05 de março de 2000.
Querido Senhor L.
Ontem foi meu aniversário! Já se passaram cinco anos desde a última vez que escrevi para você. Muitas coisas mudaram, outras nem tanto. Finalmente, cheguei à Universidade. Em dois anos, concluo a Faculdade de Jornalismo. Sou uma das melhores alunas e estou estagiando num jornal de circulação local. Eu continuo a ver você, mesmo que esporadicamente, pois nossos prédios ficam distante um do outro.
Durante os três anos de ensino médio, você fez questão de esquivar-se de mim. Isso machucou muito, senhor L. Você conseguiu machucar meu ego, incrivelmente. Durante três longos anos, achei-me a garota mais infeliz e feia do mundo. Não bastasse toda a humilhação que passei nos anos do ensino fundamental, tive que vê-lo desfilando com uma menina diferente, de tempo em tempo.
Seu desprezo conseguiu a façanha de fazer fechar-me para outras possibilidades. Literalmente, passei três anos da minha vida respirando as sobras que você me dava. Isso foi humilhante, senhor L. Perdi a oportunidade de conhecer outros garotos e de diverti-me. Por outro lado, foquei tanto nos meus estudos, que arrebentei no vestibular. Passei para cinco universidades diferentes.Respirar ares novos foi muito bom para mim. Quando completei 18, parte de mim já havia se conformado de que você nunca iria me dar uma chance, senhor L. Foi, então, que conheci um calouro da matemática e resolvi dar uma chance para ele. Em três meses, começamos a namorar e perdi a virgindade. Em algum momento de minha vida, teria que acontecer. Foi diferente do que eu imaginei. Passei praticamente minha vida a sonhar que dividiria este momento com você. Mas, não foi ruim, sabe.
Ele, meu namorado, é um sujeito bacana, meio desligado do mundo real. Passa mais tempo calculando e desvendando mistérios matemáticos do que comigo. É daqueles tipos que evita muito barulho, o que dificulta um pouco as coisas entre a gente.
E, quanto a você, senhor L? Como anda seus relacionamentos? Pelo o que sei, não encontrou uma namorada ainda. Sim, sou egoísta, e ainda acredito que, em algum momento, você vai me dar uma chance.
Senhor L., vou parar por aqui! Tenho uma entrevista para o cargo de estagiária numa rede de televisão e, como desejo muito a vaga, preciso ficar apresentável.Da sempre sua, S.
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Cartas que nunca enviei
Short StoryCARTAS QUE NUNCA ENVIEI reúne sete escritoras talentosas de diferentes gerações que por meio de contos, mostram que em uma unica carta ou até mesmo várias, podem haver grandes sentimentos sendo eles secretos ou não que expressam toda subejtividade d...