Primeira e última

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ÁREA DA PSICOLOGIA

Angeles esperava seu próximo paciente, o último do dia novamente: German Castillo.

Usava uma saia justa como todas as outras, mas dessa vez era preta com uma blusa de seda branca por dentro. A roupa ficou ainda mais invejável com sapatos de salto agulha.

O homem entrou na sala sem bater, pois a secretária já tinha avisado que ele iria entrar. German estava com um terno impecável, mas dessa vez vestia seu jaleco por cima.

– Boa noite. – Ele falou calmo.

– Boa noite.

Ele ia se aproximar para cumprimentar ela apenas com um aperto de mãos, mas Angeles acabou deixando um beijo em seu rosto, atitude que German considerou infantil e fofa ao mesmo tempo.

– Bom, hoje nós vamos falar sobre seus problemas amorosos e da sua filha. – Ela afastou o corpo do dele e sorriu.

– Isso é sério? – Perguntou já ficando um pouco grosso.

– Claro que é. Você realmente achou que eu ia fazer joguinhos pra ver como você está? – Ela riu.

– Na verdade, sim. Ou algo do tipo. – Ele sabia que contar tudo para ela seria demais, mas também sabia que era a única forma dela o considerar apto para operar.

– Vamos, Castillo. Não vai doer. – Ela apontou para o sofá.

Ele sentou-se e observou a sala, como de costume. Angeles relaxou o corpo em uma poltrona e cruzou as pernas, observando o paciente.

– Por que é pai solteiro? – Perguntou tranquilamente. – E eu quero toda a história.

German suspirou e sentiu o ar faltar por um rápido momento, deixando-o mais nervoso ainda.

– Eu estava fazendo a faculdade de medicina na época. – Ele começou falando um pouco baixo. – Nunca tive preocupação com nada, só com os meus estudos. E então apareceu uma mulher um pouco mais velha, talvez apenas seis anos ou mais. Disso eu não lembro.

Angeles escutava atentamente cada palavra que saía da boca dele, ansiosa para saber o que tinha acontecido com aquele homem no passado.

– Ela era minha professora na universidade e eu sempre a achei bonita. Bem... – Ele suspirou para continuar. – Um dia o carro dela quebrou e eu ofereci carona, porque antes eu era bem mais amigável. E quando chegamos, ela me convidou para entrar e eu fui, como um idiota que não prestava atenção em nada, muito menos nos detalhes da casa que deixavam claro a presença de outro homem. Só que ela me disse que era solteira, então eu fui e nós dois transamos no quarto dela, onde tinha a foto de um casal, mas ela me contou que era seu irmão.

– Ela era casada e não contou? – Angeles perguntou baixo.

– Justamente. – Ele riu ironicamente. – E então eu comecei a sentir coisas por ela, mais fortes do que você possa imaginar. Nós dois ficamos sendo amantes por quase um ano e eu achando que era o namorado, o único. Até ela me falar que estava grávida e eu era o pai. Logo depois disso, falou também que sempre tinha sido casada e eu era só um brinquedinho. Um brinquedinho que decidiu cuidar da criança, mesmo sem experiência.

– E o marido dela?

– Ele ficou sabendo e depois de várias brigas, aceitou me dar a criança quando nascesse. – German passou a mão pelo cabelo, nervoso. – Como eu tinha muito dinheiro, contratei uma das melhores babás e todos os dias, chegava em casa já de noite. Eu dispensava a babá e cuidava dela, que era muito fofa e comportada, ou seja, o contrário do que eu pensava antes de ser pai. – Ele acabou rindo.

– Você ainda soube da mulher?

– Não. – A voz dele saiu firme.

– E o nome dela?

– Priscilla.

Angeles sentiu certo incômodo ao escutar esse nome, arrumando-se na poltrona.

– E da sua filha? – Sorriu.

– Violetta. – Ele falou orgulhoso. – Violetta Castillo.

– Você se dedica muito a ela, não é? – Ela agora não tinha mais perguntas para convencer de que ele estava em um ótimo estado para operar. Agora só tinha curiosidades sobre a vida pessoal dele.

– Muito. – Ele falou baixo. – Ela e o meu trabalho são tudo pra mim. As únicas coisas que me fazem feliz. – Pensou um pouco. – E sexo.

Angeles acabou rindo e balançou a cabeça em reprovação, achando aquele comentário muito safado de primeira, mas percebeu que pensava igual. Para ela, existiam apenas Max, seu trabalho e sexo.

– E você? – Ele perguntou, relaxando as costas no sofá. – Quero saber sua história.

– Não tem muito pra saber não. – Ela fez um coque rápido e bem feito no cabelo, deixando o pescoço chamativo visivelmente exposto. – Meu pai abandonou minha mãe, ela se casou com o Max pouco tempo depois e quando ela morreu, ele se tornou meu pai e meu melhor amigo.

German ficou boquiaberto. Uma mulher tão linda só poderia ser filha de Vivian Carrara. Ela era a melhor amiga de sua mãe e foi assim que German conheceu Max e conseguiu entrar como neurocirurgião chefe do HCT. Óbvio que sua inteligência invejável tinha sido o fator principal, mas Max também deu ótimas indicações.

– Você é filha da Vivian? – Ele perguntou curioso.

– Sou sim. – Ela sorriu fraco ao lembrar da mãe. – Conheceu ela?

– Ela era melhor amiga da minha mãe e foi assim que eu conheci Max. – German riu baixo. – Eu nem tinha terminado a residência e ele já guardou uma vaga pra mim no hospital.

– Uau! – Angeles bebeu um copo de água.

German observou os lábios dela tocarem na borda do copo e respirou fundo, pressionando uma perna na outra para tentar conter a excitação.

– Agora nós vamos para aqueles joguinhos. – Ela levantou e riu, pegando uma venda e indo para trás do sofá em que German estava sentado. – Eu vou cobrir seus olhos e você vai descrever o primeiro cômodo que vier em sua mente, detalhe por detalhe.

Ela debruçou-se um pouco sobre o sofá e amarrou a venda nos olhos dele. German conseguia escutar a respiração ofegante de Angeles em seu pescoço, quase o enlouquecendo. E foi exatamente nesse momento que ele soube como aquela mulher o excitava e como ele a queria e desejava cada centímetro do seu corpo.

Ele segurou o pulso dela, impedindo-a de se afastar. Mesmo com a venda, German ainda podia saber de todos os movimentos que ela fazia.

Ambos ficaram certo tempo em silêncio, até ele começar a guiar ela, dando a volta no sofá. Ele continuou sentado e descruzou as pernas, abrindo-as um pouco e descendo a sua mão até segurar a de Angeles. Ela entendeu tudo perfeitamente bem e o encostou no sofá, sorrindo. Sentou-se sobre ele lentamente, dobrando ambas as pernas ao lado das dele. Ele soltou a mão dela e a apoiou na cintura finíssima, sentindo o tecido macio da blusa de seda.

– Eu quero ver você. – A voz dele saiu mais rouca que o normal e ela soube que ele não estava pedindo e sim mandando.

Ela sorriu e tirou a venda dos olhos dele, que deixavam claro a excitação, agora também visível no volume da calça. Aproximou a boca do pescoço dela e começou a beijá-lo lentamente, sentindo unhas femininas arranharem com calma a sua nuca.

– Que romântico, nosso primeiro beijo vai ser no primeiro sexo também. – Ela brincou e mordeu a orelha dele.

– Primeiro e último. – Ele a olhou nos olhos.

It Must Have Been LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora