Vestido de noiva

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Havia algo errado com ele, deduziu enquanto observava os movimentos – ou a falta deles – dos seios enormes e redondos. A mulher rebolava, beijava e gemia furiosamente, mas ele não tirava qualquer prazer disso. Queria que acabasse logo.

Talvez fosse o cabelo. O que dera nela para corta-lo na altura dos ombros e pinta-lo de loiro? Ou as unhas afiadas cravadas em suas costas. Embora nunca se incomodasse com isso antes. O mais provável era que estava estressado e cansado. Aceitar o convite dela naquelas condições fora péssima ideia.

Fátima Câmara tinha sua própria empresa de arquitetura, viajava o mundo com seus projetos e era uma das poucas mulheres com quem Simon se encontrava mais de uma vez. Tinham se conhecido em um bar anos atrás e ocasionalmente, quando estava na cidade, ela o procurava.

Inteligente, sofisticada e independente, ela era uma boa companhia e não desejava nada além de sexo casual. Seu único defeito era o gosto por essências enjoativas e doces. Era uma pena que de todas as coisas que mudara a fixação por fragrâncias adocicadas não fosse uma delas. O perfume que ela escolhera acabara com seu tesão minutos antes, mas fora idiota em levar a transa adiante e agora temia brochar a qualquer instante, o que seria a cereja no topo da sua humilhação.

Por algum milagre conseguiu manter-se firme até o fim e simulou chegar ao orgasmo depois dela. Embora, com o corpo dela estirado sobre o seu, questionasse se ela também fingira.

— Foi fantástico — ela ronronou, mordendo de leve o lóbulo de sua orelha.

Ele gostaria de dizer o mesmo.

— Vou ao banheiro.

— Volte logo.

Desviou antes que ela plantasse um beijo em sua boca e marchou para o banheiro, trancando a porta. Jogou a camisinha vazia no vaso e deu descarga. A última coisa que precisava era deixar a prova de que quase falhara.

Apoiou as mãos na pia e olhou para seu reflexo no espelho. O que viu, ou melhor, não viu, o preocupou. Enxergava através de seu semblante, direto ao ponto que obscurecia seu olhar. Fora péssima ideia encontra-la na casa dela. Se estivesse em seu apartamento tomaria um banho e talvez relaxasse. Ali o único que queria era ir embora e esquecer aquela noite.

Saiu do banheiro, olhou rapidamente para a mulher na cama, fumando, o corpo coberto da cintura para baixo, e começou a recolher suas roupas.

— Já vai?!

— Sim.

— Mas temos a noite toda.

— Tenho que ir para casa — disse, colocando as peças com movimentos apressados.

— Fala como um homem casado.

— Se fosse não estaria aqui.

— Tem certeza?

Caçando e vestindo suas roupas, Simon considerou que a pergunta não merecia resposta. Sentou na cama para calçar os sapatos e teve a cintura enlaçada por Fátima.

— Quer um trago? — ela ofereceu o cigarro entre seus dedos, os peitos espremidos nas costas de Simon.

— Parei de fumar.

— Quantas mudanças.

Ele podia enumera-las nela, mas precisava escapar dali o mais breve possível.

— Isso tem dedo de mulher?

— Sim.

Ela se afastou.

— Ela deve ser especial.

— Com certeza. — Levantou. — É minha mãe.

— Vai embora por causa da sua mãe?!

Ensina-me ~ DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora