Prólogo

1.4K 64 11
                                    

Calor. Muito calor. Era tudo no que ele podia pensar naquele momento. Estava a meio da tarde, e o calor que fazia quase podia derreter-lhe o cérebro. Tinha a certeza que já sentia os miolos a sair juntamente com o suor que lhe corria pela face.

Fez uma pausa e começou a beber água de um grande cantil que trazia sempre consigo, retomando o seu trabalho logo de seguida. O maior cuidado a ter durante o dia era certificar-se que bebia bastante água para não ficar doente durante pelo menos uma semana, como tinha acontecido nos últimos dias a muitos dos trabalhadores.

"Beber água", este tinha sido o primeiro conselho que lhe haviam dado, já há muitos anos quando começou a trabalhar nos campos de arroz. Embora normalmente se começasse ainda criança, ele começara aquela vida apenas na adolescência, talvez com dezasseis anos, ou um pouco mais velho, mas isso não importava tal como as razões que o levaram a começar a trabalhar apenas naquela idade, isso preferia guardar só para si. Se por acaso alguém perguntava há quantos anos ele levava esta vida, ele respondia que desde o dia em que nasceu, o que levava ao riso de muitos.

Ele não gostava que se metessem na sua vida, cada um tinha a sua para cuidar, por isso que não se metessem na dele. Era no entanto difícil não chamar à atenção se fosse demasiado reservado, assim tinha que ser o mais simpático possível com toda a gente, o que ia quase contra a sua personalidade. Mas esse era um sacrifício muito leve comparado com outros que tivera que fazer durante a sua vida.

De qualquer forma, o seu dia de trabalho não permitia grande tempo para conversas o que facilitava bastante as coisas. Levantava-se bem cedo, ainda de madrugada, a meio do dia, parava uma hora para almoçar, era o único descanso que tinha durante as duras doze horas de trabalho diário, juntamente com as pausas para beber água, se é que isso realmente conta. E era sempre assim, dia após dia.

Muitos diziam que o seu capataz era um tirano que os acostumava a trabalho de escravo, e ele sabia que em parte tinham razão, mas havia coisas piores e Deus sabia que já tinha passado por maiores suplícios, quando não era mais do que um rapaz.

No entanto já poderia ter mudado de trabalho mas gostava daquele ritmo. O esforço físico impedia que a sua mente vagueasse para tempos mais escuros da sua vida, e o cansaço impedia os pesadelos de noite. Já para não falar que aquele trabalho era mais discreto que qualquer outro. Quem iria desconfiar de um pobre camponês?

Mas a razão que se sobrepunha a qualquer outra era que aquele campo onde trabalhava, fazia parte das terras do rei. Em conversa com qualquer pessoa era uma honra trabalhar para o rei, e essa era a maior razão porque aceitara o trabalho. Na realidade isso não era realmente importante, pois reis existiam muitos e não era particularmente fiel ou leal aquele. Já tinha passado por inúmeros reinos em toda a sua vida e nunca fora leal a nenhum deles.

Na verdade uma das principais razões de trabalhar naquele campo era este ser o mais próximo do castelo, o que o permitia apreciar aquela maravilhosa e imponente obra durante todo o dia, pelo menos fora esse o propósito no início de tudo.

Com o passar do tempo descobrira que o castelo não era a única beleza do local, pois o rei tinha duas belíssimas filhas que estavam acostumadas a passear a cavalo por aquelas terras muito frequentemente.

Pela sua aparência podia dizer-se que as duas eram calmas e recatadas, umas verdadeiras damas. Mas ele sabia que muitas vezes nem tudo é o que parece, a começar por ele próprio. Mas voltando às princesas, eram gémeas mas não podiam ser mais diferentes, pelo menos fisicamente. Uma delas chamava-se Ino e era um encanto para os olhos, dizia-se que era cortejada por muitos cavalheiros da corte, que a sua simpatia era inigualável. Já a sua irmã Sakura era anormalmente tímida, muito apática e raramente mostrava um sorriso, desde a morte da mãe. Ambas tinham por volta de 17 anos, e ainda nenhuma tinha casado, o que era muito estranho para a idade.

Pelo que se falava nos corredores do castelo desde o desaparecimento do herdeiro ao trono Naruto, Sakura seria um dia a rainha, já que para sua sorte ou azar, tinha nascido antes de Ino. Havia muitas teorias relacionadas com este súbito desaparecimento, no entanto a realidade era muito mais complicada, e como gostaria de não estar metido nessa confusão. Nem era seguro pensar nisso.

Muitos achavam que a princesa Sakura não tinha força, nem espirito para cuidar do reino, logo era preciso cuidado a escolher um futuro rei, ou seja o futuro marido da princesa. Ultimamente dizia-se que o seu pai, o rei Minato, queria casa-la com um rei muito poderoso de um reino do sul, o rei Uchiha Madara.

Segundo o conhecimento popular o rei apenas se sentia obrigado a faze-lo, pois Madara estava pronto a invadir o reino e a toma-lo à força, e para evitar uma guerra, que certamente iria perder, resolveu da-lo e poupar a vida aos seus soldados.

Se isso fora esperteza ou cobardia, não podia dizer, essas decisões cabiam apenas ao rei, e por Deus, ele não o era. Se no entanto Madara viesse a conquistar aquele reino, mudar-se-ia novamente, para o mais longe possível, pois ele era um tirano, um ditador que não olhava a meios para atingir os seus fins, e se tivesse que causar pânico e sofrimento pelo seu caminho não se importava, até preferia dessa forma. Era calculista e maquiavélico, muitos diriam o diabo em pessoa, e não estavam longe da verdade.

Lamentava pela princesa ter que se casar com aquele homem horrível, mas se era esse o destino dela, ele não tinha nada a ver com isso.

Naquele momento a princesa Sakura passeava junto ao rio, estava apenas a uns metros de distância. Estava a cavalo e como sempre acompanhada por um cavaleiro, mas vinha sem a sua irmã e a sua expressão indicava, tristeza, frustração e talvez raiva, mas não podia ter a certeza porque estava a alguma distância e nem sequer devia estar a olhar naquela direção e sim estar a trabalhar. No entanto todas estas emoções estavam muito bem dissimuladas por um capa de frieza e era quase impossível detectar qualquer emoção na princesa e isso era o que o intrigava e o que o levava a espiar a princesa Sakura daquela forma. A sua mente quase o levaria a pensar que ela era bonita, mas não tinha espaço na sua vida para mulheres.

De repente o cavalo da princesa assustou-se, de onde se encontrava não conseguiu entender com o quê, e ficou descontrolado, e apoiado nas suas patas traseiras. Incrivelmente a princesa não caíra do cavalo nem mostrava medo. Pegou as rédeas e com alguns movimentos e palavras firmes a princesa recuperou o controlo rapidamente. O cavaleiro ainda desmontou rapidamente para ajudar ao controlo do cavalo, mas parecia uma marionete a andar de um lado para o outro sem fazer nada de jeito. Parecia mais assustado que o próprio animal. No entanto a princesa agradeceu ao cavaleiro, e este volta a montar.

Mas que raio de cavaleiro era aquele que na realidade não fez nada para ajudar, limitou-se a olhar para a princesa enquanto esta dava a volta à situação, mas isso realmente não era da sua conta e devia era estar a trabalhar.

Na realidade não acreditava que a princesa pudesse ser tímida ou apática, mas que o dissimulava, devido ao estatuto social que ocupava. A forma como dominara o cavalo há poucos momentos atrás mostrou o verdadeiro interior da princesa, e o que ele viu nos olhos dela foi força.

Mas isso não importava ele só tinha que fazer o trabalho dele.

Quem é que queria enganar, o que viu nos olhos da princesa mudava tudo para ele, infelizmente.

Notas finais:
Link da foto do início.
http://wallpaper.ultradownloads.com.br/102859_Papel-de-Parede-Castelo-Himeji--102859_1280x960.jpg

O Nascer de KonohaOnde histórias criam vida. Descubra agora