30. KATHERINE

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Você só entende o quanto nossa existência é preciosa quando vê alguém que ama muito caminhar sobre a linha tênue que há entre a vida e a morte. São os segundos entre a parada do monitor cardíaco e as tentativas de ressuscitação que nos fazem entender o quanto determinados detalhes são insignificantes, se comparados ao nosso ente querido e ao desejo desenfreado de ter a chance de um último abraço, um último beijo, ou, no meu caso, uma chance de resposta.

Os paramédicos agem depressa. A contagem antes de usar o desfibrilador, assim como o pedido para aumentar a voltagem do aparelho e o barulho da sirene, fazem meus ouvidos e meu coração sangrarem. Meus olhos mal conseguem acompanhar toda a movimentação ao meu redor, porque eles só estão focados nele. Custo acreditar que tenhamos chegado a algo tão catastrófico, porque... não era para ser assim.

Nunca havia experimentado tamanha agonia e desespero, nem mesmo no fatídico dia em que meu pai me traumatizou. Tudo o que consigo fazer é chorar baixinho, enquanto tento segurar sua mão, embora me afastem.

Imploro a Deus por misericórdia, à medida que sua vida, literalmente, se esvai diante de meus olhos. Nenhuma palavra seria suficiente para descrever tamanha dor, desespero e agonia, assim como a completa sensação de impotência. Se eu pudesse... se eu eu pudesse trocaria de lugar com ele.

Por um momento, me pego observando a aliança em seu dedo. Nunca tinha parado para perceber que ele ainda a usava. Então, choro ainda mais. Choro porque me lembro do que ele disse quando aceitei ficar com ele. Ele queria ficar comigo até ficarmos bem velhinhos. Nós queríamos tantas coisas. Olho para ele, para os paramédicos ao meu redor, para mim largada ao chão e me pergunto quando foi que deixamos tudo ruir diante de nossos olhos.

Eu preferia muito mais vê-lo longe de mim e bem, ainda que meu peito rasgasse de saudades, do que tê-lo diante dos meus olhos como agora. Ele está quase... Céus! Isso não pode ser real.

Honestamente, agora, não quero explicações sobre o que aconteceu ou sobre tudo o que nos trouxe até aqui. Eu só quero, desesperadamente, ver as linhas no monitor cardíaco subindo e descendo. Quero a chance de responder que eu também nunca deixei de amá-lo, apesar de tudo.

Algumas horas antes

É a segunda vez que venho aqui. A primeira foi quando busquei refúgio no meu pai, após Benjamin me trair. A mansão é diferente quanto está completamente iluminada, é mais bonita. Consigo ouvir a música daqui. Jazz. Sempre foi o gênero musical preferido do Robert.

Aliso o vestido, depois de subir o lance de escadas até a porta principal. Lauren me emprestou uma peça, já que eu não tinha nada para uma festa chique. O vestido é verde escuro, longo e ajustou-se muito bem ao meu corpo. Confesso que achei as mangas levemente bufantes uma graça. Lucy me ajudou com a maquiagem e fez algumas ondas no meu cabelo.

Hoje é o baile anual da Companhia Thompson. Exclusivo para acionistas, fornecedores, colegas do ramo e os principais funcionários. E eu. Robert me convidou há alguns dias, respondi de imediato que não viria, mas parece que todos resolveram fazer um complô contra mim.

Mamãe e Rick decidiram fazer um jantar romântico no nosso apartamento e seria muito inconveniente se eu ficasse lá. Recorri a Lucy, então descobri que ela e Will foram convidados, já que ele tem uma parcela das ações da Underwood. Lauren e Bruce também receberam um convite, devido à parceria com a Construtora. Então, acabaram minhas opções e eu resolvi vir à festa. Além do mais, preciso ter uma conversa séria com Benjamin.

— Seja bem-vinda, senhorita Thompson. Fique à vontade — o recepcionista saúda-me.

É estranho ser reconhecida como uma Thompson. Eu nunca mais usei o sobrenome ou assinei desta forma, desde que meu pai partiu. Não queria mais nenhum vínculo com ele, nem mesmo meu sobrenome.

Primeiro Amor • Livro 1 | Série Por AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora