Capítulo Único

40 5 4
                                    

Do latim: spes, substantivo feminino. Sentimento de quem vê como possível a realização daquilo que deseja; confiança em coisa boa; a segunda das três virtudes teologais, ao lado da fé e da caridade; expectativa, espera, aguardo. Este é o significado do dicionário para a palavra esperança – mas isso não representa em nada o que Pierre sentia naquele momento. Era como se seu coração estivesse desolado, acabado: destruído. Só podia estar – porque ele batia tão forte que o sangue bombeava em todo seu corpo como uma ginasta mergulha nas águas mais atordoadas: deselegante e perdidamente. Ele batia forte por Pietro – por ele e mais ninguém.

Não havia esperança, naquele momento – não havia nada além da dor. Desde a morte de seu pai, décimo quinto rei da França, não havia nada além de dor. E dentro da dor, havia Pietro – seu professor de francês e latim. Ele era como uma pequena ponta grande do gelo que se coloca em cima de machucados, ele era, acima de tudo, aquilo que o ajudava a se manter são. Ele era tudo para o menino mais jovem. E, mesmo sabendo que nada ocorreria, era algo importante e doce para Pierre – para ele e mais ninguém.

— Pierre...

Como Pierre estava fodido! Estava apaixonado – definitiva e totalmente apaixonado –, sem chance de colocar outra explicação. E a voz dele, e o toque dele, e o hálito dele; ele estava apaixonado por ele. Estava apaixonado e não havia como mudar isso. Estava apaixonado e, bem, não havia como descrever isso. Pierre só estava. E não sabia como havia deixado aquilo se rebaixar tanto ao ponto de implorar daquele jeito para ser fodido pelo Pietro. É, ele havia implorado. Perfeita e totalmente destruído, ele havia implorado. Pedido, agachado – se humilhado. E não havia o que se fazer.

— Pierre, me desculpa.

Pronto.

— Pierre, eu não... posso fazer uma coisa dessas.

Pronto.

— Pierre, pare de chorar... ou eu... vou chorar também.

Pronto.

Estava tudo destruído. Ele estava destruído. Havia se perdido. Perdido a esperança. E não havia como recuperá-la. Pronto. Pietro havia conseguido – havia o destruído de vez; numa única e total facada. Num único e total gesto. E, pronto!, tudo havia se desmanchado – todos os passos que ele aprendera como Rei: não implorar, não chorar... Pronto! E naquele momento Pierre teve seu desabo. Caiu. Chorou. Pronto. Tudo cessou. Pronto! Ele parou. Pronto. Ele cansou. Pronto. Pierre subiu. Pierre se levantou. Pierre, então, pela sacada, se jogou.

... Pronto.

— PIERRE! — Por fim, gritou.

E a esperança...

Pronto!

...acabou.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Aug 28, 2016 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Spes. Seps.Onde histórias criam vida. Descubra agora