Capítulo Único

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Amor...

Certamente essa é uma palavra forte.

Mas, venho vos dizer, que tal sentimento, não se limita apenas a pessoas existentes. Então você poderia me perguntar; Hisagi Shuuhei, é possível amar algo, sem ele ao menos existir?

Bem, talvez a resposta esteja nos copos de uísque que já bebi, talvez nos diversos comprimidos que já tomei, nas noites que foram mal dormidas, em todos os meus dias de vida que foram mal vividos, talvez essa maldita resposta esteja em todas as minhas ações, ou até mesmo em todas as minhas histórias já escritas, em meus livros já lançados, por que em absolutamente tudo isso, existem traços dele, a única pessoa por quem me apaixonei, a única pessoa por quem arriscaria a minha vida sem pensar duas vezes.

Essa pessoa... Essa pessoa não existe em meu mundo, mas existe em meus pensamentos, em meus sonhos, em minhas histórias, foi por ele que me tornei o que sou hoje, foi por ele que me tornei forte aos olhos das outras pessoas, foi por sua causa que continuei o caminho em busca de meus sonhos, foi por ele, e apenas por ele, que consegui realizar esse sonho, que consegui continuar vivo por fora mesmo estando morto por dentro.

Agora deitado nessa, penso em como seria a minha vida se não tivesse o criado em minha mente, o que seria de mim se em um momento de desespero, não tivesse criado um personagem como ele para minha primeira história. Foi pela força dele que me mantive forte.

No momento em que perdi tudo, no momento em que aquela casa e tudo dentro dela se tornava cinza, o fogo se alastrando, a voz de minha mãe gritando, meu pai já havia sido queimado pelas chamas incessantes que pareciam dançar com o vento. Eu tinha apenas 11 anos quando tudo aconteceu. A fumaça era forte, tentei correr dali como minha mãe havia dito, mas não fui capaz, juro que tentei, mas o cheiro de fumaça invadia meus pulmões, me senti tonto, estava perto da porta, prestes a sair, mas meu corpo foi ao chão, olhei para o teto com os olhos quase se fechando, estava ficando inconsciente, morreria ali mesmo, talvez tivesse sido melhor. Minha mãe venho correndo em minha direção, arrancando forças não sei de onde, me pegou em seu colo e jogou meu pequeno corpo para fora, nesse exato momento a casa desabou sobre ela, a chamei e logo não vi mais nada.

Ela havia morrido e a culpa era minha.

Por um momento foi como se eu tivesse aberto meus olhos, estava em um lugar extremamente belo, parecia que ali eu encontraria conforto e felicidade, ventos com uma energia positiva, faziam com que eu me sentisse bem. Logo a minha frente havia um homem, cabelos prateados, em comparação a mim ele era muito grande, vestia uma roupa escura com um sobre tudo branco por cima, foi a primeira vez que o vi,sorria para mim, abrindo os braços, me senti seguro, devolvi o sorriso com mesma intensidade e corri para abraça-lo, no entanto, não consegui chegar até ele, quando estava prestes a toca-lo, tudo começou a desaparecer, aquilo não havia passado de um sonho.

Continuei vivendo, sem ter a menor vontade de tal coisa.

Depois de alguns anos, já maior de idade, decidi, que se ele não tinha a capacidade de viver nesse mundo, eu viveria por ele, e foi assim que vivi, foi assim que me mantive forte, me tornei um grande escritor, tendo sempre ele em todas as minhas estórias, creio que esse foi o modo que encontrei para torná-lo mais real para mim.

Nesse momento me encontro em um leito de hospital, ainda respiro por ajuda de aparelhos, dizem que tenho alguma doença consumindo meus pulmões, talvez pela nicotina em excesso, sinto que estou próximo de minha morte, ninguém me diz absolutamente nada, não recebo visitas, afinal, nunca tive ninguém próximo a mim.

Deveria esperar que alguém viesse me visitar? Claro que não.

Talvez você queira me perguntar o motivo de me manter calmo sendo que estou no final de minha vida tendo apenas 27 anos.

A resposta é simples; Aceitarei a morte de bom grado, já vivi o suficiente, realizei o sonho de me tornar um grande escritor, e nesse mundo eu não tenho nada. O fato é que já cansei de viver em um mundo onde Muguruma Kensei não exista.

Já não ouço o barulho dos aparelhos, o calor vai abandonando meu corpo, sinto uma dor em meu peito, talvez seja apenas solidão, saudade de algo que nunca tive, fecho meus olhos lentamente, tenho vontade de chorar, mas as lágrimas não querem cair, me sinto assim a dias, é uma dor estranha, um vazio que vai ficando ainda maior com o passar do tempo, entretanto, parece que quanto mais me sinto assim, me sinto mais vivo, por mais que a vida esteja se esvaindo de meu corpo nesse momento.

Meu último pensamento?

Penso em quantas pessoas sentem a mesma dor e tentam se acostumar com isso.

Será mesmo que alguém nesse mundo se sente completo?


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⏰ Última atualização: Aug 20, 2016 ⏰

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