Um tipo de droga.

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"A garota foi um tipo de droga. Tu sempre teve uma droga de mania, uma droga de cheiro bom e uma droga de sorriso lindo. E tô sim, escrevendo sobre o vicio de uma garota que eu conheci numa tarde de segunda. E nas drogas que ela tinha consigo mesmo. Vai entender, né? Conheci ela sem querer, sei lá, num dia tão normal quanto hoje. Posso até dizer que não era um dia de sorte, porque era uma segunda-feira. Eu devia ter notado que você era furada, eu te conheci numa segunda. E amores de segunda, só duram até domingo. Você até que foi diferente, Julia. Você ouvia bandas da época do meu avô, e as cantava no chuveiro. E ficava de cara amarrada se eu batesse na porta pedindo pra você calar a boca. Você dizia pra mim desde o começo, pra não me iludir com o seu gosto musical. Você ouvia Cazuza, Los Hermanos, Beatles e Barão vermelho. Mas jurava de pés juntos que não tomava café preto, só nescau bem doce. Você sempre gostou de Scracho e Forfun. Mas nunca fez do tipo que gosta de serenata. Tentei cantar "Anna Julia" pra você uma vez, e você acabou rindo e dizendo que eu desafinava no refrão. Você tinha o seu próprio calendário, e nele você sempre odiou quartas-feiras. Mas eu lembro até hoje quando você riscou "ódio as quartas" porque meu aniversário caiu numa delas. Você sempre foi boa com as palavras, e sempre sentiu muito nelas. Mesmo dizendo que você é vazia e não sente nada. Você é desse tipo inesperado, Julia. E eu sempre odiei o seu jeito "surpresa". Veja bem, eu sempre tive tudo no meu controle, de repente eu conheço um suposto amor da minha vida (numa segunda, vale lembrar) e perco o controle. De tudo, Julia, tudo. Porque eu perdia a linha do raciocínio quando você chegava perto demais. Com seu cheiro que me preenchia de um modo que ninguém nunca entendeu, e nem as palavras devem entender. Não era perfume, era... Cheiro de Julia. O cheiro que ficou no meu travesseiro, no meu pescoço e na minha roupa. Eu sempre preferi teus cheiros, aos meus perfumes. E o teu sorriso, Julia? O dia podia estar nublado, chuvoso, horrível. Mas aí vem você, dona de um sorriso que... Sei lá, abre umas coisas que não tem nenhuma descrição. Talvez eu esteja sendo um imbecil, pode até ser. Mas o vicio que você me arrumou em você, me faz escrever. Escrever, Julia. Eu que sempre odiei as palavras. Eu que sempre achei graça de quem escreve pra outra pessoa. Tô escrevendo sobre você. E se fosse só sobre você tava bom, mas é sobre o vicio de você. Da menina mais estranha que eu já conheci. Você tinha uma risada que não era só um riso, era um som que ecoava dentro de você. Porque tu ria, e cuspia até teu coração. Intensa, Julia, isso é o que tu sempre foi. Lembra que eu disse que amores de segunda duram até domingo? Hoje é quinta-feira. E eu tô escrevendo pra você. O engraçado é que foi exatamente no domingo que você disse "Não, Bê, hoje não tem filme. Hoje eu durmo em casa". E você foi pra sua casa, e eu fiquei sem a minha. Tu foi meu teto e meu chão, tu foi a porra da minha casa. E faz quatro dias que eu não durmo em casa, Julia. E você com seus milhares de problemas, deixou teu refrigerante na porta da minha geladeira. O problema é que eu só tomo café. Tomava coca porque você tinha suas manias, que eu sempre odiei. Foi absurdo, Julia. Você me fez largar as minhas manias pra viver as suas. Eu prometi que você seria meu vicio só até domingo. Mas hoje é quinta, e eu já me sinto em abstinência. Não esquece, Julia. Não esquece a bagunça que você fez. Na minha gaveta, no meu armário, na minha vida. Faz diferente como tu sempre fez. Ao invés de querer durar só até domingo, volta no domingo. E anota aí no teu calendário por mim:Odeio segundas-feiras."Sobre o vicio numa garota que não bebia café, mas ouvia Cazuza.

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⏰ Última atualização: Aug 19, 2016 ⏰

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