Eu fiquei órfã aos 10 anos de idade. Meus pais tinham uma loja de roupa, onde trabalhavam juntos e dali arrecadavam sustento. Eles precisavam viajar atrás de roupas de parceria, e foi numa dessas trajetórias que eu os perdi. Além da perda dos maiores amores da minha vida, eu perdi a infância.
Fui parar na casa de meus avós paternos, que não davam a mínima para mim. Os maternos já haviam deixado a terra, e por sorte, uma boa herança. Me formei no colégio e não me deram a oportunidade de continuar a vida. Meu avô morreu e eu fui expulsa da casa. Três meses depois, minha avó também se foi.Eu fiquei sozinha.
Tive que dividir um apartamento com uma amiga, até que ela teve que se mudar atrás de trabalho e eu não pude segurar o aluguel inteiro daquilo. Fui para a rua novamente. Até que conheci Emerson.
Emerson era o dono da maior casa de dança dos Estados Unidos. Ele era espanhol, tinha as características de lá, porém se deu bem aqui. Eu precisava de algum emprego, e imaginei que lá não fosse difícil de achar. Em dois dias fui aceita e comecei a praticar, porém não achei que fosse acabar com a minha vida.
Ele se apaixonou por mim obsessivamente, de forma que eu não pudesse mais sair da casa sem acompanhamento de seguranças. Eu não podia o trair, não podia falar com outros caras. Não podia pedir ajuda, apenas sair para comprar novas roupas e livros. Esses eram os meus direitos.
Além disso, eu era forçada a transar com Emerson. Eu tinha primeiro de dançar, depois tirar minha roupa, e depois a dele... Um ritual que já decorei.Às vezes me bate a vontade de ir contra isso, porém se levanto a voz, um novo roxo aparece em meu corpo. Eu não tinha saída.
- Andem! Os caras não têm o tempo todo! - era ele nos apressando. Como sempre, eu ficava por último. - Bella, Bella...
Um olhar de cima a baixo passou por mim. Abaixei a cabeça e segui reto.
As luzes vermelhas já estavam direcionadas aos postes e nós nos encontrávamos nos lugares de sempre.
A música começou a tocar lentamente, de acordo com a coreografia. Eu dançava sempre observando o público, a procura de alvos. Flertar no palco não tinha perigo, porém raramente apareciam pessoas novas, como essa noite.Na última fileira, havia apenas uma cadeira ocupada. E nela, tinha um homem lindo. De pele morena, cabelos negros, barba bem feita, músculos desenhados, blusa social com a gravata amarrotada...
Percebi seu olhar para mim, então desviei. Eu costumava ser a menos afetada pelos homens. Eu era branca como o papel, com cabelos negros e escorridos, e os olhos azuis, porém haviam as loiras. Elas sim eram as atrações.
Continuei dançando para o homem escondido, que tinha o olhar duro. Suas mãos estavam fechadas no colo, seus olhos fixados nos meus, uma das pernas se mexendo. Fui distraída por um momento e tive de me recompor imediatamente antes que Emerson visse. Fiz o máximo esforço para voltar a coreografia, mas era tarde demais.
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In The Night
FanfictionBella tem 23 anos e está perdida dentro de uma casa de dança pelo próprio dono que a força a dançar individualmente e publicamente, e além disso, a impede de sair sem visão dos seguranças. A garota, sem saída, segue em frente. Como diziam "a esperan...