7 Sombras

Capítulo 5

      A manhã depois da festa foi tensa. Até respirar fazia a minha cabeça doer e eu demorei 10  minutos pra reconhecer o lugar onde estava. Era a casa de Melissa, ela estava acordada e deitada no chão.

     -Eu estava muito bêbada ou você estava mesmo ficando com Gabriel? -Perguntei enquanto tentava levantar.

     -Você estava bêbada pra caralho, mas eu fiquei com ele mesmo. - Ela fez uma pausa dramática e continuou: - Mas não conta pra ninguém, você sabe que todo mundo ia me odiar.

      -E Pedro e Sofia estavam mesmo se pegando? - As lembranças da noite anterior estavam voltando e essa era a pior de todas.

     - Sim, você muda de assunto rápido garota. - Ela disse enquanto me abraçava com pena. - Vamos. Bernardo, Lorena e Sabrina estão na cozinha conversando com os meus pais.

       Melissa tem os pais mais incríveis do mundo, eles andam de moto, comem porcaria o dia inteiro e acham que ela tem que aproveitar a adolescência. Infelizmente, para uma mera mortal como eu a adolescência é só uma fase de preparação para vida adulta.

      -Clarisse, nós ficamos tão felizes por você ter começado a aproveitar a vida. -Disse Richard, o pai de Melissa, quando eu me sentei à mesa com eles.

      -Ah, não foi um bom começo. - Eu murmurei desanimada.

      -Ressaca passa, querida. - A mãe dela respondeu.

      -Acho que ressaca não é o problema, tia. - Bernardo disse depois de engolir um comprimido, acho que a ressaca também estava matando ele.

      -Ah não, eu já disse pra não me chamar de tia, eu me sinto uma idosa, me chama só de Fernanda. - Ela o repreendeu. - Mas, me contem o que aconteceu de tão ruim ontem.

      Eu fiquei com vontade de chorar, mas chorar iria fazer a minha cabeça doer mais ainda.

      -Pedro e Sofia ficaram ontem na festa, mãe. -Melissa disse, ela provavelmente percebeu que eu não estava em condições de responder.

      - Pedro é o garoto que você gosta? - Ela perguntou e eu fiz que sim com a cabeça.

      -Puta merda. - O pai dela respondeu com um olhar solidário.

     -Tentem ser pais normais e parem de xingar, é inapropriado. - Melissa brincou.

      -Ai meu Deus, meus pais vão me matar. - Eu choraminguei quando lembrei que não havia dito nada sobre dormir na casa de alguma amiga.

      -Calma, gata, quando a gente percebeu que você esta bêbada demais ligamos para os seus pais e avisamos que você ia dormir aqui, porque era mais perto. - Sabrina disse como se fosse óbvio, mas eu nunca ia à festas, e nunca imaginei que fosse ficar bêbada.

      -Na  verdade, eu liguei. Sabrina estava muito ocupada quase sendo quase engolida por um garoto horroroso. - Lorena lançou um olhar sarcástico para a irmã.

      -CLARISSE! - Bernardo gritou, mesmo estando na minha frente.

       -Não grita, cara, minha cabeça tá explodindo. - Eu murmurei ainda sonolenta.

       -Você agarrou aquele garoto na festa ontem. - Qual é o nome dele mesmo, gente?

       - Noah. - Melissa respondeu com a boca cheia de cereal.

       -Não fala de boca cheia, coisinha. - Fernanda repreendeu a filha.

       De repente a cozinha ficou pequena e o ar era escasso. Era mais uma coisa pra eu me preocupar. Eu beijei um colega de infância que provavelmente tinha namorada. Minha melhor amiga beijou o garoto que eu amava. E a única coisa que eu consegui dizer foi:

      -Que merda.

       -Eu estou tão orgulha de você, Clarisse. - Fernanda disse e me abraçou.

       -Deus, aquela foi a pior noite da minha vida. - Choraminguei.

       -No começo você estava tão animada, dançando, pulando e bebendo. Depois eu não lembro muito bem porque fiquei bêbada. - Sabrina comentou.

       -Vocês ficaram bêbados, eu não, no final da festa Clarisse chorou horrores, eu tive que ligar pra minha mãe buscar a gente, e foi um inferno colocar vocês dentro do carro. - Melissa reclamou. 

      -E o Naoh falou comigo depois do beijo? - Perguntei, torcendo para a resposta ser não.

       -Ah, Clarisse, foi só um beijo. Foda-se.- Sabrina resmungou.

       -A festa estava lotada, e eu tinha que tomar conta de vocês, nem vi o Noah lá - Melissa respondeu.

       Starships da Nicki Minaj começou tocar e eu não sei como Bernardo conseguiu esquecer a ressaca e cantar: ''Let's go to the beach, each. Let's go get away, they say, what they gonna say?''. Ele cantou até perceber que era o celular dele que estava tocando.

       -Vish, é a Sofi ligando. - Ele disse e perguntou olhando diretamente pra mim: -Atendo ou não?

       -Não. - Respondi com a voz rouca, eu estava conseguindo suportar, mas naquele momento tudo o que eu queria fazer era chorar. 

       -Vamos gente, vou levar vocês pra casa. - Disse Fernanda pegando as chaves do carro.

       No caminho pra casa, o barulho dos carros fazia a  minha cabeça explodir, os vendedores de mate na praia também me deixaram com vontade de morrer. Eu era quem estava sofrendo mais, eles bebiam sempre, mas aquela era a primeira (e última) vez que eu bebia. 

      -O que será que tá acontecendo lá? - Sabrina perguntou apontando para a rua da casa/mansão de Gabriel que estava com pelo menos 6 carros de policia. 

     -Os pais dele devem ter chegado mais cedo, viram a bagunça da festa e o mataram. - Lorena respondeu rindo. A risada dela era irritante, e só piorava a minha dor de cabeça.

      -Para de rir, menina. Tô morrendo de dor de cabeça. - Murmurei olhando com ódio pra ela.

      -Coitada dela, tá quase morrendo. - Bernardo, que estava no banco da frente, virou para trás e me olhou com deboche, meu lado infantil me fez mostrar a língua pra ele.

      Quando eu entrei em casa, já estava preparada para ouvir um longo sermão dos meus pais, mas eles estavam olhando preocupados para a televisão e nem perceberam a minha chegada.

     -O que aconteceu gente? - Perguntei desconfiada.

      -Aconteceu alguma coisa com aquele seu amigo, Gabriel. - Meu pai respondeu, eu não sei de onde ele tirou que ele era meu amigo, e quando eu ia dizer isso para ele uma jornalista começou a falar e minha mãe aumentou o volume da TV.

      ''Nesta madrugada Gabriel Campos de 16 anos, filho do famoso empresário Joaquim Campos, faleceu após misturar anti-depressivos e álcool em uma festa em sua residência.''

      Eu escutei aquilo e corri para o banheiro para vomitar, não sabia se o enjoou era por causa da ressaca ou por causa daquela notícia.