Ray estava se acostumando com essa coisa de " Teletransporte ". Já conseguia se controlar o suficiente para dar um salto metros a frente, e tudo isso sentindo apenas uma fisgada na barriga, quase como um beliscão. Estava agora usando-o para pular de esquina em esquina, escondendo-se atrás dos carros parados na rua.
- Nada, Raymond ?
- Nenhum sinal, ninguém de Avalon na área. - O garoto levou a mão até o fone, sussurrando, enquanto olhava para os lados.
- Continue de olho, o radar detectou uma pico de energia.
Ray desligou o fone e continuou com seus " pulos ". Não era tão cansativo quanto parecia, mas cada vez que pulava mais longe, tomava um tempo para recuperar sua respiração e continuava. Tinha sido assim desde o nascer do sol, era sua primeira missão e se sentia culpado por ter ido e deixado Maxy sozinho. Não tinha notícias do irmão desde que haviam chegado no Aero Porta-Aviões, mas sabia lá no fundo que ele estava em boas mãos.
Manhattan estava um só caos. Carros abandonados nas estradas, as vidraças estilhaçadas, casas explodidas e tudo sem nenhuma só pessoa nas ruas. Era como se todos os morados tivessem desaparecido em uma nuvem de fumaça e destruição, restando apenas resquícios de suas antigas vidas. Talvez se fosse na direção certa, chegaria em sua própria casa, mas não agora.
- Continuem ! - Ray parou assim que ouviu a voz, dando ordens. - Continuem tirando esses carros da frente !
O garoto se encostou na parede, tomando o máximo de cuidado para não fazer barulho, e assim que se sentiu seguro olhou para a estrada de onde vinham as ordens. Aparentemente os soldados estavam limpando as ruas, colocando os carros na calçada e deixando a passagem livre para qualquer coisa passar. Ray colocou a mão em um dos bolsos de sua calça, puxando um pequeno quadrado dourado que cabia na palma de sua mão.
- Raymond, precisa voltar agora.
- Não posso, não agora. - Ray sussurrou, colocando o cubo dourado na parede, onde ele se grudou. - Estou vendo algo...
- Não é um pedido, é uma Ordem ! É Maxinne !
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Maya se aproximou lentamente do garoto, dando passos seguros mas cautelosos. Ele continuava sentado encostado na parede do Armazém de Armas, tremendo e chorando, mas sem dizer nada. Havia sangue no chão ao seu redor, e marcas de mãos em sangue no corpo do garoto: Braços, rosto, cintura, pernas, bunda. Seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar,
- Hey... - Maya começou, tentando parecer o mais gentil possível. - Qual seu nome ?
Ele não respondeu, continuou lá, sentado, fitando o nada. Parecia preso em sua imaginação, sem conseguir dizer nada, e a garota só conseguiu ver o corte em sua cabeça quando se aproximou ainda mais, ajoelhando-se em sua frente.
- Você precisa de ajuda, é sério. - O garoto não lhe deu ouvidos, continuando parado, quase como uma estátua doentia e manchada de sangue. - Precisa de um banho, de curativos e de um exame... vou chamar os outr-
Seu corpo foi levitado e preso em uma das paredes com tanta força que era quase como se uma mão a apertasse e prendesse, mas Maya já tinha passado por tanta coisa que só conseguiu dar uma careta de dor e ignorar. Era uma questão de tempo até ativar suas habilidades, mas não queria assustar o garoto, já parecia tão assustado que seu coração doía só de vê-lo.
- Ninguém... - Ele murmurou, sua voz trêmula entregava tudo.
Assim que o aperto em seu corpo cessou, Maya foi na direção do garoto, colocando seu jaleco nos ombros do garoto, que aceitou aquela peça. Seus dedos se agarraram no jaleco, puxando-o para cobrir seu corpo, mas o quê preocupava Maya era o corte em sua testa. Não parecia muito fundo, mas estava sangrando e todo cuidado era pouco com o crânio.
- Venha para minha cabine, precisamos fazer um curativo. - Ela estendeu a mão para o garoto, que segui-a.
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Não demorou muito até que a nave de Ray pousasse no Aero Porta-Aviões. Seguiu com seus passos rápidos pelo corredor central, de encontro ao Diretor Wayne, que também vinha na sua direção escoltado por seguranças armados. Assim que se encontraram, Wayne parou por um momento para fitar o rosto indignado de Ray.
- Vocês não conseguiram segurar meu irmão dentro de um quarto ? - Perguntou o garoto, rangendo os dentes. - Era só deixar ele lá até eu voltar !
- Seu irmão não é nenhum idiota. - Wayne seguiu, fazendo um gesto de mão para que os guardas se recolhessem. - Ele tem poderes, e muitos deles desconhecidos.
- Onde você vai ? - Ray seguiu-o mesmo sem saber.
- Uma das agentes o encontrou. - O Diretor respondeu, respirando fundo. - É melhor que você venha, parece que algo aconteceu com ele...
Os dois correram na direção dos quartos, descendo andares e mais andares até estarem no Nível 9, onde ficavam os laboratórios e os galpões de armas e equipamentos. A área estava um pouco vazia, o que não era de se admirar, já que a maioria dos cientistas estavam ocupados dormindo e descansando. A única luz vinha de um laboratório distante, e foi para lá que os dois de dirigiram.
Maxy estava sentado em uma maca, apenas com um jaleco cobrindo seu corpo, enquanto uma moça de cabelo castanho fazia um curativo em seu joelho. Seu rosto estava inchado, como ficava sempre que ele chorava, e tinha alguns hematomas roxos por seu corpo. Ray se aproximou silenciosamente, sentia-se tão culpado por ter deixado o irmão sozinho, deveria ter ficado com ele.
- TIREM ELE DAQUI ! - Maxy gritou, apontando para o irmão, que olhou para trás em busca da pessoa que o menor falava.
- Quem, Maxie ? - A moça perguntou, se virando na direção de Ray. - O seu irmão ?
- E-ele deixou de ser meu irmão quando... - O menor abaixou a cabeça, olhando para as próprias pernas.
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Just Two Souls
Fiction généraleAlguns dizem que não se pode mudar o futuro, mas isso não vai impedir Ray de tentar salvar seu irmão Maxy que está destinado a morrer para destruir Avalon - A Ilha Flutuante - que planeja derrubar cada uma das nações e comandar o mundo com sua alta...