Bordel

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Ele parou o carro em frente ao local que haviam lhe indicado. Nunca estivera ali antes e não havia nenhuma placa na fachada, mas a lâmpada vermelha na porta dos fundos não lhe deixava dúvidas de que era o lugar certo.

Chovia copiosamente lá fora, o som das gotas se chocando contra lataria era ensurdecedor, ofuscado apenas pelas batidas descompassadas de seu coração e as vozes em sua cabeça que insistiam em argumentar com ele.

Acendeu um cigarro, abriu uma fresta da janela e encheu os pulmões com a fumaça quente, soltando-a em seguida. Frequentar bordéis não era algo que estivesse entre suas atividades comuns, na verdade era a primeira vez que procurava um e isso lhe deixava assustado e ao mesmo tempo ansioso.

Tirou a aliança do dedo e enfiou-a no bolso, como se isso amenizasse a culpa que gritava em algum canto escuro em seu interior. Abriu a porta do carro e caminhou em passos lentos em direção a entrada. Empurrou a porta, que se abriu com um rangido extremamente alto, e entrou.

Na recepção havia apenas um sofá de espera acompanhado de uma caixa de revistas e um balcão velho e carcomido pelo tempo, e atrás dele uma velha de cabelos amarelados e óculos redondos.

Ela lhe olhou dos pés à cabeça e então perguntou:

- Pois não?

- Eu queria, é, eu vim para, hum... – Ele estava claramente constrangido.

- Uma mulher?

- Isso, uma mulher.

- Bom, temos em casa uma de dezoito, uma de trinta e poucos e uma de cinquenta.

A variedade não era muito grande, pensou, mas ouviu os colegas de trabalho comentarem sobre o local e sabia que era bom. Hesitou por muito tempo, mas nos últimos dias a vontade de algo novo havia crescido em seu interior.

Era casado há algum tempo, uns onze anos talvez, não sabia ao certo. Tinha agora trinta e sete e levava uma vida completamente vazia. O relacionamento com Luana sobrevivia mais por conveniência do que qualquer outra coisa, e não sentia vontade alguma de ir para a cama com ela, sexualmente falando. Não que ela tivesse vontade, é claro, ele também não era nenhum marido de comercial de margarina, sabia disso, mas é que os dois pareciam não se importar mais.

A velhota da recepção lhe olhava pacientemente. Não teria coragem de transar com uma adolescente e muito menos com alguém que podia ser sua mãe.

- Trinta e poucos, por favor.

Ela tirou o telefone do gancho, discou um número e avisou:

- Cliente.

Em seguida pegou uma chave na gaveta e me alcançou.

- Escolheu bem – Disse ela – Essa ai começou hoje. Corredor a sua esquerda, quarto nº 5.

Entrou no corredor e parou em frente a porta. Deu um último suspiro prolongado para espantar a consciência, colocou a chave na fechadura, girou-a e torceu a maçaneta, imaginando o que lhe esperava do outro lado.

Imaginem então sua surpresa ao abrir a porta e soltar um sonoro:

- Porra, Luana?

Bem na sua frente estava sua esposa, estirada sobre a cama, vestida apenas com um lingerie preta e cinta liga.

- Arnaldo? O que você está fazendo aqui?

Ele e fechou a porta atrás de si. Sua cabeça estava girando e não conseguia assimilar o que era pior, ter sido pego pela esposa em um bordel ou descobrir que a esposa trabalha lá.

- Como assim o que eu estou fazendo aqui? – Respondeu – Eu... Eu vim atrás de você!

- Não mente para mim Arnaldo, eu sei quando você está mentindo. – Ela lhe olhava quase que com pena – Senta aqui, vamos conversar.

Ele sentou na beirada da cama, de costas para ela. Sentia vergonha, raiva e culpa ao mesmo tempo. Durante alguns minutos ouve silêncio, não daqueles de quando não há nada a dizer, mas um silencio que não sabia onde pôr as palavras.

- O que a gente está fazendo da nossa vida? – Disse ele. – Quando foi que a gente se perdeu de vista?

- Acho que não é assim que funciona, sabe? – Respondeu ela depois de alguns segundos – Não existe um "quando", nós simplesmente esquecemos o motivo das coisas, dia após dia.

- É, pode ser. Porque um bordel? – Não havia mais raiva na voz dele.

- Queria ser desejada por alguém, queria sentir que ainda estou viva, queria sentir alguma coisa que não fosse pena de mim mesma. E você? Ainda não me disse porque veio até aqui.

- A mesma coisa eu acho, queria o frio na barriga de novo.

- Engraçado, né? Duas pessoas que querem a mesma coisa, moram na mesma casa, mas não conseguem se encontrar.

- Talvez tenha sido o egoísmo, meu psicólogo diz que o egoísmo tem acabado com as relações. Se você se preocupasse comigo e eu com você, não estaríamos aqui.

- Você tem um psicólogo?

- Dr. Facundo, mas parei de ir, era um cara meio estranho.

- Ah, sei. Eu procurei uma cartomante.

- Sério? E como foi?

- As nossas luas estão desalinhadas. Ela disse que estou propícia a grandes aventuras amorosas.

- Hum, Sempre tive a curiosidade, mas achei que fosse picaretagem.

Ela não respondeu e o silencio se alocou silencioso entre eles novamente. Cada um absorto em seus próprios pensamentos e divagações.

- Você me traiu alguma vez? – Ela perguntou.

- Não, primeira vez. Você?

- Primeira também.

Ele pensou por mais alguns minutos e perguntou:

- Quer fazer amor comigo? É que acho que a velhinha não vai devolver o dinheiro depois de todo esse tempo aqui dentro.

- Claro. O de sempre?

- Não, vamos tentar algo novo.

Os dois foram um do outro novamente, e dessa vez havia desejo, frio na barriga e arrepios.

Desde então, toda quarta as 17:30 eles se encontram no velho bordel.


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