capítulo um

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E ela olhou para ele, e isso virou eterno...

Às vezes gosto de ficar aqui sozinha, quer dizer, eu não gosto de ficar solitária, mas gosto de ficar sozinha, no fundo acho que não estou sozinha, mas sim solitária. Minha alma tem penúria, que às vezes penso até em pedir esmolas na rua. Fico aqui, principalmente quando é inverno, sentada em frente a minha janela olhando o tempo passar e observando a chuva em silêncio, gosto do barulho da chuva, pelo menos este é o único lugar da casa onde não me sinto como se eu estivesse dentro de um inferno. De vez em quando Rosa, a governanta da casa, passa aqui para saber se preciso de alguma coisa, minha resposta é sempre a mesma. Por que ela não me deixa em paz?
-Ana, precisa de alguma coisa querida?
-Não!
-Tem certeza?
-Me deixa em paz Rosa!
Rosa acha que estou depressiva por causa de minha doença e da morte da minha mãe, talvez não seja o meu caso, talvez eu só esteja triste, mas é difícil acordar de manhã e fingir que estou viva.
Olho da minha janela alguns garotos jogando futebol no parquinho, eles estão crescendo, mas aqui dentro tudo está como ontem, nada mudou, e isso me deixa entediada.

***

Rosa Flores entra no meu quarto de madrugada por causa dos pesadelos que me assombram, sonho com Enrico e com os estupros violentos que ele me causa, me vejo rolando entre os cobertores aos gritos.
-O que aconteceu querida?! Pergunta preocupada.
-Ele vem me pegar. Murmuro baixinho com a voz trêmula.
-Ele quem?
-Ele. Digo entre soluços e Rosa me abraça.
-Esta tudo bem, foi só um pesadelo.
-Onde está Emily?
-Está no berço.
Apesar de estar na faculdade, não tenho uma vida social muito ativa, isso preocupa Rosa porque ela vive me dizendo para fazer mais amizades, mas tenho como costume evitar os humanos, minha preferência é por cachorros, mas Enrico, meu padrasto, não me deixa ter um.
O dia amanheceu e tudo está como ontem, estou em frente a minha janela, cabelos emaranhados, olheiras e roupas desleixadas. Costumo sentar aqui contando às folhas que caem da árvore em frente do meu quarto, as pessoas estão caminhando pelas calçadas sorridentes. É difícil ver alguém sorrir e querer estar no lugar dela.
-Agora já chega Ana! Estou cansada de ver você desse jeito. Diz Rosa ao abrir a porta do meu quarto.
-Me deixa em paz Rosa. Falo com os olhos grudados no vidro da janela.
-Você está depressiva.
-Não estou depressiva.
-Você está assim há dois anos, você precisa de um psicólogo.
-Não preciso de um psicólogo.
-Você esta assim desde que viemos morar aqui no Rio de Janeiro!
-Quando Enrico volta de viagem? Pergunto tentando desviar o assunto.
-Hoje.
-Ótimo. Digo com uma expressão entediante no rosto -Vá cuidar das suas coisas, sua obrigação é cuidar da casa e não bancar a minha mãe.
Rosa me olha surpresa e em seguida sai do quarto.

***

Deitada entre os cobertores, tento ouvir uma música relaxante.
-Ana abra a porta. Diz Rosa batendo na porta três vezes.
-O que você quer? Pergunto com certa hostilidade.
-Trouxe o seu café.
-Não estou com fome.
Empurrando a porta, Rosa entra segurando uma bandeja com torradas e suco de laranja.
-Você precisa comer.
-Emily já acordou?
-Está no berço. Diz ela, colocando a bandeja em cima da cama. -Ela sente sua falta.
-Estou tentando ser uma boa irmã.
-Eu sei querida, ela sabe disso, mas primeiro você precisa cuidar de você.
-O que eu posso fazer? Enrico chega hoje do Nepal, ele não me deixa fazer nada, não me deixa sair.
-Estive pensando em deixar você levar Emily no parquinho aos sábados à tarde no lugar da babá.
-Sério? Pergunto surpresa.
-E o melhor de tudo é que o Sr. Enrico não precisa saber.
-Ta. Digo com um sorriso meio turvo. Meu primeiro sorriso em séculos.

Passando aqui para agradecer meu primeiro leitor #Lucas Gomes. 😍😍Graças  a Vc minha história criou vida😃
Leitores essa história vai prender Vcs!

Felizes Para Sempre?Onde histórias criam vida. Descubra agora