França – 1941
Querida Ellie,
Um ano se passou desde a primeira carta. Como prometido, eu não me esqueci de enviá-la em mais uma primavera. Às vezes tenho vontade de desistir de tudo e voltar para casa, mas sei que não será possível. Infelizmente o sistema é cruel com pessoas covardes, e eu me sentiria péssimo se essa fosse a sua visão em relação a mim.
Infelizmente a guerra não cessará tão rápido como eu gostaria e consequentemente, minha saudade por você aumentará. Mais uma vez voltei ao passado. Impossível não se lembrar de Ellie e Josh quando chega a primavera. Lembrei-me de quando você aceitou sair comigo para um café. Fiquei nervoso e empolgado. O colarinho da minha camisa parecia me sufocar. Mais uma vez você estava deslumbrante, uma saia godê vermelha com uma camisa branca. Laços de cetim em sua cabeça, e o rosto mais delicado que eu já havia visto.
Tudo que eu fazia, para mim, nunca foi o suficiente para lhe conquistar. Foi quando em uma de suas apresentações ao invés de flores, lhe entreguei uma caixinha de chumbo, com uma única gérbera dentro. Não tinha muito dinheiro para lhe dar joias, nem brilhantes. Por isso dei a você chumbo. Era simples, mas era de todo o coração.
Ao final do café, eu te acompanhei até em casa como todo e bom cavalheiro. Despedi-me sentindo meu coração se partir e mais uma vez, e com o gosto amargo da covardia por não conseguir tomá-la em meus braços. Porém, mais uma vez você me surpreendeu e ao invés de beijar minhas bochechas, selou seus doces e calientes lábios aos meus. Eu estava no paraíso e demorei um pouco para voltar.
Sua expressão era de total decepção, provavelmente acreditara que eu não havia gostado. Quando você saiu com o rosto baixo, meus instintos gritaram. Puxei-a e dei-lhe um beijo de tirar o fôlego, modéstia parte. Você sorriu o que me deixou satisfeito e fez-me pensar em você todas as noites. Eu estava apaixonado.
Oh Ellie! Minha doce Ellie! Só Deus sabe a saudade que sinto de sua pessoa. Toda primavera é uma tortura. Revivo nosso primeiro encontro, e nosso primeiro beijo, um ano depois. Pergunto-me todos os dias o que anda fazendo, espero que esteja feliz.
Eu estou bem, mas preocupado. Creio que você já deve saber que o Japão atacou as bases militares norte-americanas de Pear Harbor. Neste meio tempo tivemos mais uma vitória conquistando o norte de diversos países. Acredito que até ano que vem alcançaremos nosso objetivo, e rezo, para que então, a guerra esteja terminada. Uns até dizem que será tão grande quanto à primeira, mas eu espero que termine antes.
Gostaria que hoje em especial, ao ler essa carta, fosse até o Berliner Ensemble, e se sentasse no segundo andar na terceira fileira, quinta cadeira, em frente ao palco. Era de lá onde eu a observava. Era lá, onde eu escondia toda a minha admiração por você.
Peço mais uma vez, jamais se esqueça de mim e do quanto eu te amo. Prometo que em breve estaremos juntos, e quem sabe, poderemos conseguir aquilo que por muito tempo tentamos e que quando conseguimos, perdemos. Prometo, quando voltar, encher nossa casa com gérberas de todas as cores para que sempre sorria.
Peço, por fim, Ellie, que quando as outras estações lhe judiarem, lembre-se que em cada ano, sempre haverá uma primavera, e que em cada primavera, sempre haverá uma carta.
De seu eterno apaixonado, Josh”.
Suspirou e soluçou em voz alta. Seu coração pulava dentro do peito e toda a sua dor se desmanchava em lágrimas. Não ousou segurá-las, pois não tinha forças. Toda vez que lia a carta de Josh ela voltava ao passado e se lembrava de todos os momentos. Era uma recordação boa de um grande amor que se foi pela guerra, mas que se mantém vivo dentro dela.
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Cartas que nunca enviei
Short StoryCARTAS QUE NUNCA ENVIEI reúne sete escritoras talentosas de diferentes gerações que por meio de contos, mostram que em uma unica carta ou até mesmo várias, podem haver grandes sentimentos sendo eles secretos ou não que expressam toda subejtividade d...