OLHOS TRISTES

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Assim que Tiago recuou, afastando-se, Cecília olhou fixo em seus olhos, o azul opaco trazia agora não um mistério, e sim um desespero de uma criança perdida de seus pais. Uma lagrima solitária escorria dos olhos de Tiago, a mesma escorrera sem pedir permissão. Aqueles olhos opacos e frios refletiam o coração de Tiago. O mesmo não esboçava nenhuma reação, como a face serena de um defunto.

Ao olhar no fundo daqueles olhos, Cecília sentiu seu coração partir-se, vê-lo chorando era uma dor indescritível, fora como se o tempo parasse. Estar dividido entre a razão e o coração era uma indecisão tamanha. Eram dois lados certeiros e obscuros, ambos teriam espinhos, mas era preciso aceitar a escolha e seguir em frente.

Aquele oceano azul transbordando em lagrimas, nada se parecia com o homem sorridente que se fez presente pela manha.

Chuva.

Seus corpos colados.

Os lábios se tocando em um desejo incontrolável.

As cenas rondavam a mente de Cecília como trailers de filme.

Parque de diversões.

Sorrisos travessos.

-Vem! Vai ser inesquecível!

Lembrara-se, Cecília.

O que um dia fora fogo, agora se tornava brasa. Entraram em combustão e agora nada passava se fumaça. Ambos estavam feridos e nada havia de ser feito.

Aqueles olhos de criança perdida continuavam a fita-la, sem o mínimo movimento, como se os mesmos não tivessem vida, mas para Cecília, não havia justificativa alguma para o cometimento de tal ato.

Em uma fração de segundos, Tiago aproximou-se e instantaneamente abraçou Cecília, em busca de um perdão, ou apenas um amparo.

Ao sentir o toque quente da pele de Tiago em sua epiderme, a raiva consumiu Cecília. A jovem recuou, cerrando os olhos que transbordavam de decepção. Sem hesitar, Cecília desferiu-lhe uma bofetada no rosto, a qual soou um estralo ao impacto.

- Nunca mais quero te ver, Tiago Araldi! – ela cuspira as palavras e retirou-se da residência de Tiago, acompanhada por Bruna, que estava surpresa com a atitude da colega.

Tiago a vira partir, sem reação.

- Por favor, Bruna deixe-me sozinha! – Cecília disse assim que adentrou sua residência, antes mesmo que Bruna pudesse fazer o mesmo.

- Cecília... – Bruna tentou intervir, mas não obtivera êxito.

- Por favor! – Cecília gritou, fechando a porta em um baque.

- Fique bem. – Bruna falou, dando de costas.

Cecília trancou a porta, e correu para o banheiro.

O espelho refletia a imagem de uma jovem, rosto inchado por conta do choro, olhos miúdos, e lágrimas negras de maquiagem borrada.

Cecília despiu-se e adentrou o Box do banheiro, ligara o registro e deixara a água correr pelo seu corpo.

Todas as suas forças haviam se esgotado.

Entregara-se a Tiago, não somente de corpo, mas também de alma.

Aqueles olhos tristes marejados faziam com que Cecília chorasse ainda mais.

A jovem sentou-se ao chão do banheiro e recostou-se na parede de azulejos frios.

A água lhe acalmava, lhe recompunha as forças, era necessário seguir.

Após um bom tempo sentindo a água corrente em sua pele, Cecília levantou-se e alcançou seu roupão. Envolveu o tecido sobre seu corpo e seguiu para o quarto.

Ao abrir o guarda roupas Cecília deparou-se com uma camisa jeans.

-Maldita camisa! – Cecília exclamou, alcançando-a e vestindo-a.

Deitou-se na cama, e as lagrimas tornaram escorrer de seus olhos novamente.

Entre soluços, Cecília repetia a frase que Tiago lhe dirá dias atrás.

-Meu passado me condena.

Existia amor, não havia como negar tal fato, mas como acreditar em alguém como Tiago Araldi? Um assassino!

Um Desconhecido No HorizonteOnde histórias criam vida. Descubra agora