O relatório

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O expediente havia terminado. As pessoas saiam do escritório, todas indo para suas casas. Mas Richard preferiu ficar, queria terminar o trabalho que iniciara. Só faltava um relatório.

- Depois daqui, eu vou me divertir com meus amigos – disse para si mesmo.

Ele odiava quando as pessoas diziam que ele vivia para o trabalho, aquilo era muito injusto. A saída com os amigos era uma prova disso, ninguém mais o atormentaria que estava ausente. Richard só precisava terminar aquele relatório. Precisava de apenas cinco minutos, era tempo suficiente e exato para finalizar seu trabalho.

Ele não pôde deixar de levantar os olhos e perceber que não havia mais ninguém naquele andar. Era apenas ele e a sua sombra no escritório. Sorriu com certo desprezo. "Nós advogados lutamos com unhas e dentes por nossos clientes. Mas, caso se passe cinco minutos do nosso expediente... Sinto muito, não posso fazer nada pelo senhor". Richard sorriu mais uma vez, "as pessoas devem achar que eu fico após o expediente porque quero. Talvez porque queira parecer mais, porque quero mostrar mais serviço".

Ele avaliou por alguns segundos. Tinha um fundo de verdade.

Queria de fato mostrar serviço. A questão é que adorava o que fazia. Então, era da sua natureza dar o seu melhor, porque ele realmente queria que as coisas funcionassem.

"E não foi por isso que trabalhei a minha vida inteira?", pensou como se argumentasse consigo mesmo. Ele precisava se convencer de que sempre fazia a coisa certa.

Lembrou do dia em que apresentara sua defesa de doutorado. Como estava nervoso. Mas toda aquela sensação de agonia tivera um prêmio, o melhor viera depois. O gosto da vitória. Ele viu o orgulho estampado nos olhos de seu pai e sabia que não havia presente melhor.

Richard tomou um susto quando o celular tocou. Odiava quando aquilo acontecia. Quando olhou para o aparelho, não tivera nenhuma surpresa. Era sua namorada.

"Onde você está? Ainda no trabalho. Nossos amigos nos esperam. Nós passamos tão pouco tempo juntos". Ele sabia que ela diria algo nesse sentido. E dependendo do que ele respondesse, poderia começar a III guerra mundial entre eles. Conhecia as mulheres, sabia que elas tinham esse poder.

Mas Richard sabia que tinha sua parcela de culpa. Não era exatamente a pessoa mais

presente. Talvez seus amigos estivessem certos... Não. Ele se recusava a aceitar tal enquadramento.

O celular continuava tocando. Richard continuava olhando para a tela do computador. Ele suspirou. Já havia se passado os cinco minutos, mas ele não havia escrito nem duas linhas do parágrafo que faltava. Ele olhou para o celular e olhou para o relógio.

- Só mais cinco minutos e termino. Eles podem esperar.

                                                                                    - Fim-

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⏰ Última atualização: Aug 19, 2016 ⏰

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