I Won't Given Up on You

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Talvez o casamento não estivesse indo de mal a pior, mas nos últimos três anos, Cristina aprendeu como se rodear de indiferença graças à dita cuja do próprio marido. Enquanto ele amolecia, ela endurecia avidamente. Estava novamente no quarto, enfurnada nas próprias e quase esquecidas memórias do casamento. Ela dedilhava cegamente as notas de sua música de noivado, a qual cantara para os convidados e, em especial, para ele. Não precisava olhar partituras, letras, nada. Como podemos ter guias para fazer aquilo da qual vivemos para fazer? As músicas eram sua válvula de escape, quando ele lhe dava nos nervos, ela ficava prestes a explodir, seu último recurso eram as próprias recordações.

E nós passamos mal e bons momentos...

Mas seu amor incondicional esteve sempre em minha mente...

Você esteve lá desde o começo para mim...

E seu amor sempre foi verdadeiro como pôde ser...

Um suspiro. Um longo suspiro entristecido abandonou a garganta da cantora cuja tinha a mente assaltada por memórias felizes com ele, algumas até inventadas. Retomou o foco, e continuou, com outra melodia.

Não há nada para mim aqui nessa estrada sem graça.

Não há ninguém aqui, pois a cidade dorme.

E todas as lojas estão fechadas...

Não consigo evitar pensar nos momentos que tive com você.

Fotos e algumas lembranças terão que me ajudar a seguir.

Sobre o colchão do casal, jaziam momentos capturados por ela em suas viagens pelo mundo. As fotos deles apaixonadamente juntos, despercebidamente, passavam a imagem de que eram felizes e apaixonados. Quem os dera que ainda fossem. As fotos foram tiradas há cerca de quatro anos, quando estavam em Paris, na França e algumas em Milão, na Itália. Cristina deixou o instrumento de corda de lado e tateou algumas das fotos, como se seu toque sobre o momento capturado a ajudasse a lembrar do quão eram felizes. Uma das fotos era simplesmente encantadora. Ela o beijava na bochecha, com o amor transbordando pelos poros, enquanto ele olhava para a câmera, sorrindo lindamente, expondo aquelas belas covinhas, os olhos verdes reverberando e um sorriso verdadeiro, além de alinhado e perfeito. Para alindar ainda mais a cena, a torre Eiffel decorava a paisagem ao fundo deles. Naquela tarde amena de junho, eles tinham a prova concreta de que já foram felizes...

Por que se afastaram tanto?

Essa pergunta assombrava-a desde que as visitas às fotos começaram a ficarem constantes, cerca de dois anos e meio, mais ou menos. Seu telefone anunciou, num toque alegre, que acabara de receber uma notificação de SMS. Cristina não tardou a lê-la.

Desculpe-me, eu adoraria poder estar aí com você. Mas aconteceu um problema aqui no estúdio. Talvez eu chegue de madrugada, não me espere acordada.

– M.

Ah, claro que sim! Cristina não conseguiu engolir aquela desculpa nem se ela estivesse granulada. A primeira coisa que fez foi ligar para Zacky, um dos guitarristas da banda, e confirmar a desculpa de Matthew. Ele confirmou. Logo após, houvera sido o baixista da banda, Johnny. A mesma resposta. Ligou para Brian, o outro guitarrista, e ele também dissera a mesma coisa. Depois de mais de cinco telefonemas, todos confirmando o problema do estúdio, ela desistiu. Ainda tinha desconfianças interiores, mas resolveu espantar o pensamento e procurar algo para fazer.

Depois de um banho longo e relaxante de banheira, movido a vinhos, velas e músicas da década de 80, a morena vestiu-se com um conjunto casual que se compunha de uma calcinha em estampa de lacinhos e uma camiseta branca de seu marido, respectivamente, uma camiseta com o número 74 preto, com mangas médias e pretas, que nela ficava um curto vestido largo. Resolveu ficar descalça e se arrumou mais devidamente, repondo seu pingente com as iniciais M&C, do qual foi um presente de namoro, e ainda amava a jóia tanto quanto o primeiro dia em que a recebeu. Certificando-se desnecessariamente de que estava sozinha na casa, a morena levemente levantou a camiseta do marido, a fim de encarar sua barriga.

I Stay Here With YouOnde histórias criam vida. Descubra agora