O Homem Da Minha Vida

1. Sob Uma Nova Perspectiva

Notas no final do capítulo.

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Eu não esperava que isso acontecesse.

Sinceramente não esperava. É totalmente ilógico e contraditório, essa situação pela qual estou passando agora. E foi exatamente o que tinha me dito, muitas e muitas vezes, que não iria fazer nunca. E ainda dei uma lista de motivos.

Porém, acho que minha natureza sensível deve ter abalado minhas estruturas um pouco, com tudo que aconteceu. Ou melhor, com esse 'quase nada' que aconteceu. Eu acho que simplesmente sou assim. Deve ser por isso que minha vida é uma merda.

- E aí? - ele fala, com uma cara de quem não sabe de 1% do que se passa na minha cabeça. E espero que não saiba mesmo, pois o que estou sentindo não é algo que eu gostaria de falar. Não. Nunca.

- Oi... - digo, desviando o olhar e olhando para o longe, para a imensidão do céu. Hoje estava nublado, que ironia. Uma dia nublado para acontecimentos nublados. Que ótimo.

Essa só foi uma das nossas várias 'interações' sociais um com o outro. E cara, eu sempre olhei para ele com olhos de quem nunca sentiria nada, de que nunca direcionaria e muito menos nutriria sentimento algum por ele. Mas, como o mundo dá voltas e a vida é cheia de ironias, acordo nesse dia vendo ele com um novo olhar. Sob uma nova perspectiva. E isso é algo que não deveria acontecer.

Só que, a cada dia que passa, isso cresce dentro de mim. E, como muita gente já deve saber, não dá pra simplesmente nos afogarmos em um sentimento forte como esse, ou dá? Talvez. Tomara. Pois hoje, não quero nem olhar para aquela cara dele, e saber que, haja o que houver, nunca ficaremos juntos. Mais e mais me afundo nisso.

- Marcelo! Você vai se atrasar, acorda! - minha mãe grita, mal sabia ela que eu já estava acordado. Mas, ela foi capaz de me tirar desse devaneio interminável, e me fazer levantar para viver, ou pelo menos fingir, essa vida social e escolar de um garoto de 16 anos, pelo menos um pouco normal. Pois bem, que seja.

Levanto, e sigo a rotina. Ir ao banheiro para tomar banho, escovar os dentes, e etc. Ah, passar bem longe do espelho também faz parte. Mas acabo passando por perto e dando uma olhada de soslaio, vendo a reflexão do que eu sou. Um idiota. Um idiota que se deixa levar por coisas que não fazem o menor sentido.

Terminando de me arrumar e colocando a mochilas nas costas, passo pela sala, despedindo de minha mãe, que me responde com um "Toma cuidado, te amo.". Minha relação com ela não é das mais íntimas, e eu quase nunca converso com ela sobre meus sentimentos. Não sei, me sinto desconfortável. Mas ela se esforça muito, e esse é um dos motivos para eu respeitar tanto ela. Afinal, criar um filho sozinha não é para qualquer uma.

Enfim saio de casa, colocando uma música qualquer para tocar nos fones, e vou em passos largos para a parada de ônibus. Minha mãe não estava mentindo, eram quase 7h30 da manhã, eu realmente iria me atrasar. Aliás, já estava atrasado. Só me resta esperar que o ônibus colabore, e não demore tanto. Por favor.

Dez minutos se passaram até o ônibus escolar aparecer. Eu entro correndo, e vou me sentar no fundo, passando rapidamente pelos alunos igualmente atrasados, que estavam sentados impacientemente. Sento e olho pela janela, a pensar. Meu coração se acelera com o pensamento de ver ele. E a imagem das ruas e casas passando por mim em uma alta velocidade não exatamente ajuda. Me faz pensar. E esse é o problema, muitas das vezes. Eu penso, penso muito, mas não coloco pra fora nem 1% do que passa na minha mente. Sou uma pessoa calada. Com uma mente extremamente barulhenta. Como que guardar para si tudo o que você sente pode fazer bem?

Ao chegar na escola, me surpreendo ao ver o William, "ele", sentado em uma das mesas, aparentemente cochilando. 'O que será que aconteceu?', me pergunto. Não é todo dia que vemos alguém dormindo na escola. Ando cuidadosamente para perto dele.