26. KATHERINE

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Um raio corta o céu ausente de estrelas, é quase como se pudesse senti-lo me atingir e fazer meus cacos ressoarem dentro de mim, aprofundando os cortes da minha alma e a intensidade da minha aflição. Enxugo o rosto com o dorso da mão, embora algumas lágrimas já tenham escorrido pelo meu pescoço, deixando um rastro de arrependimento por dentro e por fora.

A chuva torrencial, misturada ao desmedido volume de lágrimas dificulta minha visão. O aperto no peito, emaranhado aos soluços em excesso, compromete minha respiração, dando-me a certeza de que estou sucumbindo junto ao amor que me fez florescer.

Meu pé pisa no freio por alguns segundos, aguardando que os enormes portões de ferro se abram. Quando isso acontece, reconheço meu estado de calamidade por buscar refúgio naquele que desencadeou o maior trauma da minha vida. Estaciono em frente à porta principal e respiro fundo, estancando tudo aquilo que anseia sair. Não quero que ele presencie o caos que me devasta neste momento.

Nunca imaginei que, quinze anos depois, eu tornaria a ser a garota com o telefone no ouvido.

Saio do carro e corro em direção à porta que se abre. O homem, apesar da cara de sono, não esconde a surpresa ao me ter diante de seus olhos. Ele me dá passagem e eu entro na mansão. Tento desviar minha atenção para a decoração clássica, sem sucesso, quando finalmente me vejo obrigada a encarar seus olhos negros.

— O que aconteceu? — guia-me até a sala — Você está encharcada.

— Posso ficar aqui essa noite? — abraço meu próprio corpo, com frio.

Robert assente de imediato, embora ainda não pareça entender o que está acontecendo.

— Vamos, vou te emprestar uma roupa para você se trocar.

Sigo-o pelo próximo lance de escadas e entramos na segunda porta à esquerda de um extenso corredor. Olho em volta, percebendo se tratar do quarto dele. O homem some no closet, enquanto algumas fotos na mesa de cabeceira chamam minha atenção.

Aproximo-me do porta-retratos, contendo a gama de emoções ao ver uma foto minha com ele, quando eu ainda era uma garotinha. Há mais duas fotos minhas sobre o pequeno móvel. Largo o objeto quando ele surge com uma toalha e algumas roupas. Ele exibe a tentativa de um sorriso e me deixa sozinha para me trocar.

Enquanto faço isso, permito que minha barreira emocional se rompa mais um pouco, deixando algumas lágrimas e soluços escaparem. Talvez, assim eu não me afogue na minha própria tristeza.

Retorno à sala e sento-me no sofá. O relógio na parede marca uma da manhã. Não tinha percebido que a lareira estava acesa. Perco-me em pensamentos, observando as chamas dançarem à medida que a lenha queima. As lágrimas insistem em surgir no canto de meus olhos, mas as retenho quando Robert entra no cômodo com duas xícaras em mãos. Em seguida, entrega-me uma e ocupa o lugar ao meu lado.

— Sua mãe sabe que você está aqui? — limito-me a negar — O que aconteceu?

— Mamãe foi dormir na casa de Olga, elas estão fazendo uma noite das meninas. A Lucy foi visitar a tia dela em Cambridge e Lauren e Rick não seriam boas opções. Só sobrou você — bebo um pouco do chocolate quente.

— E o Benjamin?

Um sorriso amargo brota em meus lábios e algumas lágrimas rolam, ainda que não tenha dado permissão.

— Não faz mais parte da minha vida.

— Não faz mais parte da minha vida

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Primeiro Amor • Livro 1 | Série Por AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora