9. Matteo

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A suspensão havia passado e eu não troquei uma palavra com Arabella. Estava tudo bem, me sentia estranho por não provocá-la e respeitar o seu espaço. Não deveria estar sendo fácil ter que lidar com os olhares de pena que recebia pelo colégio.

James não deixou barato e resolveu desfilar com Betsy por mais tempo do que o necessário. Parecia que os dois estavam em lua de mel e eu sabia que eles se mereciam. Queria aconselhar Arabella, mas sabia que o que ela menos precisava era do conselho de um Bianucci.

Estava na pizzaria limpando as mesas antes da abertura quando vi Nhoque se aproximar dos fundos abanando o rabo. Sorri para ele e me abaixei para acariciá-lo. Por algum motivo, uma lembrança boa com Arabella me veio à cabeça.


Flashback

Eu passeava com Nhoque pelas ruas do bairro. Ele era um filhote recém chegado na casa dos Bianucci e um integrante muito bem recebido. Era bom ter um animal em casa. Eu sempre quis um e era o que faltava para essa família ficar completa.

Da casa das Pasini, Arabella saía sozinha segurando uma pequena carteira. Quando seus olhos encontraram os meus podia sentir a raiva neles, mas ela caiu em prantos assim que encontrou com Nhoque.

Sem entender o que tava acontecendo, eu peguei Nhoque no colo e atravessei a rua apressadamente. Não deveria sentir empatia por uma Pasini, mas eu não deveria deixá-la chorando no meio da rua por causa do meu cachorro. O que ele havia feito à ela, afinal?

- Arabella? O que foi?

- O seu cachorro. - Ela tinha a voz embargada e eu tive que fazer um esforço para entender.

- O que tem o Nhoque?

Ela riu um pouco pelo nome e balançou a cabeça em negação.

- Ele parece a Lasanha. - Ela passou a mão em Nhoque e ele aceitou a carícia de bom grado.

- Lasanha? - Franzi o cenho.

- Minha cadela. Ela morreu há um mês. - Arabella fungou, limpando as lágrimas.

- Eu sinto muito, Bella.

Ela me olhou de imediato quando a chamei pelo apelido, os olhos azuis me fitando surpresa. Antes que eu pudesse dizer mais qualquer outra coisa, sua nona saiu no portão de casa e gritou palavrões em italiano, me mandando embora. A neta não a impediu e eu fui embora dali, deixando que ela pensasse que as lágrimas no rosto da neta fossem minha culpa. Não era mentira, mas eu havia tentado fazê-la bem.

No final das contas, não importava. Éramos inimigos mortais.

Fim do Flashback


xxx


Eu tentava fechar a minha garrafa térmica pela vigésima vez. Eu devia estar rosqueando-a há uns vinte minutos e não fechava nem por um decreto. Dio mio! Com um grito, eu forcei a tampa e, é claro, que eu acabei derramando todo o leite quente em cima de mim.

Arranquei a blusa e joguei de lado, passando um pano úmido pela queimadura vermelha que havia ficado na minha barriga e seios.

- Droga de vida!

Me apoiei na pia e chorei. Chorei pelos olhares de pena, pela falta de provocação de Matteo, pela garrafa, por ter sido burra ao me entregar à James. Eu tinha certeza que só conseguia tomar decisões erradas.

Subi as escadas para trocar a blusa e percebi que minhas primas ainda se arrumavam.

- Epa!

- O que foi, Perla? Nunca viu um par de peitos? - Coloquei as mãos na cintura, me virando para ela.

Entre Segredos e PizzasOnde histórias criam vida. Descubra agora