-Uou mocinha,vamos com calma,você ficou uns bons dias sem se hidratar e se alimentar corretamente,seu organismo está fraco,por isso passará a noite no hospital,tomando soro e sem reclamação.-

O médico era muito lindo mas também chato,só por causa de uma tontura besta não poderia ir pra casa,o que me desagradou muito.

-Ok doutor,não me matarei ficando aqui essa noite,embora ache desnecessário isso.

-Bem já que estamos entendidos,poderia falar com o senhor?-

Ele olhou meu pai e apontou para a saída,agradeci a Deus por eles terem saido,não aguentava mais a cara de tristeza do meu pai,mas a paz durou pouco,logo a porta se abriu de novo revelando minha mãe com cara de quem chorou muito,o que não me comoveu,ela pegou minha mão e beijou minha testa,e do nada desabou a falar chorando:

-Querida,não quero que pense um só segundo que não te amo,você não saiu de mim,mas sou sua mãe independentemente de tudo,quero sua felicidade,te criei com muito amor....-

-Chega,não precisa dar uma de boa mãe agora,você deixou bem claro que só me criou por que meu pai quis assim,não me ama merda nenhuma,mas também pouco me importa isso agora,saia do quarto,me deixe em paz,afinal de contas quando voltar pra casa terei que te suportar mesmo sem querer.-

Ela iria falar mais alguma coisa,porém a porta abriu e uma enfermeira entrou,minha mãe me olhou e saiu como um tiro do quarto.

-Oi,sou Marta,espero que esteja bem,vou te ajudar com o banho e logo depois trarei uma sopa deliciosa para você.-

Ela sorriu para mim,eu retribuí afinal de contas ela era educada.

-Obrigada,mas a sopa eu irei recusar,não gosto de comida de hospital,arg!-

-hahahaaa,a querida sinto te contrariar,mas se você não se alimentar corretamente terá que ficar mais tempo aqui,é o que você quer?-

-Nãoooooooo,tudo bem pode trazer a água de batatas.-

Ela era legal por algum tempo esqueci minha raiva,mas foi só ela me deixar sozinha novamente que meu peito se encheu de dor,não conseguia entender,o por que eles fizeram da minha vida um inferno,mas nesse jogo eu seria pior,não era craque mas iria fazer mestrado em vingança.

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No dia seguinte o médico veio me liberar fazendo mil e uma recomendações,as quais prometi seguir rigorosamente. Demorou um pouco mas enfim chegamos em casa,fui direto para o quarto tomar um banho e tirar aquele cheiro de hospital,assim que saí do banho minha mãe estava sentada na minha cama,eu fingi que não a vi,mas ela falou:

-Não adianta Gabriella iremos falar sobre isso,você querendo ou não,melhor ser agora. Quero te contar tudo mas precisa colaborar comigo,acha que pode fazer isso?-

Mas que saco,só queria durmir um pouquinho mas não,tinha que existir um estraga prazeres,afffffffff.

-Ok,desembucha,quanto mais cedo você falar suas historinhas,mais cedo me livro de te ouvir.-

-Olha como fala moça,você me deve respeito,mas vamos lá,há18 anos atrás,teu pai chegou me contando que teve um rolo com uma mulher qualquer,no caso tua mãe biológica,e me contou que não se previniram e ela engravidou dele,naquela época seu pai era muito influente,essa gravidez fora do casamento seria um escândalo,por isso seu pai e eu decidimos que assim que a criança nascesse seu pai tomaria ela da mãe e criaríamos ela como nossa,mas as coisas sairam do nosso controle e ela ameaçou contar pra Deus e o mundo sobre o bebê então seu pai fez a promessa que iria separar de mim para ficar com ela,o que no caso não era verdade,era para acalmar a mulher. Ela acreditou então seu pai levou ela para um lugar onde ninguém pudesse vê-los juntos. Assim os meses foram passando e ela tinha total convicção que ele iria ser só dela,mas foi no dia que você nasceu que as coisas mudaram,assim que ela deu a luz seu pai te tirou dela,sabemos que não foi certo o que fizemos,mas tinhámos que fazer! depois que ele deixou ela lá e veio me trazer você,mas ela veio atrás,porém tudo que encontrou foi uma familía feliz.

Pouco depois ela foi encontrada morta,estava com indícios de estupro achamos que quando voltava pra casa ela foi agredida e morta.Prometemos jamais te contar isso mas eu na hora da raiva soltei o que não precisava.-

Era tudo surreal,minha mãe biológica está morta,fui tirada dela por causa de uma besteira de reputação,e como ela pode aceitar isso? Estou realmente sem palavras pela frieza dessa mulher. Ela nem se quer se importa de verdade com meu pai,pois não se preocupou com a traição e sim com o que os outros iriam pensar. Mas vou dar o troco na hora certa.

-Já acabou? Agora pode sair o meu quarto,quero privacidade escutei tudo que falou mas não me importo com nada disso,você me criou bem,se ensinou a ser fria e sem sentimentos. Obrigada.-

Ela não falou mais nada e saiu,eu vesti um pijama e me deitei ,teria que pensar em como seria daqui pra frente,meu passado é totalmente obscuro,fui feita de idiota e também perdi minha virgindade,ou seja agora sou uma mulher e vou agir como tal.

Ninguém me fará de besta novamente,vou viver conforme minha cabeça,não seguirei mais os conselhos dos outros,posso não ser totalmente feliz assim mas irei tentar.

¨Queria voltar a ser criança,porque os joelhos ralados curam bem mais rápido que os corações partidos.¨

CLARICE LISPECTOR

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