A floresta

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Fui para a floresta para descontrair e sentir o vento cortante de Londres à meia-noite. Tenho que admitir que esta floresta é muito mais assustadora do que a de Dublin.

Depois de uns minutos a andar sozinha e desprotegida, decidi encostar-me a uma árvore e pensar. É sempre um bom plano. Enquanto estava sentada no chão húmido do bosque um flashback do que me aconteceu assombrou-me:

«Estávamos na sala da minha casa e estava um nevoeiro terrível.

"Hoje está um dia perfeito para um filme de terror!" – propôs Connor. Um sorriso malicioso crescia nos seus lábios.

Claro que eu, a Liv e a Kelly nos recusámos prontamente. Tenho que admitir que tenho medo de qualquer espécie de filme de terror.

"Não sejam medricas! Hoje vai passar um filme brutal no cinema. Chama-se "A Coisa". E, Bella, se quiseres, podes agarra-te a mim."

Admito que a ideia me agradou. Tenho que confessar, eu tenho um fraquinho pelo Connor. Depois de imensa insistência da parte dos rapazes, decidimos aceitar e fomos arrastar a minha irmã da cama.

"Mãe, voltamos por volta da meia-noite!" – avisou Martha.

A minha mãe deu as recomendações do costume e depois entrámos na carrinha a cair de podre do meu pai. Temos mesmo de arranjar uma nova. Estávamos no carro a cantar e a fazer as parvoíces do costume, quando a Liv gritou:

"Martha, cuidado!"

Olhei para a frente e a única coisa que vi foi um vulto de uma criança, um som terrível e... despistámo-nos. Senti a minha cabeça a tombar, o carro já capotado e os olhos pesados.

Abri os olhos e senti que algo estava mal. Olhei para o lado e, para além de estar tudo ao contrário, a única coisa percetível aos meus olhos era sangue, o meu sangue, o sangue dos meus amigos, o sangue da minha irmã.

"Martha, acorda! Temos de chamar uma ambulância." – Martha permanecia calada. – "Martha!" – gritei.

Estava a começar a entrar em pânico. Olhei para os bancos de trás e apesar dos meus esforços para reanimar algum dos meus amigos, nenhum acordou. Tentei soltar-me do cinto de segurança, mas a minha força começava a dissipar-se.

"Mana, por favor acorda, não me deixes sozinha." – senti as lágrimas a escorrer pelo meu rosto. – "Alguém me ajude!" – a minha voz saiu estrangulada.

"Theo, Connor... " - foi neste momento que percebi que faltava alguém no carro. Theo. – "Theo, Theo..."

Gritei por todos os meus amigos, nenhum deles respondeu e não só o pânico se apoderou de mim, eu sentia-me angustiada e ansiosa. Se é verdade que Deus existe, ele tem que fazer alguma coisa.

Eu estava cada vez mais fraca e custava-me imenso manter os olhos abertos, antes de desistir e desmaiar ouvi passos e uma gargalhada que me arrepiou.

...

Ouvi barulho. Pessoas a falar. Uma máquina. Uma máquina hospitalar. Abri os olhos e uma luz forte incidiu sobre eles. Pisquei várias vezes os olhos e a primeira coisa que me veio à cabeça foram os meus amigos.

"Onde é que eles estão? Os meus amigos? A minha irmã? Onde é que eles estão?" – eu estava nitidamente inquieta.

"Tenha calma, menina Marin. Não pode fazer esforços." – a cara do médico e o facto de os meus pais não estarem presentes no meu quarto deixava-me nervosa e com um mau pressentimento. – "Vai ter que ser forte!"

"O que é que se passa? Fale de uma vez!" – exigi.

"Bella, os seus amigos e a sua irmã, infelizmente, não resistiram aos ferimentos causados pelo acidente."

"Saia, eu preciso de estar sozinha e não se atreva a chamar os meus pais." – foi a única coisa que consegui dizer.

O médico saiu e por um segundo não senti, não pensei. De um momento tudo me caiu em cima e não consegui controlar o choro. Eu sentia raiva, desespero. Eu sentia-me perdida. Eles desapareceram. Porque é que eu tinha de ficar? O meu choro era cada vez mais desesperado. Levantei-me e expressei tudo o que sentia. Rasguei os lençóis, atirei as almofadas, o meu telemóvel, as flores, os copos de água, tudo contra a parede. Rasquei os relatórios que estavam pendurados aos pés daquela maldita cama e no final não me senti melhor. Senti-me vazia.»

Uma voz familiar interrompeu os meus pensamentos. Limpei as lágrimas que já escorriam no meu rosto e encarei-o:

"Que estás aqui a fazer sozinha?" – perguntou Patrick.

"Isso pergunto eu. Pensava que eras mais do estilo de ler um livro ou ver novelas." – comentei.

Conversámos durante um bocado e percebi uma coisa: o Patrick é especial, ele foi o único ser humano que me fez esquecer, por momentos, como a minha vida é uma merda.

Ele insistiu em levar-me a casa e fez-me rir. Uma coisa que eu não fazia há anos!


Ghosts of the PastOnde histórias criam vida. Descubra agora