XV

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- Francesca eu não podia imaginar.

- Está tudo bem Simão, não te preocupes.

- Não foi bom o tio Simão ter decidido vir mais cedo para o casamento da tia mamã?

- Foi claro princesa, eu estava a morrer de saudades da minha pestinha.


Abraço a minha filha e encho o seu corpo de beijinhos e ela como sempre tenta afastar fingindo que está a morrer de vergonha, mas no fundo eu sei que ela ama tanto estes momentos quanto eu.

Passeamos um bocado pela cidade e a Carolina não para de falar em como gostava de morar aqui, e com isso acabo por me lembrar de que tenho uma decisão a tomar sobre a nova galeria, ainda não visitei o espaço. Desde que cheguei que tenho andado focada no Colin e naquilo que estava a sentir que me esqueci de toda a minha vida.

Aproveito a presença do Simão para irmos juntos visitar o espaço que nos tinha sido proposto, ele como sócio tinha uma palavra a dizer também, embora a decisão fosse sempre minha.


- Gosto de todas mãe. Podemos ficar aqui por favor.

- Carolina a mãe já explicou que não podemos abandonar assim a nossa casa.

- Mas a nossa família está aqui, os meus avós, os teus amigos, o meu pai.

- Carolina... - interrompe Simão em modo de advertência. A minha filha mesmo sendo ainda uma criança nunca lhe escondi a verdade sobre o seu pai, ao contrário do que o Colin disse o Simão não é o pai nem ela tem oito ou nove anos, mas a última coisa que eu podia fazer era tê-lo corrigido.

- Deixa Simão. Carolina já sabes que é complicado.

- Posso pelo menos conhecer os meus avós?

- Podes filha, claro que podes.

- Hoje.

- Se quiseres mesmo.

- Quero.


Chegamos a casa da Gina e esta está sentada no sofá acompanhada pelo Tiago a verem a organização das mesas. Quando se voltam para mim estão com cara de caso e eu tenho até receio de ouvir do que se trata.


- O que se passa?

- Nada não. É o stress do casamento.

- Pois é tia está quase a chegar o dia.

- Sim querida vem cá dar-me um abraço.

- Já dei um hoje tia.

- Sim e já não me davas há muito tempo.


As duas acabam por se abraçar e eu instalo as malas da Carolina no quarto onde estou alojada, já o Simão terá de ficar no sofá da sala, mas ninguém o mandou vir mais cedo do que devia sem me avisar e dar tempo de preparar tudo ou reservar um quarto em um hotel. Deito-me e acabo por adormecer sem levar a minha filha a conhecer os meus pais, provavelmente o meu inconsciente forçou-me a adormecer tão cedo, não quero que eles a conheçam, se durante estes anos nunca o quiseram fazer se o faço é por ela e não por eles.


- Mamã mamã acorda.

- Que horas são Carolina?

- São nove da manhã.

- Não temos nada combinado para hoje querida a mãe está cansada.

- Parece que o tio Colin tem.


Levanto de um sobressalto quando ouço a palavra tio e Colin na mesma frase, ele não pode estar aqui, aliás ela nem o pode tratar assim.


- Quem?


Saio de rompante sem me preocupar com o meu pijama reduzido e vou ao encontro deles para ver se estou a sonhar ou se ouvi bem o que a minha filha me disse.


- Colin que estás aqui a fazer?

- Bom dia também para ti.

- Tu não podes estar bom da cabeça para estares aqui depois do que me disseste ontem.

- Na verdade não estou aqui para te ver mas sim à Carolina.

- Nem pensar!

- Vá lá mamã o tio Colin veio-me buscar para jogar futebol e sabes como eu adoro, vá lá vá lá.

- Não o chames assim Carolina!

- Mas eu chamo todos os teus amigos assim mãe.

- Mais um motivo para não o chamares assim, ele não é um amigo da mãe.

- Pois não. Já fomos mais do que isso. – Colin tem a coragem de gracejar e de piscar o olho à minha filha e esta desata a rir, e como se não bastasse é acompanhada por Gina, Simão e Tiago que acabaram por ouvir tudo da cozinha.

- Chega! Tu não vais a lado nenhum com a minha filha.

- Mas mãe...

- Nem mas nem meio mas, para além disso já temos planos para hoje.

- Mas acabaste de dizer que não tínhamos nada.

- Já falei Carolina Roquefor.

- Eu odeio a minha mãe nesta cidade, não posso sair, não posso conhecer os avós, não podemos ficar aqui a morar, não posso conhecer o meu pai, nem sequer saber o seu nome, eu odeio isto odeio.


A minha loirinha sai da sala aos gritos a chorar e fecha-se no quarto. Eu acabo por não conter as lágrimas com as acusações que ela me faz, magoa-me tanto a mim quanto a ela não conseguir ser a mulher que sou quando estamos na nossa casa longe destes dramas e destas mentiras. Estão todos atónitos com o que acabou de se passar, inclusive eu que nunca a tinha visto reagir assim. Simão acaba por dizer qualquer coisa a Colin quando passa por ele que eu não consigo ouvir ou entender e este acaba por sair depois de me dizer que lamenta pelo que aconteceu. Tenho a Gina abraçada a mim e Tiago que sai atrás do irmão de casa.


- Vou-vos deixar um bocado sozinhas. – Simão também sai de casa e sei que a conversa desta vez é inevitável.


Sento-me no sofá ao lado da minha amiga que me segura nas mãos e tenta fazer com que o chore acalme e quando este cessa sou eu quem acaba por quebrar o silêncio.


- Tu sabes Gina.

- Só quem é cego não sabe querida.

- Porquê que tinham de se ter encontrado no parque, eu podia ter evitado que se cruzassem até ao dia do casamento. E porquê que se deram tão bem se mal se conhecem. E que ideia a dela de o tratar por tio e a dele de a convidar pra jogarem futebol.

- Francesca eu acho que eles acabam por sentir que alguma coisa os une, no gosto pelo futebol são iguais e eu sei que te dói mas não podes continuar a esconder isto de nenhum dos dois.

- Ele nunca me vai perdoar.

- Vocês estão péssimos por causa desses segredos todos que vos rondam. Tens de lhe contar. Pelo menos ao Colin.

- E como é que lhe vou dizer que não abortei e que a Carolina é filha dele?

Eterno AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora