Minha estação favorita era o inverno. Não havia nada que eu amasse mais do que o frio, mesmo que, de certa forma, ele fizesse com que me sentisse melancólica.
Era irônico pensar em tudo agora. Eu a conhecera numa primavera, mas apenas me dei conta que estava apaixonada durante o inverno. Seu sorriso doce me encantara desde o princípio, meu sorriso tolo fez com que eu percebesse meus reais sentimentos.
Uma vez tentei lhe contar o que sentia, mas ela não entendeu. Disse o quanto a amava, mas não a forma como encarava o sentimento. Yongsun respondeu que me amava e o quanto se importava comigo. Nunca nos amaríamos da mesma forma.
Tentei seguir em frente, diversas vezes, mas nada adiantou. Eu não conseguia me apaixonar por outras garotas, meus sentimentos pertenciam a ela.
Yongsun tentava esconder, mas ela era péssima mentindo, eu sempre sabia quando estava com ciúmes. Toda garota com quem me envolvia a deixava um pouco irritada, mas era apenas medo de me perder. Ela temia não me ter quando precisasse.
Lidar com meus sentimentos e as consequências deles nunca foram de fato um problema. Eu havia me conformado em ter apenas sua amizade. Mas quando o primeiro "incidente" aconteceu tudo mudou.
Yongsun havia me chamado para acompanhá-la durante as compras de natal. Assim que cheguei ao seu apartamento senti uma agitação maior que a de costume. Ela veio me receber e assim que a vi chegar o cheiro floral me atingiu.
-Yul! Como você está?
-Bem e você? - Respondi um pouco atordoada.
-Estou bem, entre um pouco, já vamos sair.
-Yongsun, você mudou seu perfume?
Ela me olhou surpresa, cheirou sua camiseta e balançou a cabeça em negativa.
-Deve ter sido impressão minha então - Disse dando de ombros.
Depois de alguns minutos saímos. O cheiro floral, que eu não conseguia dizer de onde vinha nem mesmo a que flor pertencia, continuava forte.
Na volta para casa compramos alguns doces, Yongsun segurou minha mão e meu coração deu um salto como sempre, mas dessa vez senti uma reviravolta estranha em meu estômago.
Um pouco antes de entrarmos em sua casa ela tropeçou e não pude deixar de rir. Recebi um olhar reprovador e ela passou a cobertura do doce em meu rosto enquanto corria para dentro.
Quando a alcancei ela estava perto da pia da cozinha, antes que eu pudesse fazer algo para me vingar de sua travessura recebi um jato de água no rosto. Fiquei um pouco irritada e cortei a distância entre nós. Segurei seus braços enquanto ela ainda ria e não pude conter meu próprio riso.
O cheiro das flores começou a tornar-se cada vez mais forte, impedindo que eu sentisse outros cheiros e deixando minha respiração mais curta.
Gradualmente nosso riso cessou, seus olhos fixaram-se nos meus com uma intensidade que me fazia estremecer. Seu rosto estava próximo demais, podia sentir sua respiração em meus lábios. O silêncio tornou-se tenso e ambas começávamos a corar. Yongsun suspirou e afastou-se rindo.
Meu estômago revirou-se, minha visão tornou-se um pouco turva e o ar parecia não entrar de fato em meus pulmões. A ânsia e a dor vieram num único golpe e corri para o banheiro. Yongsun tentou me alcançar, mas tranquei a porta.
O gosto de ferrugem tomou minha boca, uma tosse compulsiva fez minha garganta queimar e senti algo grudar-se a ela. Forcei para que tudo saísse, olhei para a pia e não acreditei no que vi: sangue e pétalas violetas.
Aquilo era impossível, como diabos eu havia vomitado pétalas de flores? Além disso, todo aquele sangue me preocupava. Mas talvez houvesse uma explicação, tinha que ter. Tentei pensar em algo e por fim, cheguei a conclusão de que havia engolido as pétalas sem perceber e aquilo fora uma reação alérgica.
Respirei fundo. A teoria da reação alérgica fazia sentido, eu não deveria me preocupar. Lavei a boca e o rosto, limpei os vestígios do que havia acontecido e então saí do banheiro.
-Yul, está tudo bem? - O rosto de Yongsun estava preocupado e sério.
-Não se preocupe, foi só um enjoo, talvez porque comemos muito doce.
Passei semanas pensando naquilo, mas como não tive nenhum outro enjoo como aquele nesse período achei que deveria apenas esquecer. Infelizmente, eu não poderia estar mais enganada.